Adital – Organizações sociais se unem na exigência de esclarecimento e justiça para o caso do massacre dos estudantes da Escola Normal Rural de Ayotzinapa, na cidade mexicana de Iguala (Estado de Guerrero), ocorrido no último dia 26 de setembro. A tragédia deixou seis mortos, 18 feridos e 43 desaparecidos. Para os movimentos sociais, o fato pode ser tipificado como crime de Estado, demonstrando uma política repressiva por parte do governo mexicano.
Em nota pública, a organização mexicana Constituyente Ciudadana[Constituinte Cidadã] afirma que, para além de um envolvimento direto de policiais e paramilitares do município de Iguala no atentado, há múltiplos indícios de uma “provocação maior”. “A existência de um plano deliberado, conjuntural e de longo esforço, promovido com o respaldo do representante do Poder Executivo, Enrique Peña Nieto, e dos altos comandos políticos policiais e militares encarregados da Segurança Nacional, que se relacionam cotidianamente com agências de segurança (…) e com o Exército estadunidense”, declara a entidade.
A organização aponta a relação entre o atentado cometido contra os estudantes e o massacre praticado pelo Exército de Tlatlaya (Estado do México), ocorrido no dia 30 de junho deste ano, no qual foram executadas 22 pessoas. Na época, o caso foi tratado como “indisciplina militar”, resultado de suposto enfrentamento entre militares e criminosos. “Se se comete um crime maior para ocultar outro, apresentando-o como um ajuste de contas entre as máfias da classe política local”, interpreta.
Para a entidade, tais ações são um traço do processo de “ocupação neocolonial” no país. “É uma extensão da violência desatada pelos últimos governos do neoliberalismo e já cobraram mais de 150 mil mortes entre desaparecidos e assassinados, além de centenas de vítimas ‘colaterais’. Não se pode mais espoliar a nação de seus bens comuns por meio da violência”, publica a Constituyente.
Ações em apoio às vítimas
Em cidades de todo o país, mexicanas e mexicanos saem às ruas em apoio aos vitimados de Ayotzinapa e a seus familiares, como ocorreu na cidade de San Cristóbal de las Casas, Estado de Chiapas, na qual se reuniram zapatistas, estudantes e professores em ato público, no último dia 08 de outubro. Organizações camponesas, indígenas e de direitos humanos também se somam à causa em todo o território nacional e outros países.
“O Governo do México tem a obrigação de realizar uma investigação profunda, minuciosa e transparente para esclarecer os eventos do massacre de Iguala, que tem comovido o México e o mundo, assim como proceder, de maneira imediata, a apresentar com vida os 43 estudantes normalistas que continuam desaparecidos forçadamente”, exige uma nota pública assinada por organizações, entre elas a Frente Popular de Ixtapa Ricardo Flores Magón, a Organização Camponesa Emiliano Zapata-Región Carranza (OCEZ-RC) e a Liga Mexicana para a Defesa dos Direitos Humanos (LIMEDDH-Filial Jitotol).
Segundo as entidades, os crimes de lesa humanidade que foram cometidos no caso de Iguala são, em parte, responsabilidade do Presidente da República, Enrique Peña Nieto, e do governador do Estado de Guerrero, Ángel Aguirre Rivero, que agravariam uma situação de criminalização, repressão e violação dos direitos humanos no país. “Por suas graves omissões e o encobrimento de funcionários e grupos que são parte da delinquência organizada”, avaliam as organizações sociais.
“O ocorrido em Iguala não é um caso isolado, como se pretende assinalar a partir do ogverno de Enrique Pena Nieto; o que aconteceu em Iguala é o ápice de uma estratégia de governo que implementada em Guerrero para conter a dissidência e tem como centro a eliminação física e o encarceramento de lutadores sociais e defensores de direitos humanos”, acusam as entidades.
A organização Tlachinollan – Centro de Direitos Humanos da Montanha, pede que a comunidade internacional e a sociedade civil mexicana exijam que as autoridades estatais realizem uma investigação independente e eficiente dos fatos; processem e punam os policiais e autoridades envolvidos direta ou indiretamente e intensifiquem ações de busca dos desaparecidos. Além disso, requerem que sejam implementadas medidas cautelares para salvaguardar a integridade física e psicológica das vítimas e o seu atendimento médico, além de reparar os danos aos vitimados e seus familiares.
Confira depoimento do estudante mexicano Omar García, sobrevivente do massacre de Ayotzinapa: