Em 22 de junho de 1975, num encontro de Bispos e prelados da Amazônia, decidiu-se criar uma comissão para interligar, assessorar e dinamizar os trabalhos das prelazias e dioceses junto aos trabalhadores e trabalhadoras do campo. Estava criada a Comissão Pastoral da Terra – CPT.
A CPT surgiu fruto da indignação, diante da violação dos direitos de povos indígenas e de comunidades de posseiros e da exploração do trabalho de milhares de trabalhadores submetidos a condições semelhantes à de escravos.
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“Nasceu você um pouco maldita,
quase clandestinamente,
filha da paixão pelos pobres da Terra.
filha do Reino dos Céus que é Reino da Terra também.
Mal vista em casa, odiada fora.
Pastoral da água de Batismo
ou do azeite da Crisma
ou do Trigo e do Vinho da Ceia,
a Igreja as vive tradicionalmente.
Mas Pastoral da Terra?
Como se a água e o azeite e o trigo e o vinho não fossem leite e sangue e ternura e pranto da Terra Mãe…
Você é a Pastoral matriz
do pão nosso de cada dia,
da economia histórica da salvação,
depois que o Verbo se faz carne
na terra do ventre de Maria.
Fora, odiada:
pelo latifúndio e suas udrs,
pela ditadura militar e seus carrascos,
por todas as arcaicas oligarquias e coronelatos prepotentes e pelo novíssimo devastador neoliberalismo – latifúndio do mercado, ditadura econômica, oligarquia de exclusão.
Pastoral fecunda, você já semeou muita semente agitadora nas mitras sonolentas de alguns bispos.
E já fez nascer ou renascer
muitos sindicatos de trabalhadores rurais.
E propiciou utopia e surco
para muita juventude.
E suscitou no país e na Pátria Grande toda e além mar muita consciência e muita solidariedade.
Irmã gêmea do Cimi,
irmã mais velha e mais curtida
de muitas outras pastorais específicas.
Mãe, filha, companheira
de muitos e muitos agentes de pastoral.
Ecumênica nem sempre compreendida.
Macroecumênica como a terra e a chuva e o sol do Deus da Vida.
Ara de tantos mártires – eles e elas,
que em você passaram pela grande tribulação e em você lavaram seus corpos e seus sonhos com o sangue do cordeiro, bendita CPT, pastoral de fronteira, evangelho de risco, profecia pé no chão e enxada na mão e cantiga na boca dos Novos Céus e da Nova Terra!”.
Pedro Casaldáliga – agosto de 1995