Por Moniquinha
É inegável que a tentativa covarde e desesperada da bancada fundamentalista de retirar do Plano Nacional de Educação que tramita no parlamento brasileiro a diretriz que tem por objetivo maior superar de forma definitiva, através da promoção da igualdade racial, regional, de gênero e orientação sexual, todas as desigualdades educacionais, que hoje são uma triste realidade nas escolas e universidades públicas e privadas de nosso país faz com que uma pergunta fique rondando nosso pensamento sem cessar um segundo sequer. A quem ameaça a igualdade de gênero a ponto de gerar tamanha mobilização por parte destes ditos representantes do povo?
Chama a atenção o fato dessa bancada, extra oficialmente suprapartidária, ser composta em sua totalidade por parlamentares que possuem laços muito íntimos com a velada extrema-direita brasileira. Outro fato curioso é que, independente do partido que representam e das orientações de suas respectivas bancadas, tais parlamentares agem pautados, sem nenhum tipo de repreensão por parte de seus partidos ou lideranças, única e exclusivamente por suas profundas inclinações ideológicas travestidas de religiosidade.
Não se pode mais negar que os movimentos deste grupo conduzem, cada vez mais claramente, a uma criminosa apologia, seja ela explícita ou disfarçada: a violência física e psicológica por intermédio da intolerância, do preconceito e da discriminação, o que contraria frontalmente os Princípios Constitucionais da Igualdade e da Liberdade. O medo destes senhores de citar a questão de gênero no PNE vai muito além de um comportamento machista, preconceituoso ou intolerante. Ele deixa transparecer claros interesses econômicos. Afinal, quem alimentará fartamente suas igrejas e campanhas eleitorais tendo educação suficiente para fazer suas próprias escolhas e não se deixar mais conduzir feito cordeiros para o sacrifício involuntário por um maquiavelicamente construído pavor ao castigo divino em caso de desobediência a eles próprios, (i) legítimos procuradores de Deus?
Perder seu poder de manipulação e de captação de recursos deve na certa apavorá-los. Por isso uma educação inclusiva é para tais figuras tenebroso pesadelo. A simples inviabilização de eleições e reeleições em função de uma baixa consistente em seus recursos financeiros e capital eleitoral os aniquilaria em termos de concentração de poder. E sem poder eles nada mais são do que pregadores medíocres que fazem uso da fé do povo em seu próprio benefício. Ou alguém tem ainda a coragem de dizer que estes verdadeiros impérios econômicos edificados graças a exploração de pessoas humildes e inúmeras isenções de impostos é de vontade divina?
O Estado Brasileiro é Laico e assim deve permanecer pelo bem da democracia e do povo. É preciso ligar urgentemente o sinal de alerta. Fechar os olhos diante dos fatos seria de uma omissão covardemente criminosa. É preciso acordar e reagir. Sem o efetivo combate ao racismo, à violência contra a mulher e à homofobia nas escolas e nas universidades continuaremos a alimentar a construção de uma sociedade perversa, fundamentalista, intolerante, preconceituosa, capaz de rasgar a Constituição Federal a seu bel prazer, capaz de destruir a si mesma sem perceber.
E só para satisfazer a curiosidade de quem está lendo este texto. Sim, eu tenho religião e li a bíblia pela primeira vez aos dez anos de idade.