Aluna da Ufscar denuncia abuso sexual de professor

Foto: Reprodução/Facebook
Foto: Reprodução/Facebook

A doutoranda relata que sofreu assédio de seu ex-orientador e que chegou a ser afastada do núcleo de projetos que participava por recusar suas investidas; “Você é uma franga sem doutorado que precisa jogar o jogo da academia”

Por Redação Spresso SP

Em meio às recentes denúncias de estupros e assédio sexual em ambiente universitário, surge agora mais um relato, dessa vez na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), no interior de São Paulo. A doutoranda Thais Moya publicou em seu perfil do Facebook, na noite desta quinta-feira (11), um relato de abuso sexual que teria sofrido do seu ex-orientador.

Junto com o relato, a estudante postou uma foto em que aparece com a cabeça raspada, como forma de protestar contra o crime que, segundo ela, teria sido acobertado pela universidade. 

“Raspei meus cabelos porque eu fui, duas vezes, agarrada e beijada por meu professor e (ex) orientador sem o meu consentimento (…) Raspei meus cabelos porque, depois de ser agarrada pelo professor e recusar, ele progressivamente me tirou dos projetos do núcleo de estudos que ele coordena”, afirma a jovem em seu depoimento.

O professor teria afirmado ainda, de acordo com Thais, que ela seria “uma franga sem doutorado que precisa colocar o rabo entre as pernas, parar de enfrentar professor doutor e aprender a jogar o jogo da academia, caso queira mesmo continuar nela”.

A doutoranda contou que chegou a procurar a ajuda da universidade e que outros alunos se mobilizaram , mas que todos foram ameaçados e intimidados.

Procurada, a Ufscar não se manifestou ainda sobre o relato publicado pela estudante.

Confira a íntegra do texto:

Raspei minha cabeça como forma de protesto.

Raspei meus cabelos porque eu fui, duas vezes, agarrada e beijada por meu professor e (ex) orientador sem o meu consentimento.

Raspei a cabeça porque, como quase toda vítima de assédio, passei dois anos amedrontada e coagida pelas relações de poder que perpassam as consequências de denunciar o ocorrido. Senti-me responsável não apenas pela minha carreira profissional, mas pela do professor em questão e pelas consequências negativas que recairiam no Programa de Pós Graduação e nos colegas do núcleo de estudos.Calei-me, acovardada.

Raspei meus cabelos porque, depois de ser agarrada pelo professor e recusar, ele progressivamente me tirou dos projetos do núcleo de estudos que ele coordena, dizendo em uma ocasião que sou “uma franga sem doutorado, que precisa colocar o rabo entre as pernas, parar de enfrentar professor doutor e aprender a jogar o jogo da academia, caso eu queira mesmo continuar nela”. Além de em nada orientar minha pesquisa.

Raspei minha cabeça porque a coordenação elaborou um survey para as/os estudantes avaliarem o Programa. Tal survey foi apresentado como anônimo e vi nele a única oportunidade segura de relatar os assédios que sofri e também aqueles que testemunhei. No entanto, a coordenação do programa divulgou as respostas abertas do survey para todas/os estudantes.

Raspei meus cabelos porque um grupo de estudantes leu os relatos de assédios e se mobilizou, escrevendo uma carta para as/os docentes (CPG), reivindicando uma posição delas/es, principalmente, porque elas/es haviam ignorado por completo os relatos. Boa parte dos/as docentes ficou muito irritada e começou coagir seus orientandos com intuito de desmobilizar o processo de reivindicação em curso.

Raspei minha cabeça porque a coordenadora do Programa postou no seu facebook que os estudantes estavam “criminalizando a expressão sensual”.

Raspei meus cabelos porque, ontem, houve uma reunião marcada pelas/os docentes com as/os estudantes. Sem qualquer escrúpulo, a professora, que falava em nome do corpo docente, pronunciou os nomes dos relatados, que até então eram anônimos, e afirmou – baseada em argumentos que apelam para tradição – que meus relatos são mentirosos, pois conhece o professor há 20 anos e, segundo ela, trata-se de um homem comprometido e galante (!!).

Raspei minha cabeça porque as/os docentes exigiram a retirada da carta elaborada pelas/os estudantes, senão processariam judicialmente os representantes discentes. Instauraram um clima de terror e chantagem, que desmobilizou todas/os estudantes presentes.

Raspei meus cabelos porque as/os docentes compararam as/os estudantes aos nazistas, além de insinuar que os professores relatados estavam sendo vítimas de racismo e homofobia, já que se trata de um professor negro e outro gay. Houve uma estratégia sórdida de inverter o cenário, colocando-me como agressora, assim como todas/os estudantes.

Raspei minha cabeça porque cansei de ser assediada, coagida e chantageada.

Raspei meus cabelos porque eu fui publicamente humilhada, ofendida e desrespeitada por docentes que afirmaram que meus relatos de assédios são mentirosos sem nem ao menos me ouvirem pessoal e detalhadamente.

Raspei minha cabeça porque sofri um linchamento moral de um Programa de Pós Graduação que tentei até aqui preservar, tanto seus docentes, quanto discentes.

Raspei meus cabelos porque eu poderia me calar por mais 7 dias e defender meu doutorado sem mais constrangimentos e coações, mas eu me recuso fazer parte dessa lógica opressora que o corpo docente instaurou no Programa. Eu, mesmo com medo de mais retaliações, não me calo mais.

Raspei minha cabeça.

Raspei meus cabelos.

Mas permaneço em pé.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Diogo Rocha.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.