Os Guarani e Kaiowá do tekoha de Kurusu Ambá, cone sul do Mato Grosso do Sul, denunciam que a Força Nacional não tem envolvido indígenas e servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) na operação de busca às duas crianças indígenas desaparecidas na retomada da fazenda Madama, depois de ataque envolvendo 30 indivíduos armados e coordenado pelo arrendatário da propriedade, no dia 24 de junho. Com os indígenas, porém, a Funai segue fazendo incidências atrás de Geremia Lescano Gomes, de 14 anos, e Tiego Vasques Benites, de 12 anos. Na foto, indígenas em acampamento da retomada após ataque.
A operação para encontrar os garotos foi organizada com a participação do Ministério Público Federal (MPF), Operação Guarani, da Funai, Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal, além dos Guarani e Kaiowá. A presença dos indígenas nas diligências é uma das garantias do acordo firmado. Até a manhã desta terça-feira, 30, as crianças ainda não tinham sido localizadas.
De acordo com os indígenas, desde domingo, 28, a Força Nacional não segue até a sede da Funai, em Ponta Porã, para junto dos servidores federais e dos indígenas dar prosseguimento às buscas. Servidores do órgão indigenista confirmam a informação. A postura da Força Nacional teve início depois que fazendeiros cercaram o veículo da Funai na sede da Madama, no sábado, 27, iniciando um tumulto. No carro estavam dois Guarani e Kaiowá.
“Então a Funai começou a procurar com a gente, mas foi a Força Nacional que fez essa separação. Fazendeiros que foram nos ameaçar. Não a gente contra eles. Então agora não podemos procurar na Madama. Fica difícil de entender e as crianças ainda ninguém achou”, diz uma liderança que não identificamos em razão das ameaças sofridas.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal, deputado Paulo Pimenta, que chegou ao Mato Grosso do Sul logo após o ataque contra Kurusu Ambá, disse que torce “para que as duas crianças indígenas desaparecidas não tenham sido vítimas de massacre”. Conforme as lideranças Guarani e Kaiowá, os dois jovens conheciam bem o lugar e por isso temem pelo pior: que nunca sejam encontrados, tal como o cacique Nísio Gomes – assassinado em 2011, nunca teve o corpo encontrado pelas autoridades.
Guaivyry
Neste domingo, 28, quando um carro com giroflex ligado se aproximou de uma das retomadas Guarani e Kaiowá do tekoha Guaivyry, também no cone sul do estado, na fazenda Água Blanca, os indígenas acharam se tratar da Força Nacional, mas não era. Quando o veículo se aproximou do acampamento, quatro disparos foram desferidos contra os Guarani e Kaiowá.
“À noite, um bando cercou a fazenda e ficou a noite inteira mostrando armas, fazendo ameaças. Estão constantemente pressionando a gente. Não vamos sair, já está decidido”, afirma uma liderança indígena do Guaivyry.
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Imagem: Reprodução do Cimi