Manifestação ocorreu nesta terça-feira (15), nas ruas de Macapá. Estado abriga cerca de 8 mil índios, divididos em oito povos
Dyepeson Martins – Do G1 AP
Indígenas caminharam por ruas e avenidas de Macapá nesta terça-feira (15), em protesto à falta de escolas, postos de saúde e políticas públicas para desenvolvimento das aldeias onde vivem. Ao todo, o Amapá abriga cerca de 8 mil índios divididos em oito povos, segundo dados do governo do estado. O cacique Kurawayá, da aldeia Pedra da Onça, localizada no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, diz que veio à capital para cobrar “mais respeito” com a terra onde mora.
“Os governos querem aprovar leis para entrar na terra onde o índio vive. Mais respeito com a nossa terra. Hoje, nós moramos em um lugar muito distante da cidade. Não temos transporte e nem escolas para as nossas crianças estudarem. Educação não está melhorando, nossa saúde não está melhorando. Temos que lutar pelo que é nosso de direito”, declarou o cacique. Ele diz que mora numa aldeia onde vivem cerca de 2 mil índios.
Creusa Maria dos Santos é cacique na Aldeia Ahumá, localizada no município de Oiapoque, a 590 quilômetros de Macapá. Ela diz que os indígenas da região estão sofrendo com a demora na realocação das aldeias que serão retiradas do trecho norte da BR-156. Segundo a Secretaria de Transportes (Setrap), seis comunidades serão realocadas até dezembro de 2014 para que ocorra a conclusão das obras de asfaltamento na rodovia. A contrapartida do governo do estado prevê a construção de centros comunitários, postos de saúde e escolas nas novas aldeias.
“Está sendo um processo difícil para a gente. Não sabemos se vamos ser remanejados ou não. Queremos ser remanejados para salvar a BR-156 e termos uma vida melhor, porque fica difícil levar nossos produtos em uma rodovia que não é pavimentada. Mas parece estar difícil a negociação”, reclamou a cacique.
O titular da Secretaria de Estado de Políticas para os Indígenas (Seind), Coracy Gabriel, informou que o Amapá possui mais de 100 aldeias onde “foram implatados diversos projetos” para desenvolve-las. Ele acrescenta que o remanejamento das comunidades da BR-156 ocorrerá dentro do prazo previsto pelo governo.
“Tivemos um problema com a empresa que iria ser contratada para construir algumas aldeias, mas está tudo correndo bem. Vamos ter novas reuniões entre o governo e os representantes dos povos indígenas para discutirmos melhorias para o nosso povo”, afirmou.
Além de índios amapaenses, também participaram do protesto índios do norte do Pará. A representante da Comissão Nacional de Políticas Indigenistas no Amapá, Simone Karipuna, disse que o mês de abril representa o período em que os índios brasileiros se mobilizam para pedir melhores condições de vida.
“É um marco para todos nós essa manifestação. É provável que todas as regiões façam adesão a esse movimento. Um dos nossos maiores problemas hoje é a saúde, principalmente no Parque do Tumucumaque e na região de Oiapoque, onde se concentram o maior número de índios da região Norte”, destacou.
Após o ato, membros de várias tribos, entre elas Waiãpi e Kaxuyana, realizaram um ritual para celebrar o encerramento da caminhada na Fortaleza de São José de Macapá. Durante a manifestação, os indígenas tomaram uma bebida feita com álcool, batata e canela, tradicional nas aldeias.