Um rapaz que reclamou de um carro que parou sobre uma faixa de pedestres foi espancado pelo motorista.
Uma moça que reclamou de um sujeito que tentou beijá-la à força em uma festa de faculdade foi esmurrada pelo idiota.
Não tem jeito, a porrada é uma instituição nacional.
Boa parte dos brasileiros foi ensinado que a violência é o principal instrumento de resolução de conflitos. Por falta de instituições públicas ou sociais confiáveis que assumam esse papel, por achar que alguns possuem mais direitos que outros por conta de dinheiro ou músculos, por alguma patologia que nunca consegui entender muito bem mas que deve estar atrelada à falta de abraços de mãe.
Além disso, também temos problemas de memória. Enquanto o país não acertar as contas com o seu passado, não terá a capacidade de entender qual foi a herança deixada por ele – na qual estamos afundados até o pescoço, nos define e contribui para uma cultura de agressão.
A ditadura não criou a violência desmesurada, mas foi bem eficaz em sua institucionalização como método de controle social. E o processo de transição para a democracia não negou isso. Pelo contrário, em alguns casos até incentivou.
Aliás, o Brasil não é um país que respeita os direitos humanos e não há perspectivas para que isso passe a acontecer pois, acima de tudo, falta entendimento sobre eles e, consequentemente, apoio, da própria população. Que acha isso uma “coisa de proteger bandido” e esquece que a própria liberdade de professar uma crença ou de não ser agredido gratuitamente por dizer o que pensa diz respeito aos direitos humanos.
O impacto desse não-apoio se faz sentir no dia a dia com um grupo que sempre esteve no poder econômico aterrorizando, sozinho ou através da polícia ou de representantes políticos, a outra parte da população.
Gostamos de viver as tradições por aqui. Como o direito de deixar claro quem manda e quem obedece.
Se necessário, através dela, a porrada, que é o que realmente nos une e nos faz brasileiros.