A greve de fome no escritório do Incra no Maranhão atinge hoje seu sétimo dia, e não há notícia de negociações por parte da Presidência do órgão
Eu apoio a luta dos acampados no Incra-Ma
Depois de ficar com sua equipe em seu gabinete, enquanto indígenas, quilombolas e camponeses o aguardavam, com tambores (uma de suas maiores expressões), na antessala, esperando que lhes trouxessem uma proposta que desse tranquilidade a todos e acabasse com a greve de fome, o atual superintendente do Incra-MA sai de lá e dispara: “até o momento, o que pedimos, eles disseram (Incra Nacional, Ministério do Desenvolvimento Agrário, presidenta da República) que não têm condições de atender”.
Ou seja: enganaram os manifestantes dizendo que estava sendo costurada uma proposta para atender a reivindicação por titulação das áreas de quilombos que aguardam há vários anos (com as populações sendo mortas pelos grileiros e latifundiários), quando se sabia que nada sairia, e que ele mesmo não tem sequer autorização de negociar nada,devendo remeter tudo para Brasília, como explicita em sua fala. Ao ser indagado como se mantém num cargo sendo desautorizado de forma tão veemente, o superintendente respondeu que “tem dignidade para continuar”.
A “Brasília” de que ele fala refere-se, na verdade, à política de morte do governo federal, orientada para negar direitos dos povos tradicionais e originários do Brasil e dos camponeses, para fazer de todas as área reserva para os parceiros do agronegócio, cuja representante-maior desfruta da intimidade da presidenta Dilma e da cadeira do Ministério da Agricultura.
Inconformados, os quilombolas permaneceram no ambiente, fazendo com que o superintendente também ficasse, retardando sua saída, o que lhe causou muito incômodo (certamente não tanto quanto aquele que passam os oito representantes de comunidades que estão há sete dias em greve de fome), a ponto de ele acionar a polícia.
Os quilombolas não se deram por vencidos: acompanharam ele e a equipe até a saída, para que fossem “conduzidos” pela força que tinham chamado, pois, segundo cantavam (depois postaremos os vídeos), é assim quem deve ser tratado quem não sabe lidar com dinheiro público (o Incra até agora não explicou o que foi feito com o dinheiro que deveria servir para licitar os relatórios que haviam sido contratados e que agora foram suspensos, fazendo as comunidades voltarem à estaca zero nos processos de titulação). Vale lembrar que um dos antecessores do atual superintendente, num passado não muito distante, chegou a ser preso pela Polícia Federal em razão de sua má gestão – pra dizer o mínimo – à frente do Incra/MA.
Uma coisa chama atenção – duas, aliás: uma, a postura dos representantes do órgão, como se não fosse gente que estivesse em risco iminente, limitando-se a respostas (ou a não-respostas) pretensa e meramente técnicas, sem empenho para resolver o impasse. A outra, o buraco na parede logo atrás – como vários outros, físicos e alguns nem tanto, na estrutura do órgão fundiário federal no Maranhão. Como já dissemos, isso funciona como um forte simbolismo no abandono das questões desse tipo pelos governos no estado que tem o maior número de conflito fundiário no Brasil, e que justamente por isso deveria funcionar a contento, ante tão grande problema. Mais um indício que, em vez de resolver, titular e fazer a reforma agrária, esse governo trata a questão com total desprezo.
Após “conduzirem” aqueles que poderiam lhes dar alguma resposta mas que assumem ser meros fantoches até a saída do prédio, os manifestantes ficaram por um tempo à entrada do Incra, com seus tambores e cantigas, numa demonstração de que ainda não foi agora que a intransigência e o abandono a que estão relegados por todas as esferas de poder lhes tiraram as energias, nem diminuiu sua luta, que não é por favores, mas por direitos que sabem ser seus e deles não irão abrir mão.
E assim se prepararam para enfrentar mais um dia de ocupação, dando sentido a uma estrutura que se encontra política e fisicamente tão abandonada.
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Destaque: imagem capturada da página do facebook.