Dois anos da prisão de Assange em Londres: como o Wikileaks abriu nossos olhos para a ilusão da liberdade, por Slavoj Žižek

Assange na embaixada do Equador em Londres
Assange na embaixada do Equador em Londres

Guardian/

Nós nos lembramos dos aniversários de eventos importantes de nossa época: 11 de setembro (não apenas o ataque às Torres Gêmeas em 2001, mas o golpe contra Salvador Allende, no Chile, em 1973), o Dia D etc. Talvez outra data deva ser adicionada a esta lista: 19 de junho.

A maioria de nós gostaria de dar um passeio durante o dia para tomar uma lufada de ar fresco. Deve haver uma boa razão para aqueles que não podem fazê-lo – talvez eles tenham um trabalho que os impede (mineiros, mergulhadores), ou uma estranha doença que faz com que a exposição à luz solar seja um perigo mortal. Mesmo prisioneiros têm a sua hora diária de caminhada ao ar fresco.

Faz dois anos desde que Julian Assange foi privado deste direito: ele está confinado permanentemente ao apartamento que abriga a embaixada equatoriana em Londres. Se sair, seria preso imediatamente. O que Assange fez para merecer isso? De certa forma, pode-se entender as autoridades: Assange e seus colegas whistleblowers são frequentemente acusados de serem traidores, mas são algo muito pior (aos olhos das autoridades). (mais…)

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Muito bom: “Noam Chomsky e sua esperança dissidente”

Noam Chomsky

Ele vislumbra brechas na fábrica de consensos do capitalismo e aposta: movimentos como Occupy, economia solidária e rejeição ao consumismo podem abalar sistema

Por Chris Hedge*, no Thruthdig.  Tradução Vila Vudu. Em Outras Palavras

Noam Chomsky, a quem entrevistei 5ª-feira passada em sua sala no Massachusetts Institute of Technology (MIT), influenciou intelectuais nos EUA e em todo o mundo, por número incalculável de vias. A explicação que construiu para o Império, a propaganda de massa, a hipocrisia e o servilismo dos liberais e os fracassos dos acadêmicos, além do que ensinou sobre os modos pelos quais a linguagem é usada como máscara pelo poder, para nos impedir de ver a realidade, fazem dele o mais importante intelectual nos EUA. A força de seu pensamento, combinada a uma independência feroz, aterroriza o estado-empresa – motivo pelo qual a imprensa-empresa e grande parte da academia-empresa tratam-no como pária. Chomsky é o Sócrates do nosso tempo.

Vivemos um momento sombrio e desolado na história humana. E Chomsky começa por essa realidade. Citou o falecido Ernst Mayr, importante biólogo evolucionista do século 20, que disse que provavelmente nós jamais encontraremos extraterrestres inteligentes, porque formas superiores de vida se autoextinguem em tempo relativamente curto.

“Mayr dizia que o valor adaptacional do que se chama ‘inteligência superior’ é muito baixo” – disse Chomsky. – “Baratas e bactérias são muito mais adaptáveis que os humanos. É melhor ser inteligente que estúpido, mas podemos ser um equívoco biológico, usando os 100 mil anos que Mayr nos dá como expectativa de vida como espécie, para destruir-nos nós mesmos e destruir também muitas outras formas de vida no planeta.” (mais…)

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Gato por lebre: Metade das escolas particulares têm desempenho igual ao das públicas no Enem, segundo estudo feito pela USP

“O caso das públicas é dramático, mas não é novidade”, diz Alavarse, autor do estudo. Foto: Paulo Liebert / Estadão
“O caso das públicas é dramático, mas não é novidade”, diz Alavarse, autor do estudo. Foto: Paulo Liebert / Estadão

Por Cinthia Rodrigues, na Carta na Escola

Por que fazer o Ensino Médio em uma escola particular? Se a resposta for obter aprendizagem suficiente para passar em vestibulares, grande parte das famílias pagantes  desperdiçou o alto investimento financeiro. A conclusão é de um estudo das notas médias das instituições no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012, feito pelo pesquisador Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP. A análise revela que metade dos alunos da rede privada têm desempenho equivalente àqueles que vêm da rede estadual de ensino.

Segundo o levantamento, 98% dos alunos da rede pública de todo o Brasil alcançaram até 560 pontos – a média foi de 479,4. Já entre as instituições particulares, 52% dos alunos atingiram até 560 pontos, e a média foi um pouco maior, de 558,1 pontos.  “Famílias que fazem sacrifícios e pagam mensalidades com o propósito de ver os filhos na faculdade estão sendo enganadas, ao menos nesse ponto”, afirma o autor da pesquisa. A constatação fica mais alarmante quando comparada ao movimento de saída da classe média do ensino público para o privado. Nos últimos cinco anos, com a melhora geral no nível de renda das classes mais baixas, o total de matrículas na Educação Básica da rede pública caiu 3,8 milhões, enquanto cresceu 1,3 milhão na particular. “Muitos vão em busca de base para o Ensino Superior, mas é uma ingenuidade”, conclui Alavarse. (mais…)

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Indígenas paraguaios denunciam apropriação indevida de terras por empresários brasileiros

Direitos indígenas são constantemente violados por grandes fazendeiros no Paraguai. Foto:  Wikicommons
Direitos indígenas são constantemente violados por grandes fazendeiros no Paraguai. Foto:  Wikicommons

De acordo com o grupo, terras em que vivem foram vendidas e posteriormente alugadas; confronto para desalojamento deixou um morto

Opera Mundi

Representantes da comunidade inígena Yâoapo denunciam os “abusos das empresas” que querem desalojá-los de suas terras no distrito de Corpus Christi, departamento de Canindeyú, no norte do país. A tentativa de desalojamento, na semana passada, deixou um morto e 12 feridos.

“Este é nosso território ancestral, aqui estão os ossos de nossos avôs e bisavós e não temos outro lugar para onde ir”, ressaltaram os líderes da comunidade Yâoapo em pronunciamento realizado nesta sexta-feira (20/06).

Os indígenas anunciaram que vão defender as “humildes moradias” que não foram destruídas pelos guardas das empresas que tentaram realizar o desalojamento.

O grupo afirma que mediante um acordo ilegal, a empresa Laguna, cujos proprietários são colonos brasileiros e paraguaios, aparece como arrendatária das terras em litígio, embora os indígenas vivam no local há vários anos. (mais…)

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Racismo: “Um país infestado” (de ‘índios’)

Foto: Ruy Sposati
Foto: Ruy Sposati

Para nossas juízes, a apropriação de códigos do ‘homem branco’ torna o índio merecedor de punição

Por Luís Francisco Carvalho Filho, na Folha de S.Paulo

Segundo o IBGE, a população que se declara indígena no Brasil ultrapassou 817 mil em 2010. Entre 1991 e 2000, o crescimento foi extraordinário (294 mil para 734 mil), o que se explica por questões metodológicas, pelo crescente sentimento de orgulho racial e por políticas compensatórias desenvolvidas a partir da Constituição de 1988.

É pouco diante do despovoamento histórico e do universo de 200 milhões de habitantes. A extinção de povos e culturas iniciada pela colonização portuguesa (catequese, guerras, massacres, escravidão, epidemias) persistiu durante a República com outra roupagem.

Nelson Hungria, ex-ministro do STF e nosso mais influente criminalista, ao comentar o Código Penal de 1940, afirma que os “silvícolas” não mereceram uma alusão expressa no texto para evitar que se pudesse supor, no “estrangeiro”, que ainda éramos “um país infestado de gentio”. Para a justiça criminal, o índio tem “desenvolvimento mental incompleto”, é inteiramente desprovido “das aquisições éticas” do homem médio civilizado.
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Racismo: “O Brasil é um país racista”

O árbitro Márcio Chagas, durante a entrevista. Foto: Marília Cabral
O árbitro Márcio Chagas, durante a entrevista. Foto: Marília Cabral

Por Pedro Cifuentes, em El País

Em 05 de março, na cidade de Bento Gonçalves, logo ao entrar em campo para apitar a partida entre Esportivo e Veranópolis do Campeonato Gaúcho do estado do Rio Grande do Sul, o árbitro Márcio Chagas (Porto Alegre, 1976) escutou um grupo de 20 torcedores gritar para ele “negro”, “macaco”, “volta para a selva, a África”, “escória”, “lixo…”. “Foi uma partida sem o menor problema”, recorda Chagas em conversa com este periódico; “não houve pênaltis, nem expulsões. Absolutamente nada. O Esportivo ganhou por 3 x 2”.

Quando ia para o vestiário o mesmo grupo começou a insultá-lo de novo: “Macaco, filho da puta”. A árbitro parou e se aproximou do alambrado. “No grupelho havia um garoto de 7 ou 8 anos. Perguntei-lhes: ‘Fazem isto na frente de seus filhos? ‘ Me responderam: ‘Lixo, volta para a África’. Tentei acalmá-los, lhes desejei boa semana. Depois de tomar banho, no estacionamento (que era de acesso exclusivo para empregados), vi que as portas do meu carro estavam amassadas. Duas bananas estavam em cima do veículo. Tentei sair com o carro, mas não conseguia. Descobri que existiam outras duas bananas no cano de escapamento”. Chagas pediu então para um bandeirinha que tirasse algumas fotos, porque “sabia que a veracidade dos fatos seria questionada”. Avisou também alguns radialistas. “Os jogadores estavam saindo do estádio, começamos a conversar. Um deles (negro também) em chamou de lado e me disse: ‘Márcio, aqui isto é normal. Às vezes preferimos jogar como visitantes, para que a torcida não nos incomode’. Eu estava abatido, mas pensei: ‘Hoje vou mudar algo, isto não fica assim'”. (mais…)

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Racismo: “No Brasil, temos a ideia de que os negros são inerentemente inferiores”

Adilson José Moreira, professor de Direito na FGV. Foto: Bosco Martín
Adilson José Moreira, professor de Direito na FGV. Foto: Bosco Martín

Por Marina Rossi, em El País

Adilson José Moreira, professor de Direito na Fundação Getúlio Vargas apresentou, no ano passado, sua tese no doutorado de Direito de Harvard Law School sobre a questão racial no Brasil. Sua conclusão acadêmica vai direto ao ponto. “O racismo é um sistema de dominação social e o seu objetivo sempre foi o mesmo: garantir a hegemonia do grupo racial dominante”, disse, durante entrevista concedida ao EL PAÍS. “No Brasil, nós desenvolvemos essa ideia de um racismo recreativo”, diz ele, ao falar sobre os casos de preconceito racial no futebol, por exemplo. Sua tese expõe um país dominado pela hegemonia branca, cheio de preconceitos e muito longe de uma real igualdade racial, embora haja esforços para mudar o quadro. “A percepção é de que o país tem progredido, em função de várias políticas que promoveram a distribuição de renda, como o Bolsa Família, mas essas políticas ainda não conseguiram promover a inclusão social da mulher negra”, explica. Para Moreira, a justiça racial está diretamente ligada à justiça de gênero. “Sem isso nós nunca vamos conseguir chegar à justiça racial”.

Pergunta. Você é a favor da implementação de cotas raciais no Brasil, que privilegiam o acesso de negros a universidades ou empregos públicos. Por quê?

Resposta. Eu sou favorável às ações afirmativas e, especificamente, às cotas raciais, por vários motivos. Nós vivemos em uma sociedade racialmente estratificada. A população dos afrodescendentes sofre todo tipo de discriminação e de exclusão social. As ações afirmativas nas universidades públicas não são a única forma de se promover a integração e a justiça racial, mas elas são um meio, reconhecido por tribunais brasileiros. Antes de 2002, menos de 2% dos alunos das universidades públicas eram pessoas negras. Após as cotas esse percentual aumentou significativamente, embora ainda seja menor do que 15%. (mais…)

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