Por Thiago de Araújo, no Brasil Post
Uma postagem de uma aluna no Facebook expôs que o preconceito em suas mais diversas formas, como machismo, homofobia e racismo, seguem vivos na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). O mais recente capítulo triste envolve um ‘ranking sexual’ das estudantes da instituição, localizada em Piracicaba e vinculada à Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com a estudante Élice Botelho, de 22 anos, integrante do Diretório Central dos Estudantes, o cartaz estava exposto no Centro de Vivência da universidade, um pátio de encontro dos alunos. Lá, três colunas expunham estudantes da Esalq em três categorias vexatórias: ‘buceta fedida, teta preta ou sociedade do anel’. Ali cada aluna e alguns alunos eram ‘pontuados’ por outros.
“Há boatos de que esse cartaz foi feito em duas repúblicas masculinas, e que todos os bixos que vão lá pegar ração na hora do almoço/janta escrevem o nome de alguma menina nas colunas. Pensei que a CPI de Violação de Direitos Humanos das Universidades Estaduais Paulistas tivesse alertado as pessoas, mas a prova mostra que na verdade tem gente que ta no caminho oposto”, escreveu Élice.
A CPI à qual ela se refere, também conhecida como CPI dos Trotes, foi realizada entre dezembro e março deste ano na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Durante os trabalhos, a Esalq foi citada em mais de uma oportunidade, sendo apontada como uma das mais violentas do Estado, ao lado da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e a PUC de Campinas (Puccamp).
Um dos casos mais absurdos foi registrado na Esalq em 2002, quando uma estudante acusou oito colegas de a terem estuprado em uma república. A vítima depôs na CPI. “Falavam que eu havia transado com oito meninos. As meninas com quem eu morava fizeram uma reunião e pediram para eu sair da casa, sob a alegação de que me chamavam de vagabunda. Na Esalq, comentava-se o caso, inclusive os professores. As pessoas olhavam, davam risadinhas. Um e-mail passou a circular, contando detalhes”, contou.
Um exemplo de que práticas misóginas seguem vivas no ambiente universitário é que o ‘ranking sexual’ denunciado expunha os apelidos de cada estudante, uma tradição mantida desde a entrada do calouro (chamado de ‘bixo’), e esse codinome será aquele que ele carregará pelo resto da sua vida acadêmica.
“O cartaz tem caráter de assédio e conteúdo difamatório intencional. Foi a primeira vez que colocaram em local público. Isso dá margem para que as pessoas, reconhecidas por seus codinomes, sejam discriminadas”, disse ao G1 o pesquisador e sociólogo Antonio Ribeiro Almeida Jr., docente da Esalq. Na CPI dos Trotes, ele já havia denunciado a violência na instituição.
“O trote leve funciona como uma cortina de fumaça para os mais violentos”, comentou aos deputados estaduais. Em uma nota divulgada por uma das muitas repúblicas de alunos da Esalq, Almeida Jr. foi chamado de “mentiroso” pelas suas palavras. “Aquele seu livro de anos atrás é um compilado de mentiras, nada mais. E pelo que consta nas reportagens, todo o resto da sua produção é apenas mais do mesmo, com ‘causos’ requentados”, diz a nota, que vai além.
“É extremamente preocupante o risco real de que jovens inocentes, exalando a energia típica da idade, acabem se transformando em bodes expiatórios para que um professor atinja os objetivos de sua agenda promocional. Ou que políticos sem propostas, e acuados pela fortíssima pressão da opinião pública, desviem o foco buscando se capitalizar eleitoralmente ao abraçar uma causa nobre queimando algumas bruxas imaginárias”.
Ao G1, a direção da Esalq informou que “encaminhará o material para apreciação de uma comissão sindicante, cumprindo trâmite regular”. Neste ano, a instituição disse ter distribuído um ‘manual de calouras’ e firmou um acordo com o Ministério Público (MP-SP) se comprometendo a combater os trotes e outras violações aos direitos humanos na Esalq.
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é muito abuso, qm faz isso merece no minimo ser preso!