A real abolição: Brancos possuem melhor qualidade de vida

maos socioambientalismoTom da pele dita posição social. Estudo deixa claro que a desigualdade racial está presente nos indicadores de educação, saúde e renda do país.

Por Victor Martins e Bárbara Nascimento, em Estado de Minas

Brasília – Pela métrica do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), e segundo as observações da pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sobre a desigualdade no país, o Brasil branco tem uma qualidade de vida semelhante à da Sérvia, que não tem “características de país de Terceiro Mundo”. O de negros e pardos fica entre as nações de IDH baixo, como o Turcomenistão, a Tailândia e a China, países que avançam rapidamente.

O estudo, elaborado pelo professor Marcelo Paixão, não prega o separatismo. Muito pelo contrário, evidencia a desigualdade racial que persiste nos indicadores de educação, saúde, segurança e renda. “O Brasil construiu uma naturalização de papéis sociais, que faz com que uma pessoa esteja condenada a uma posição por causa da cor pele”, explica o professor. “Como é considerado normal que os negros ocupem o andar de baixo na sociedade, todos tratam como se fosse natural, como se não houvesse necessidade de mudar”, argumenta.

A construção da nova classe C, impulsionada pela distribuição de renda — principalmente por programas como o Bolsa-Família e os reajustes do salário mínimo —, apesar de não ter sido montada com base em uma política direcionada para negros, beneficiou essa população e ajudou a amenizar as disparidades entre os brasileiros.

Dados do Data Popular reforçam que 75% das pessoas que ascenderam à classe média na última década são pretas e pardas e, hoje, somam 53 milhões. “A entrada do negro no universo do consumo melhorou a vida individualmente, mas não alterou a dinâmica das relações étnico-raciais, nem lhes deu total acesso à cidadania”, ressalta Renato Meirelles, do Data Popular.

O mercado de trabalho, no setor público e privado, ainda abre mais possibilidades à população não negra. Dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) revelam que o desemprego entre brasileiros pretos e pardos é maior que o registrado entre os brancos: 11,9%, contra 9,2%. Entre as mulheres negras, o índice é ainda pior, de 14,1%. “Elas sofrem o que chamamos de múltiplo preconceito por serem mulheres e negras”, explica Mônica Oliveira, da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial. No funcionalismo público federal, a situação é semelhante: os negros são 33% do contigente de servidores e ocupam as vagas com menor salário, justamente porque não tiveram acesso a uma boa educação para disputar postos mais bem remunerados. Cerca de 90% dos negros estão em escolas públicas.

Com opções limitadas de acesso à educação formal, os pretos e pardos são também os mais empurrados para a informalidade. “O número de empreendedores negros tem crescido, mas o problema é que ter o próprio negócio não foi uma escolha para boa parte deles”, afirma Mônica. “É diferente da pessoa branca, que vai por esse caminho porque enxerga uma oportunidade.”

Enviada Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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