Como a questão ambiental está imbricada com as questões social e de saúde? Este é o tema trazido pela nova edição da Revista Ciência & Saúde Coletiva, vol. 19, nº 10, que está disponível on-linepara acesso. A publicação apresenta a contribuição de pesquisadores de todas as regiões do país e trata dos mais diferentes grupos afetados pelos desmandos ambientais; analisa os problemas de poluição das águas, do ar, do solo e as intoxicações e contaminações por agrotóxicos. A revista problematiza ainda a ação humana que degrada o planeta e as doenças e agravos que decorrem das intervenções desastradas que visam apenas lucro e poder. Ciência & Saúde Coletiva deste mês conta com artigos de diversos pesquisadores da ENSP e seu tema foi escolhido em função da realização do II Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente (Sibsa), organizado pelo Grupo Temático sobre Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Confira.
No editorial, escrito pelos pesquisadores da ENSP, William Waissman e Ary Carvalho de Miranda, juntamente com Gabriel Schütz, do Instituto de Estudos de Ciências da Saúde, UFRJ, os autores apontam que compartilhar diferentes saberes para a construção de um cenário ambiental e sanitário mais justo é o desafio do II Sibsa. Durante o evento, “os movimentos sociais e academia, com clareza ideológica e postura política assumida, discutirão, a partir do tema central Desenvolvimento, Conflitos Territoriais e Saúde: Ciência e Movimentos Sociais para a Justiça Ambiental nas Políticas Públicas, propostas alternativas aos modelos produtivos dominantes atuais.
Para analisar as consequências da desterritorialização na Baía de Sepetiba sobre o processo de trabalho e saúde dos pescadores artesanais daquele território, o pesquisador da ENSP, Marcelo Bessa e Silvio Cesar Alves Rodrigues, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ) escreveram o artigo As consequências do processo de desterritorialização da pesca artesanal na Baía de Sepetiba (RJ, Brasil): um olhar sobre as questões de saúde do trabalhador e o ambiente.
O texto mostra que os resultados sugerem forte associação entre os empreendimentos portuários e as instalações do programa nuclear da Marinha do Brasil com a pesca extrativa tradicional, contribuindo para o aumento do tempo de navegação e dos riscos ocupacionais inerentes à pesca artesanal.
“O fenômeno da globalização e o crescimento do neoextrativismo na periferia global intensificam a demanda por novos territórios e recursos naturais à economia, resultando em significativos impactos sobre os ecossistemas e a vida das populações vulnerabilizadas”, defenderam os pesquisadores do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da ENSP, Marcelo Firpo, Diogo Ferreira da Rocha e Renan Finamore no artigo Saúde coletiva, território e conflitos ambientais: bases para um enfoque socioambiental crítico.
Os autores ressaltam que a inter-relação entre os direitos humanos ou territoriais, as condições de vida e trabalho, o equilíbrio ambiental e a situação de saúde de comunidades tradicionais ou periferias urbanas, é um vasto campo a ser explorado e que merece maior atenção da saúde coletiva”.
Desafios para a construção da ‘Saúde e Ambiente’ na perspectiva do seu Grupo Temático da Associação Brasileira de Saúde Coletivaé o tema do texto escrito por Lia Giraldo, da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade de Pernambuco em parceria com o diretor da ENSP, Hermano Casto; os pesquisadores da Escola Ary Carvalho de Miranda e Marcelo Firpo; Anamaria Testa Tambellini, da Comissão da Verdade da Abrasco; Fernando Ferreira Carneiro do Departamento de Saúde Coletiva da UNB; Raquel Rigotto do Departamento de Saúde Comunitária, Universidade Federal do Ceará; e Gabriel Schütz, do Instituto de Estudos de Ciências da Saúde, UFRJ.
O artigo aponta que ‘Saúde e Ambiente’ é o núcleo de saberes e práticas em torno das relações entre a sociedade e a natureza, mediadas pelo modo de produção e o trabalho humano, que ajudam a compreender a determinação do processo saúde-doença das diferentes classes e grupos sociais.
Realizar a análise espacial de indicadores integrados de ambiente e saúde relativos aos fatores condicionantes da mortalidade por diarreia em menores de 1 ano nas regiões brasileiras no ano de 2010 foi o objetivo do estudo desenvolvido pela pesquisadora da ENSP Sandra Hacon em parceria com Helena Ferraz Bühler, do Departamento de Enfermagem, da Universidade do Estado de Mato Grosso; e Sandra Mara Neves, do Departamento de Geografia, da Universidade do Estado de Mato Grosso. Os resultados podem ser conferidos no artigo Análise espacial de indicadores integrados determinantes da mortalidade por diarreia aguda em crianças menores de 1 ano em regiões geográficas.
Neste trabalho foi indicado que as crianças menores de 1 ano residentes nas microrregiões localizadas nas regiões Norte e Nordeste estão mais expostas ao risco de óbito pela diarreia, uma vez que nestes locais concentram-se os piores valores para os indicadores socioambientais relacionados à pobreza e ao saneamento básico.
Confira aqui a revista na íntegra.