Em ofensiva paramilitar organizada por jagunços de fazenda em área indígena, Kaiowá foram alvo de tiroteio, mulheres da tribo foram espancadas e todos os pertences dos índios foram queimados
por Sarah Fernandes, da RBA
Um grupo paramilitar formado por pelo menos 30 homens armados ligados à fazenda Madama, em Kurusu Ambá, em Mato Grosso do Sul, atacaram 60 indígenas Guarani Kaiowá com tiros e fogo. Mulheres foram agredidas, pertences pessoais dos indígenas foram incendiados e duas crianças, de 11 e 10 anos, ficaram desaparecidas. Na manhã de hoje (26), a mais velha foi encontrada. A Fundação Nacional do Índio (Funai) vai iniciar uma ação de busca e a Força Nacional de Segurança já chegou ao local.
A fazenda, construída em uma área tradicional indígena já reconhecida pela Funai, foi ocupada pelos índios na madrugada de segunda-feira (22), em uma ação de retomada da área, devido à demora do Ministério da Justiça na demarcação do local como terra indígena. Os principais suspeitos do ataque são fazendeiros e arrendatários de terra do município, entre eles, o arrendatário da própria fazenda Madama, que vive no Paraná.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), esteve no local ontem e, acompanhado pela Polícia Federal Rodoviária, negociou com os posseiros da fazenda a retirada de seus pertences pessoais. Os indígenas permitiram, inclusive, que eles realizem a colheita do milho já plantado. O arrendatário já estava em negociação com o procurador da República Ricardo Pael, que também se dirigiu ao local, para negociar uma saída pacífica.
Devido à gravidade da situação, o deputado Pimenta solicitou ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o deslocamento da Força Nacional de Segurança para o local, que foi autorizada na madrugada de hoje. Os oficiais já chegaram ao município de Kurusu Ambá e estão neste momento reunidos com a Polícia Civil e com a Guarda Municipal. No grupo de indígenas atacados estavam idosos, crianças e mulheres.
“Se trata de um território indígena tradicional e ancestral, onde há uma fazenda que precisa ser desocupada para que os Kaiowá possam retomar o que é seu. Os indígenas estão há muito tempo convivendo com violações de direitos humanos, sem a demarcação da terra”, diz o missionário do Conselho Indígena Missionário (CIMI) Matias Rempel. “Esta região é um foco permanente de tensão. Nos últimos dez anos, foram assassinadas sete lideranças, quase uma por ano. Entre elas, dona Xurita Lopes, uma rezadeira de 74 anos executada a sangue frio na área da fazenda Madama.”
Novos ataques
Missionários e autoridades que trabalham no caso temem que a ofensiva paramilitar que atacou os indígenas possa se repetir em outras de terras em fazendas, retomadas pelos indígenas na quarta-feira (24), na chamada Tekoha (lugar onde se vive) Guaivyry, no município de Amambaí (MS).
Na noite de ontem (25), os indígenas do local comunicaram as autoridades que homens armados estavam chegando a propriedades vizinhas dos acampamentos. Tiros foram disparados por cima das moradias improvisadas, o que os Guarani entenderam como um aviso para saírem, antes de uma ofensiva mais violenta.
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Imagem: Deputado Paulo Pimenta (PT-RS) em reunião com os indígenas no local do ataque (Divulgação)