A dívida do Brasil com os negros

Menino bandeiraCícero J. Silva*, Diário da Manhã

Antes de adentrarmos a qualquer discussão sobre as conquistas dos negros atualmente na sociedade, é essencial que remetamos aos primórdios de sua história de martírios, escravidão e lutas. Foi pelas mãos destes homens, em situação humilhante de escravidão, que as riquezas da América e em especial do Brasil se afloraram. Eles prestaram serviços escravo, obrigatórios, gratuitos, forçados e em condições subumanas, com maus-tratos por séculos; nas lavouras, nos garimpos, nos transportes de cargas e em qualquer outra atividade que precisasse de mão de obra.

Assim foram esculpindo uma grande parte da história econômica e social deste país. Basta vermos o número atual da miscigenação de raça, que, segundo o Censo Demográfico de 2010, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 43,1% da população se classificam como pardas, ou observarmos as influências na religião (umbanda e candomblé), na culinária (feijoada, vatapá, acarajé), na música e no vestuário.

É importante salientar que o comércio de escravos não representou ganhos econômicos apenas para a América, mas foi uma excelente alternativa econômica para a Europa e trouxe muitos lucros para os europeus. Devemos valorizá-los e conter, de uma vez por todas, qualquer resquício de preconceito.

Parte dos países do mundo e o Brasil tem uma enorme dívida com os negros, pois sacrificaram gerações com trabalho escravo para garantir, absurdamente, uma vida de luxo aos homens de cor branca, perderam suas linhagens familiares em tráficos de escravos pelo mundo ou mortos espancados em troncos nos pátios das senzalas. Após 13 de maio de 1888, data da abolição da escravidão no nosso país, eles enfrentaram, ainda, o grande problema de serem postos em liberdade sem o mínimo de planejamento, sem emprego, assistência social ou qualquer coisa que garantisse a sua sobrevivência. O resultado disso é marginalização e o preconceito.

Vários programas do governo, incluindo bolsas e cotas em universidades, tentam ressarcir parte desta dívida e inseri-los de vez, com respeito e dignidade, na sociedade. Como continuidade da luta contra o preconceito e conquistas dos direitos dos afro-brasileiros, foi instituído o Dia Nacional da Consciência Negra, dia 20 de novembro, em homenagem à morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.

Calcula-se que o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) do país para cada dia parado é cerca de 60 milhões de reais. Sem dúvidas, este é o um feriado que o Brasil pode arcar com todos os prejuízos financeiros, pois este montante não representa a mínima parte da enorme riqueza que os negros  forneceram, gratuitamente,  a nossa nação.

*Cícero J. Silva, professor da rede estadual de ensino, ambientalista, pós-graduado em Perícia Ambiental, vice-presidente do PV e secretário do Ifam. [email protected].

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