MAPA anuncia um dos maiores planos de desenvolvimento do Cerrado, mas na prática pode significar um grande retrocesso ambiental e social
Por Maura Silva
Da Página do MST
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), comandado pela ministra Kátia Abreu (PMDB-TO), lançou no último dia 13/06 o Plano de Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba, como é conhecida a região que engloba os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Porém, o que na prática foi anunciado como um dos maiores planos de desenvolvimento do atual governo pode significar um grande retrocesso ambiental e social para o país.
O Matopiba abrange 337 municípios e 31 microrregiões, num total de 73 milhões de hectares.
Do total da área deste “plano de desenvolvimento”, 90,9% são de Cerrado, 7,2% Amazônia e 1,64% da Caatinga.
Segundo o próprio MAPA, o principal critério desta delimitação foi embasado nas áreas de Cerrados presentes nos quatro estados.
Neste território estão localizados 745 assentamentos, 36 territórios quilombolas e 35 terras indígenas.
Denúncias da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e de diversas outras organizações chamam atenção para os inúmeros conflitos, contracensos e malefícios que a expansão do agronegócio irá causar nestas regiões.
Segundo a representante da Articulação CPT’s do Cerrado, Isolete Wichinieski, a área do Matopiba é uma das principais áreas do mundo em expansão na produção de grãos, sendo assim, controlada pelo agricultura industrial.
“A divisão do Matopiba é conhecida pelos extensos conflitos agrários. É uma delimitação territorial frágil, as comunidades assentadas, indígenas e quilombolas já sobrevivem sob tensão diariamente naquela região. Essa abertura e expansão do capital financeiro pelo governo, só vai aumentar o livre acesso do agronegócio, esmagando ainda mais a população que ali vive”, diz.
Conflitos no Cerrado
Um recente estudo, baseado em dados da CPT sobre conflitos no campo, feito pelo professor de geografia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Carlos Walter Porto Gonçalves, analisou o índice de conflitos em regiões de Cerrado.
Os números mostram que entre 2005 a 2014, do total de 11.338 localidades onde ocorreram conflitos no campo brasileiro, 39% aconteceram no Cerrado e em suas áreas de transição (onde o Cerrado se encontra com outros biomas).
Neste mesmo período, a Amazônia e suas áreas de transição registraram 38% das localidades em conflito.
Isolete também chama atenção para o consumo de água que, em tempo de escassez, tende a sofrer um aumento em toda região, causando incontáveis prejuízos à população local.
“O uso de água para irrigação, além dos desvios de aquíferos, será catastrófico para a mata e à população. Algumas dezenas de pequenos rios e córregos secaram no Cerrado, e se conhece a situação caótica de assoreamento e anemia em que se encontram grandes rios, como o São Francisco”, alerta.
Para ela, o discurso de possibilitar a ascensão social de pequenos produtores locais é apenas uma retórica. “O que se busca mesmo é o incremento da produção e da exportação agropecuária do país, fonte de lucro para os empresários do agronegócio”.
Em carta aberta, a CPT alerta à sociedade sobre os avanços do agronegócio no Cerrado com o discurso do desenvolvimento econômico, sem medir as consequências da acelerada e violenta destruição do bioma.
A entidade qualifica como um forte ataque desferido contra o Cerrado, que poderá acelerar ainda mais a destruição do bioma, que tem uma função vital para o país, por sua grande biodiversidade e, sobretudo, por dele se originarem as fontes das principais bacias hidrográficas do Brasil.