Investigações da Comissão da Verdade e mobilizações de pesquisadores e ativistas chamam atenção para abusos contra povos indígenas no regime militar e hoje
Por Guilherme Freitas, O Globo
Em 1971, a Casa Civil do general Emílio Garrastazu Médici lançou um vídeo institucional sobre a construção da Transamazônica, estrada que ligaria o litoral da Paraíba ao interior do Amazonas. A obra era anunciada como pedra fundamental de uma “nova Amazônia”, que permitiria a “fixação do homem numa região de fartura ainda não explorada”. Na cena de abertura da propaganda, uma árvore gigantesca é derrubada ao som de música triunfal, enquanto o narrador reforça o tom ufanista: “A Revolução chega à selva. Cada árvore que tomba escreve uma história bem diferente das que povoavam a terra dos sacis, iaras e cobras grandes. Na arrancada do trator apaga-se a lenda, que some, envolta em outra magia: a magia do desenvolvimento”.
A propaganda mostra que o regime militar via na Amazônia um imenso território ocioso à espera de, como diz o narrador do vídeo, “colonização”. Essa política teve consequências trágicas para os ocupantes originais daquelas áreas. Centenas de índios morreram ou foram desalojados durante a ditadura devido à realização de obras do governo em suas terras, muitas vezes depois de contatos feitos com violência ou em condições inadequadas. (mais…)