Para Maria Victória Benevides, vitória de um governo ruim como o do PSDB em São Paulo ainda é fenômeno a ser explicado. Mas PT é responsável pelo que deixou de fazer pela candidatura de Padilha
Paulo Donizetti – Rede Brasil Atual – RBA
O resultado da eleição no estado de São Paulo deve provocar uma reflexão de âmbito geral, sobre a vitória de Geraldo Alckmin. E em particular, no âmbito do PT, principal partido de oposição no estado, sobre o desempenho do candidato Alexandre Padilha. A avaliação é da cientista política e historiadora Maria Victória Benevides, professora aposentada da USP, que se disse “desolada e perplexa”. Admitindo não ter se aprofundado ainda numa análise sobre os resultados das urnas, Maria Victória explica: “Estou desolada com São Paulo e preocupada com o Brasil”, resumiu.
A professora se diz intrigada com alguns resultados vistos pelo país, como a vitória do PSDB em São Paulo. “Se aqui foi um dos lugares do país onde mais se protestou no ano passado contra a corrupção e a falta de qualidade nos serviços públicos, como entender? Crise de água, crise de segurança, de saúde e educação de péssima qualidade, serviços péssimos”, enumera. Durante algum tempo, como ela observa, se dizia que a classe política parecia não ter entendido os recados das ruas. “Agora me parece que tampouco as ruas entenderam o recados das ruas”, ironiza.
“Se fosse a indignação com a corrupção o problema, não teria sido o PT a principal vítima dos protestos, como acabou sendo. Em parte graças aos meios de comunicação, em parte à despolitização dos movimentos, que foram importantes, sobrou para Dilma, e sobrou para o Haddad, e só”, constata.
“O que diferencia Alckmin de Paulo Maluf quando ele se refere ao assunto segurança pública? Nada. É o mesmo discurso e a mesma prática da ditadura, que sufoca o conceito de direitos humanos, desloca o seu sentido de acesso a educação, moradia digna, acesso a empregos, para uma rotulação torta de que defender direitos humanos é defender bandido”, avalia. “O que diferencia Alckmin de Maluf é apenas seu modo aparentemente modesto de se expressar, uma jeito de falar com que se identificam as pessoas simples. Sua cara de simpatizante da Opus Dei parece inspirar confiança.”
Maria Victória, vê também “erro de origem” na oposição ao PSDB em São Paulo. Primeiro, segundo ela, PMDB e PT não deveriam ter rompido aqui a aliança que sustentam em plano nacional. “Ao contrariar essa aliança, saíram mais fracos”, avalia.
Mas o mais grave, em sua opinião, foi a postura do PT em relação à candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha. “Padilha teve um comportamento excepcional, mostrou que não é liderança política de se ressentir e tocou com seriedade e fidelidade sua campanha. O resultado surpreendente no final de votação, comparado com desempenho supostamente fraco nas pesquisas, revela o abandono a que foi submetida sua campanha foi uma irresponsabilidade do partido”, afirma a historiadora. “Nas últimas semanas, o que se via eram o Lula, o Suplicy e o Padilha. Onde estavam ministros, lideranças políticas do estado, gente importante do partido? Se sua candidatura tivesse sido abraçada por lideranças, parlamentares e movimentos sociais, com certeza o resultado teria sido outro”, acredita.
Polarização
No plano nacional, a professora pretende avaliar nos próximos dias como irá de comportar o eleitorado de Marina Silva. “Vamos ver de que tamanho era o contingente de antipetistas que apostaram em sua candidatura, e se a maioria deles já bandeou para o lado do Aécio Neves já no primeiro turno, já que ele recebeu uma votação acima da esperada. Agora, tem o pessoal mais ligado a suas origens de esquerda, o ambientalismo, vamos ver para que lado irá”, diz
“O fato é que está dada mais uma vez a mesma polarização PT-PSDB dos últimos 20 anos. A diferença é que agora há uma candidato mais jovem, de fora de São Paulo, bem-sucedido em seu estado e que parece que não vai esconder o Fernando Henrique Cardoso, como fez o José Serra já duas vezes”, lembra Maria Victória.
Segundo ela, FHC é ainda um político influente nos meios acadêmicos, respeitado pela elite econômica e importante nos bastidores da política. “Sua liderança não deve ser desprezada.”