Na mídia ruralista, Terra Indígena Buriti vira aldeia, e ruralistas “dão ultimato” ao Governo Federal. E aí, Dilma Rousseff?

Oziel Gabriel, assassinado durante operação de "reintegração" determinada pelo judiciário de MS
Oziel Gabriel, assassinado durante operação de “reintegração” na Terra Indígena Buriti, determinada pelo judiciário de MS

Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

Ontem postamos matéria de um jornal de Campo Grande, republicada por praticamente toda a mídia de Mato Grosso do Sul, dizendo que os ruralistas do estado iriam aceitar a oferta do governo de R$ 80 milhões pelas áreas invadidas da Terra Indígena Buriti, em Sidrolândia. O texto – como escrevi numa nota de abertura – era visivelmente uma produção ruralista, buscando garantir o recebimento do valor estipulado pelo Incra, em 2015, mas tentando impor duas condições no mínimo obscenas – o governo federal aceitaria que o restante pedido por eles, R$ 44 milhões, ficasse pendente de decisão judicial, e mais: o Ministério da Justiça deveria financiar uma terceira avaliação da área invadida, a ser considerada para o acerto final ‘caso ultrapassasse os R$ 124 milhões por eles pretendidos.

Essa proposta indecente deveria ter sido discutida num reunião que seria realizada ontem em Brasília, no Ministério da Justiça. E, ao que parece, desta vez José Eduardo Cardozo (tomara!) resolveu dizer não. A reunião com Marcelo Veiga, do Ministério da Justiça,  “foi cancelada devido à indisponibilidade de agenda do assessor”, de acordo com o Midiamax News.  Já o Correio do Estado garante que os ditos produtores rurais “deram ultimato no Governo federal e só retomam as negociações (…) se a União aceitar três condições impostas pelos proprietários”. E alega: “foi por esse motivo que a reunião prevista para ontem, em Brasília, não foi realizada”. 

Nos diferentes jornais, que fundamentalmente repetem a mesmíssima matéria, a inspiração sai do ínclito ex-candidato a governador e a deputado federal Ricardo Bacha (declaração de bens informada à Justiça Eleitoral em 2006 no final deste texto), que afirma, em O Estado MS: “Depois de 14 anos de invasão (de quem?) e de mais de um ano de negociações, a mesa de reuniões quebrou”. O jornal, aliás, é o que dá (?) mais espaço para a questão, a partir da manchete de primeira página: “Fazendeiros desistem de vender terras para ampliar a aldeia Buriti”. Mas na matéria as coisas escorregam, e a “aldeia” vira Terra Indígena, inclusive no momento de apresentar o impoluto Ricardo Bacha, que seria “proprietário de uma das fazendas na Terra Buriti”. No caso, a “Fazenda Buriti”, que ele declarou à Justiça Eleitoral, há oito anos, valer R$ 333.106,94, como pode ser visto abaixo.

O que fica óbvio em meio a isso tudo é que os ruralistas estão divididos: parte quer garantir os R$ 80 milhões, parte quer (ou finge que quer) brigar. E para isso contam com a simpatia de uma mídia que não se peja em dizer que os pretensos proprietários exigem e dão ultimatos ao Governo Federal. O que, na minha opinião, faz a coisa ficar na verdade mais divertida. Como será que Dilma Rousseff, Gilberto Carvalho e Cardozo responderão a isso?

Segundo o Canal Rural, o próximo encontro deve acontecer na próxima terça-feira, no Tribunal Regional Federal da Terceira Região, em São Paulo. Resta saber quem vai pagar para ver…

Ricardo Bacha

Ricardo Bacha 2

 

 

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