Por Nana Soares/Agência de Notícia da Aids/Agência Patrícia Galvão
No dia 20 de novembro comemorou-se o Dia da Consciência Negra. A data lembra a morte do líder Zumbi dos Palmares e é feriado em 1.047 municípios do país, inspirando reflexões em torno das questões raciais no Brasil. No que diz respeito à saúde e, mais especificamente às DST/Aids, a marginalização social da população negra se reflete nos piores indicadores.
O último Boletim Epidemiológico de Aids, HIV, DST, Hepatites B e C do município de São Paulo, que conta com dados até o ano de 2010, observou um avanço da epidemia entre a população negra. Para cada grupo de 100 mil habitantes, foram diagnosticados 39,7 casos de aids entre pessoas da raça negra em 2010, contra 18 casos em brancos. No cenário nacional, a situação não é muito diferente. Um dado que chama atenção é a alta mortalidade dessa população em decorrência do HIV/aids. Embora os casos de aids notificados entre a população negra sejam menores do que entre a população branca, os negros morrem mais em decorrência da doença. Responsáveis por 9,8% dos novos casos de 2011, a mortalidade no mesmo ano ficou em 12,8% para os homens e 15,6% para as mulheres afrodescendentes. Nota-se também que este índice vem crescendo desde o ano 2000.
“Isso se deve provavelmente a uma falha no acesso a saúde dessa população. Pelo fato dos negros terem uma condição socioeconômica mais baixa, geralmente isso é usado como justificativa. Mas falando de aids, isso não se justifica, pois o tratamento é todo pelo sistema público”, diz Naila Santos, assistente da gerência de prevenção do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo.
Segundo ela, a causa mais plausível se deve ao fato da população negra acessar o serviço de maneira diferente. “A demora é maior para chegar até o serviço, para ter acesso ao diagnóstico”, diz. A médica reforça ainda a necessidade de uma política para igualdade racial também no âmbito da saúde, para que os índices diminuam. “Nós temos programas, mas na prática eles não diminuem essa diferença. Sabemos da diferença para a população negra, mas ainda não tratamos isso como prioridade. É hora d colocar essa pauta”, completa.
O número de gestantes negras infectadas pelo HIV também aumentou de 196 no ano 2000 para 517 em 2012. Somando-se à população parda, os dois grupos são responsáveis por 52,5% do total das grávidas soropositivas, contra 40,9% da população branca. Este índice chamou a atenção do diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita. Nesse mês de novembro, durante a III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, em Brasília, Mesquita comentou sobre a promoção de ações para prevenção de DSTs e aids para a juventude negra e povos e comunidades tradicionais, como grupos quilombolas.
“Quando analisamos os dados epidemiológicos com o recorte raça/cor, no atual cenário da epidemia de aids, observamos que a maioria do número de casos de HIV e sífilis está em gestantes autodeclaradas como negras e pardas”, disse ele. Também para o diretor, tais dados indicam a necessidade de uma política de igualdade racial também na saúde pública. “Por isso o 20 de novembro é um dia importante para pensar e refletir. O serviço pode até não ter preconceito, mas temos que entender que a trajetória dos negros até lá com certeza é diferente”, finaliza Naila Santos.