Seca no Velho Chico atinge cidades baianas

Criança brinca no leito de um dos braços do São Francisco em Ibotirama, Bahia
Criança brinca no leito de um dos braços do São Francisco em Ibotirama, Bahia

Crise: Abastecimento, pesca, navegação e atividades agrárias estão prejudicados pela escassez de água na bacia hidrográfica

Yuri Silva, em A Tarde

A seca que atinge fortemente a principal nascente do rio São Francisco, situada no Parque Nacional da Serra da Canastra, em São Roque de Minas, centro-oeste do estado de Minas Gerais, já produziu impactos em todas as regiões da bacia hidrográfica, incluindo as que cortam a Bahia.

De acordo com Márcio Pedrosa – coordenador da Câmara Consultiva Regional do Alto São Francisco, esfera do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco –, a seca se alastra “da nascente à foz” do rio, afetando“toda a cadeia econômica e sustentável”.

A possibilidade de racionamento de água já começa a ser considerada pelos responsáveis pela Serra da Canastra. No total, o Velho Chico, chamado também de Rio da Integração Nacional, estende-se por 2.700 quilômetros, sendo o maior curso d’água exclusivamente brasileiro.

Conforme Márcio Pedrosa, essa já pode ser considerada a quarta grande crise de seca desde 1950. “O clima está perguntando desde aquela época se a política desenvolvimentista deve ser essa que está sendo colocada em prática”, criticou ele, referindo-se aos descuidos ambientais.

Segundo Cláudio Pereira, líder quilombola e coordenador da Câmara Consultiva Regional do Médio São Francisco – área que abrange mais de 40 cidades baianas –, as atividades econômicas locais estão duramente castigadas pela estiagem, que já dura dez meses.

Pereira afirma que “a crise está estabelecida” no estado, mas “não é novidade para o comitê, pois já era prevista”. Entretanto, ele não deixa de responsabilizar os governos pelo que chama de “colapso hidrográfico”.

“Temos dado alertas há dois anos, por conta da forma como os Recursos Hídricos têm sido tratados”, critica Pereira, constatando, em seguida, que “o São Francisco está literalmente seco”.

Causas e efeitos

Entre os motivos atribuídos à seca pelos especialistas está a desordenada captação de água para uso na produção agrícola, além do desmatamento e das queimadas, que inibem a evaporação e causam as estiagens.

Como consequência da crise hídrica, dezenas de cidades passam por sérias dificuldades de abastecimento, atividades de pesca estão sendo extintas e produções econômicas dependentes da navegação completamente paradas, já que barcos e lanchas não conseguem trafegar.

As atividades agrárias estão entre as mais afetadas, com morte de gado e falta de capacidade de irrigação.

Segundo o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Anivaldo Miranda, a crise, “iniciada em abril do ano passado no município baiano de Sobradinho”, está obrigando o setor elétrico a reduzir ainda mais a vazão (volume de água) da bacia, usando esses recursos para produção energética.

Racionamento

A situação mais crítica se dá na represa de Três Marias,em Minas Gerais, onde o volume útil para geração de energia chega a menos de 5% da sua capacidade normal. Conforme Miranda, a biodiversidade animal está tão afetada que já não se encontram espécies endêmicas (locais) nas águas do Velho Chico.

Na cidade mineira de Pirapora, a prefeitura entrou na Justiça para que as hidrelétricas represassem menos água, a fim de garantir o abastecimento para a população. Mesmo assim, Anivaldo Miranda evita confirmar que exista a possibilidade de racionamento. Ele apenas afirma que deverá acontecer uma “adaptação a novos mecanismos de captação”. Ou seja, a busca por água terá que ser feita mais próximo das margens do rio.

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