Indígenas de todas as calhas dos rios do Amazonas lutam por maior representatividade junto ao poder público estadual
O Movimento Indígena do Amazonas mobilizará, no próximo dia 10 de junho, mais de 10 mil indígenas na sede do Governo, em Manaus, para exigir ao governador José Melo mudanças profundas na Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (SEIND). A mobilização terá início às 7h. Entre as reivindicações, está a saída do atual secretário José Bonifácio Baniwa e a indicação de Raimundo Atroari para assumir a pasta. A mobilização terá como tema: ‘O Amazonas mostrando sua cara indígena’ e representará o anseio de 66 povos, abrangendo mais de 168 mil pessoas em todo o Estado.
“Nós temos certeza de que podemos construir uma nova realidade dos povos indígenas. Nós sabemos da diversidade dos nossos povos e estamos lutando pela união e conquistas dos nossos direitos junto ao poder público, já que hoje isso não vem acontecendo com esta administração que está há mais de dez anos nos deixando à mercê de políticas públicas que não acontecem na prática e não atendem a necessidade das bases de nossos povos”, afirmou Raimundo Atroari.
De acordo com Kaynã Munduruku, a incerteza do futuro da Secretaria tem trazido aflição aos povos indígenas e indignação diante das inércia que o atual governo vem assumindo nos primeiros seis meses de mandato. “Não sabemos hoje se a SEIND será extinta, se vai continuar, etc… nós gostaríamos que o governador se posicionasse, pois já vamos para seis meses de expectativa e nada de concreto foi feito neste sentido. E nós, que estamos junto à base dos nossos povos, no meio da floresta amazônica, é que sabemos da real necessidade dos nossos parentes. Principalmente nas áreas de alagamento onde não tem absolutamente nada do governo do estado para os nossos povos”, destacou.
Quando questionada por parte do governo sobre a legitimidade do movimento dos povos, Kaynã afirma que “tudo o que eles pediram de documentação que legitime a representação e o apoio das bases foi apresentado, de todas as calhas, enfim, todas as provas de que este é realmente o anseio dos povos indígenas amazonenses foram amplamente apresentadas”.
Carta ao Governador
A intenção da mobilização do dia 10 de junho é que os representantes dos povos indígenas sejam recebidos pelo governador José Melo na sede do governo e recebam pessoalmente uma decisão que ditará o futuro das políticas indígenas praticadas por este governo. Para isto, o Movimento Indígena do Amazonas redigiu uma carta de intenções que será entregue nesta ocasião ao governador.
Entre as exigências da ‘Carta das Reinvindicações dos Povos Indígenas do Amazonas’, está a saída do atual Secretário da SEIND, José Bonifácio Baniwa; a nomeação de Raimundo Atroari para assumir a secretaria; e a criação de uma agenda para a realização da III Conferência Estadual de Política Indigenista.
Voz da floresta
Segundo Dobertino Munduruku, um dos coordenadores do movimento, a SEIND hoje não atende aos reais interesses e necessidades dos povos indígenas amazonenses. “A SEIND foi criada para articular e agir em favor nas nossas populações indígenas. Mas hoje nós temos nessa secretaria um boneco de pano, que tem olho mas não vê, tem boca mas não fala e tem ouvido mas não ouve. Então nós queremos colocar lá um administrador que vê, ouve, fala e sente na pele o que nós estamos passando com nossos parentes sem expectativa de melhorias de saúde, infraestrutura e demais políticas públicas”, destacou.
A insatisfação hoje é praticamente em todos os pólos base de nossas etnias, como em Borba, Nova Olinda, Novo Aripuanã, Manicoré, Autazes, Novo Airão, Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença, Pauiní, Lábrea, Canutama, Tapauá, Maués, Parintins, Nhamundá, Coari, Tefé, Tonantins, Beruri , Anamã, Itacoatiara, Fonte Boa, Barreirinha, Atalaia do Norte, Urucará, Benjamin Constan, Santa Izabel, Barcelos, Jutaí . “A massificação deste movimento é imensa. Semana passada houve uma audiência pública no alto Rio Negro com 100% de insatisfação com a falta de ação do atual secretário, por parte dos Yanomamis, Tucanos, Dessanos, Piratapuias, Tikunas, Apurinãs, Miranhass, Arapassos”, conta Dobertino Munduruku.
Indígenas nos seus territórios
Outro coordenador do movimento, Kaká Mura, destacou a importância do fortalecimento das populações indígenas em seus territórios originais, evitando assim diversos problemas resultantes desta migração para as áreas urbanas no Amazonas.
“Nós temos hoje uma secretaria que sustentou um certo grupo e não desenvolveu o que tinha de desenvolver coletivamente. Algum projeto que pudesse trazer para os povos a sustentabilidade dentro dos rios, educação, saúde, etc. Se nosso povo vem pra cidade corre o sério risco de ser marginalizado e padecer da mesma forma, com o preconceito e uma outra série de fatores”, destacou Kaká Mura, ressaltando que a luta do movimento é principalmente contra a mortandade que assola as regiões mais longínquas e isoladas.
“Na verdade hoje nós estamos lutando pela preservação da vida de nossos parentes, que estão padecendo no meio da mata por falta de um auxílio por parte do poder público. Nós estamos hoje reivindicando os direitos de 68 povos indígenas de um Estado gigante, onde temos uma dificuldade muito grande de até chegar nestes locais. A maior dificuldade está sendo a informação. Sabemos que a sociedade deve crescer de forma igualitária. Se um grupo desta sociedade não acompanha este crescimento ele certamente vai padecer. E é isto que está acontecendo com os nossos povos”, concluiu.
Hoje o Movimento Indígena do Amazonas tem o apoio e fortalecimento de mais de 62 organizações indígenas de todo o Estado do Amazonas, como a: FOCCITT, FOCINP, FOSIMP, AMNT, ACAN, CGPH, TUMUP, APIAT, AMINT, COIPAM, COPIME, CIM, OMIM, OPIM, OASIM, OEIM, OKOPAM, OPITK, OIKAM, APIMA, WAIKIRU, AKANG, CGTSM, AIPIN, UMIP, AAISM, APSMA, AASISM, AIEA, CPSM, CTIPIN, ATISMA, WARUMA, COPIS, UPIC, CGTT, OGPTB, OKAS, COIKAS, CODESID, CMI,OPISB, OIMB, OPIJE, MAKUITÁ, ASSOPIAM, GIMAM, APIKAM, OPIMT,BNU,AIMM, AMED COPIME, COIPAM, CK, CPT, CBJT, CPNI, TURU DUGUU, RAPÚ, ASPREHE, além de instituições de outros setores, como a União Geral dos Trabalhadores – UGT.
*com informações do Movimento Indígena do Amazonas.
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Foto: Reprodução/Mayke Toscano-GEMT