A migração e as migalhas da esperança em campo ‘alheio’

Foto: Tania Pacheco
Foto: Tania Pacheco

Kau Dourado, para Combate Racismo Ambiental

A juventude que cansou de reproduzir sem questionar agora renasce na esperança. A comunidade de Gitirana, no Município do Bonito, recebeu a certificação quilombola em 18 de novembro 2011; de lá para cá muita coisa aconteceu na cabeça das pessoas. Uns questionavam por que Quilombolas, outros viam o simples certificado como uma possibilidade de acessar políticas públicas sem tanta burocracia, mas o que inquietava dez Jovens era por que uma comunidade, antes tão rica em produção agrícola e cultural, hoje tem uma média de 200 migrações sazonais por ano?

Segundo relatos dos primeiros moradores de Gitirana, a tradição era bastante diversificada. Tinha o reisado, a lapinha, as mulheres parteiras, as mães de leite, as benzedeiras (os), os cantos populares, o samba, o forro, os mitos, os contos, a fogueira, a alvorada, a capoeira, a via sacra, as crenças e festejos: a Iemanjá, caboclos, a reza das almas, as festas dos santos e o São João. Os instrumentos, os meios de transportes, a criações de animais, o plantio da mandioca, cana, milho, feijão, café, bananeiras, o engenho, engenhoca e a casa de farinha…

As enxurradas e tanques de barro garantiam a permanecia na terra. A produção era tão prazerosa que tudo terminava em festa. A letra de uma música dizia: “A felicidade está no sofrer do suor derramado”. Para os mais velhos, a fé era força diante dos sofrimentos. Resume o Senhor Joel Rodrigues: “eu era feliz e não sabia”.

O retrato do passado os mais velhos não cansam de mostrar para esses jovens, mas o motivo da decadência, esses jovens, com toda sua criatividade e harmonia com a natureza, aproveitam da visibilidade da copa de uma árvore para analisar seu entorno. O resultado vem como uma inspiração.

A comunidade está cercada hoje por fazendas. Esses proprietários, de fora, cultivam apenas o café, e a economia não circula mais dentro da comunidade. À medida que a comunidade foi imprensada, as possibilidades da melhoria na qualidade de vida foram diminuindo. Embora por direito seja donos da terra, os novos moradores não têm áreas suficientes para a plantação e a criação de animais.

O reflexo da grilagem na década de 70 tira as possibilidades dos pobres da terra. Em seu próprio território, fazem colheita em campo alheio. O resto que lhes sobra parece migalhas diante de tanta tecnologia, e a vergonha desses jovens que migram atormenta mais que um dia inteiro de sofrimento e dor para enriquecer os patrões.

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