Em entrevista exclusiva à Carta Maior, Löwy falou sobre seu novo livro, a ascensão da extrema-direita na Europa e, é claro, sobre as eleições de domingo.
André Cristi e Roberto Brilhante, em Carta Maior
As candidaturas do sistema
As três candidaturas (Aécio, Dilma e Marina) são variantes do mesmo modelo. Dilma representa uma vertente mais social do liberalismo; Marina poderia ter sido uma variante ecológica do liberalismo mas acabou não se definindo; Aécio é liberalismo puro, na sua forma mais reacionária”, definiu Michael Löwy.
O diretor de pesquisas do francês Centre National de la Recherche Scientifique não esconde sua posição: “eu simpatizo com candidatos da esquerda radical: Luciana Genro, pra dizer o nome”. Apesar do fraco desempenho nas pesquisas, Löwy prefere a psolista por sua capacidade de, segundo ele, usar a campanha eleitoral para “levar um pouco de conscientização, desenvolver ideias e crítica do sistema”.
A decepção com o governo do Partido Socialista de François Hollande é, para Löwy, dos fatores mais importantes para o crescimento da extrema-direita francesa. “Mesmo aqueles que não tinham ilusões se decepcionaram com Hollande. É um governo fiel à cartilha neoliberal, sem restrições”, afirma.
De acordo com o historiador das ideias, os motivos pelos quais a Frente Nacional de Le Pen – e não a fragmentada oposição de esquerda – capitalizou a indignação vinda do fracasso de Hollande não são simples.
Em primeiro lugar, a crise não explica tudo. Michael sublinha que em outros países europeus em crise mais aguda (Espanha e Portugal, por exemplo), não existe levante fascista. “Na França”, diz Löwy, “há uma tradição fascista que vem de longe”. O partido de Le Pen, exemplifica, é devedor da tradição da França de Vichy, regime marionete da Alemanha nazista que durou de 1940 a 44.
Também, o colonialismo francês ainda reverbera na mentalidade de parte da população. “A França foi um império colonial que se deu mal. O sabor amargo dos dois fracassos militares na Indochina e na Argélia se manifesta no ódio aos imigrantes, aos muçulmanos, aos negros”.
A jaula de aço capitalista
Lançamento da Boitempo Editorial, a obra mais recentemente traduzida de Löwy destaca os pontos de cruzamento entre Marx e Weber. Teóricos de profundo desacordo político e metodológico, os dois alemães, aos olhos de Löwy, se encontram ao criticar a jaula de aço que o capitalismo impõe aos indivíduos.
Michael afirma que a grande diferença entre o intelectual engajado na luta de classes e o ideólogo burguês sui generis é que, enquanto Weber é um “pessimista resignado, ele pensa que o capitalismo é o nosso destino”, Marx aposta na possibilidade de uma superação revolucionária do atual sistema.