Para Cimi, Dilma deve abandonar ‘setores antipetistas’ para aprofundar mudanças

Há mais de um ano, guaranis vão às ruas por demarcações nas zonas norte e sul de São Paulo (Oswaldo Corneti/fotos públicas)
Há mais de um ano, guaranis vão às ruas por demarcações nas zonas norte e sul de São Paulo (Oswaldo Corneti/fotos públicas)

Crítica à paralisação das demarcações indígenas, entidade espera que presidenta perceba apoio recebido nas eleições e governe com movimentos sociais para conduzir reformas

por Redação RBA

“Dilma é uma mulher inteligente e já deve ter percebido que não é alimentando setores historicamente antipetistas, como o agronegócio, que fará as reformas necessárias para o país”, resume Cleber Buzatto, secretário-executivo do Conselho Indígena Missionário (Cimi), ao comemorar a vitória da candidata petista sobre Aécio Neves (PSDB). “Esperamos que a presidenta assuma postura mais próxima dos movimentos sociais para tratar de questões estruturantes, como a reforma agrária, a titulação de terras quilombolas e as demarcações de terras indígenas, que foram suplantados no primeiro mandato.”

Buzatto recorda o apoio brindado pelos movimentos sociais a Dilma Rousseff (PT) – inclusive por organizações que passaram os primeiros quatro anos de governo criticando e pressionando a presidenta, como as entidades indígenas. “Dilma foi a que menos demarcou os territórios tradicionais. Paralisou os processos. É uma atitude que não favorece os povos indígenas, mas os setores que ocuparam suas terras ao longo do processo de colonização”, pontua. “Nossa expectativa é que haja uma reversão. Por enquanto, é mais uma esperança, mas espero que se transforme numa expectativa com mais enraizamento. Vamos aguardar os acenos da presidenta nesses últimos meses de governo.”

O secretário-executivo do Cimi cita os resultados da apuração para justificar as escolhas políticas “equivocadas” do primeiro mandato da presidenta. “Por mais que tenha beneficiado o agronegócio com investimentos de R$ 156 bilhões só no Plano Safra 2013-2014, Dilma perdeu nas regiões mais identificadas com o setor”, analisa, lembrando da má votação recebida pela petista em estados como Paraná, São Paulo e Mato Grosso. “O próximo mandato deve reconhecer as forças sociais que foram contundentes agora no segundo turno, e responder às demandas desses setores.”

Buzatto sabe, porém, que haverá consequências caso Dilma faça uma opção clara pelos movimentos sociais contra os grandes interesses. “Teremos um enfrentamento maior com os representantes do agronegócio, da grande mídia, das grandes empresas e outros setores conservadores”, prevê, insistindo que os resultados eleitorais mandaram um recado ao governo. “É, no mínimo, um tiro no pé deixar as pautas estruturantes imexíveis. O discurso da vitória pautou a reforma política com participação da sociedade. É fundamental que o governo alimente a mobilização social na defesa das reformas estruturantes, que mudem a estrutura fundiária, de comunicação, da política.”

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.