Nota da Aty Guasu frente à ameaça de morte coletiva anunciada pelos fazendeiros

Basta de genocídio

Esta nota pública da Aty Guasu visa explicitar que nos últimos 40 anos, Nos Guarani e Kaiowá somente lutamos para recuperar um pedacinho de nossas terras tradicionais. Desde meados de 1960, o povo Guarani e Kaiowá foi e é obrigado e forçado a resistir e reagir às violências promovidas tanto pelo Estado brasileiro quanto pelos fazendeiros/políticos do sul de Mato Grosso do Sul. Não queremos mais guerra contra nós indígenas. Frente às violências históricas dos fazendeiros, aos poucos os indígenas para sobreviver resistem e lentamente reagem às ações truculentas do Estado e dos fazendeiros.

Em 1960, os fazendeiros e seus pistoleiros que chegaram ao sul de Mato Grosso do Sul em nossos tekoha terras tradicionais sempre portavam os dois revólveres (38 e 44) e balas na cintura e seus pistoleiros carregavam nas mãos duas espingardas (12 e 28), em qualquer momento já atiravam em direção dos indígenas, com os tiros de armas de fogos faziam correr os índios. Na época os índios não reagiam contra os pistoleiros, os índios para não morrer só corriam e fugiam com a sua família dos pistoleiros. Os fazendeiros e seus pistoleiros eram extremamente temidos, por que matavam sem piedade os índios.

Naquela época, fazendeiros falavam rindo que matar índios não é nada, matar índios bugre não é crime, por isso, eles matavam índios rindo, era assim naquela época. Quando os fazendeiros mandavam matar índios, nenhum índio podia se defender e nem falar nada, se alguns índios se manifestassem ou reagissem contra as ações dos fazendeiros eles mandavam matar na hora ou era preso e mandava para cadeia. Naquela época, esses fazendeiros e seus pistoleiros já demonstravam que não gostavam mesmo de nós índios, apresentavam os olhares nervosos e bravos sobre os índios. Era assim naquela época, os fazendeiros já falavam para nós que ia mandar matar muitos índios. Mandaria matar tudo. Na verdade, já naquela época eles mataram muitos índios e continuam matando nós índios até hoje”. (Narrações de idosos (as) guarani-kaiowá do Mato Grosso do Sul).

A princípio a guerra ou pistoleiros contra os indígenas sempre foram financiados pelos fazendeiros/políticos permitidos pelo governo e justiça do Brasil que perdura até os dias de hoje. Nós indígenas sabemos muito bem que todos os fazendeiros instalaram as fazendas sobre as terras indígenas sempre com o apoio dos pistoleiros contratados, ou melhor, todas as fazendas foram criadas sobre as terras indígenas com as violências contra os indígenas Guarani e Kaiowá. Essa é a verdade.

Para nós indígenas Guarani e Kaiowá, contratação de seguranças particulares armadas ou pistoleiros pelos fazendeiros não é novidade. Em meados de 1970, os fazendeiros já falavam isso diretamente para indígenas, realmente contrataram os pistoleiros e expulsaram os indígenas de suas terras, os fazendeiros já mandaram atacar e assassinar vários indígenas, de fato, a guerra contra Guarani e Kaiowá já foi declarada e financiada pelos fazendeiros há 40 anos, por isso esse anúncio de fazendeiros de que há risco de haver “guerra” e “derramamento de sangue indígenas” no campo não é novidade para os indígenas, isso já aconteceu e está acontecendo, os fazendeiros já promoveram as violências permanentes contra os indígenas, os fazendeiros já derramaram os sangues indígenas sim. Eles claramente somente querem atualizar, renovar a guerra e evoluir as formas de matar os indígenas nas suas terras. Hoje é a continuidade da guerra financiada pelos fazendeiros contra os indígenas.

Em primeiro lugar, pretendemos evidenciar que os fazendeiros sempre contrataram e contratam os pistoleiros e armas de fogo para atacar, assassinar e expulsar os indígenas Guarani e Kaiowá de suas terras tradicionais. Para evidenciar mais a nossa nota/informativo, relatamos expulsões dos indígenas Guarani e Kaiowá de suas terras promovidas pelos pistoleiros contratados dos fazendeiros.

Em 1980-citamos um exemplo: Em meado de 1980, as comunidades Guarani e Kaiowá do tekoha Jaguapiré-Tacuru-MS passaram a sofrer ameaças constantes pelos fazendeiros José Fuente e Octávio Junqueira Morais, por fim, no dia 02 de março de 1985, as famílias foram atacadas e despejadas violentamente pelos 30 homens armados e policiais militares contratados pelos fazendeiros. De forma violenta, os indígenas Guarani e Kaiowá foram torturados, crianças e idosos machucados, despejados e largados à margem da reserva Sassoró pelos jagunços contratados pelos fazendeiros. A polícia Federal investigou a violência contra os indígenas. Mas uma semana depois, os indígenas retornaram a terra Jaguapiré onde resistiram e reagiram às violências dos fazendeiros.

Em 1970-, os fazendeiros passaram contratar os pistoleiros para realizar o despejo dos indígenas Guarani Kaiowá da terra indígena tradicional Potrero Guasu-Paranhos. Em meados de 1990, os indígenas retornaram a terra indígena Potrero Guasu. Em 2000, os fazendeiros deixaram de contratar os advogados para realizar despejo judicial dos indígenas, mas passaram contratar os pistoleiros para realizar o despejo dos indígenas.

Em janeiro de 2000, por volta da meia-noite, 50 jagunços armados e vestidos com roupas do Exército, invadem o local a fim de executar a expulsão sumária da Comunidade. Trinta e cinco casas com todos os pertences das famílias indígenas são incendiadas. Os agressores dão tiros nos índios e espancam alguns índios, inclusive uma criança. Mulheres são estupradas na frente dos maridos e dos filhos. Os índios que não conseguem fugir para o mato são amontoados na carroceria de uma caminhonete e despejados nos arredores da aldeia de Pirajuí, há muitos quilômetros de distância.

Em meados de 1990 e 2000, lembremo-nos dos tiros de armas de fogo de calibre 12 dos pistoleiros contratados dos fazendeiros que acertaram o peito e a cabeça do cacique Nisio Gomes, no dia 18 de novembro de 2011, por que também retornou a reocupar a sua terra tradicional. Relatamos os tiros de arma de fogo que atravessaram o peito do professor Genivaldo Vera no dia 31 de outubro de 2009, por que estava retornando a terra tradicional Ypo’i. De forma igual, relatamos os tiros de armas de fogos que atingiram a cabeça da rezadora Xurite Lopes, janeiro de 2007, por que estava retornando a sua terra tradicional Kurusu Amba-Coronel Sapuacai-MS.

No dia 18 de novembro de 2011, por volta da 06h00min, no tekoha Guaiviry-Aral Moreira-MS entre Amambai e Ponta Porã-MS, o cacique Guarani e Kaiowá NISIO GOMES foi assassinado de modo cruel pelo grupo de pistoleiros/seguranças da empresa GASPEM, contratados pelos fazendeiros. O cadáver do cacique Nisio foi transportado na caminhonete e ainda não foi encontrado pela Polícia Federal. Hoje, quatro (04) fazendeiros se encontram foragidos da justiça. No próximo dia 18/11/2013 completa dois (02) anos. A terra indígena GUAIVIRY tradicional NÃO FOI DEMARCADA PELO GOVERNO FEDERAL.

Em julho de 2003, um grupo tentou retornar à tekoha Pyleito kue/Mbarakay. Dois dias depois homens armados contratados pelos fazendeiros invadiram o acampamento e expulsaram os indígenas com violência e torturas. Em todos os ataques dos pistoleiros das fazendas, os indígenas Guarani e Kaiowa foram amarrados, espancados, as pernas e braços fraturados e colocados num caminhão, sendo deixados em local distante da terra indígena tradicional reivindicada. Os mais atingidos pelas violências sempre foram idosos e crianças. Frente a situação relatada as comunidades resistem e insistem em recuperar o tekoha Pyelito kue/Mbarakay de seus antepassados.Todas as comunidades violentadas retornaram à reocupar as suas terras.

Ao longo de 2000, importa destacar que outras lideranças Guarani e Kaiowa sofreram e foram pegos interrogados e assassinados pelos pistoleiros das fazendas, de modo similar ao cacique Nisio Gomes, como as lideranças Guarani e Kaiowa Marco Veron na Takuara, Dorival Benites em terra Sombrerito, Dorvalino Rocha em terra Ñanderu Marangatu, Genivaldo Vera, Rolindo Vera em terra Ypo’i, Samuel Martins em terra Ka’ajari, Xurite Lopes, Ortiz Lopes em terra indígena Kurus Amba entre outras lideranças indígenas. Mais uma vez, pedimos à Justiça Federal normal do Brasil a o julgamento e punição aos pistoleiros assassinos dos líderes indígenas no Brasil.

Em geral, as comunidades indígenas no Brasil são condenadas à genocida e as lideranças foram condenadas à pena da morte por lutar pela recuperação de terras indígenas tradicionais. É mais lamentável que a Justiça Federal normal do Brasil não julga os fazendeiros mandantes e os pistoleiros dos fazendeiros e anti-indígenas que a década atua e opera em todas as partes do Mato Grosso do Sul, condenando os povos indígenas à genocida no Brasil.

Demonstramos a todas as sociedades nacionais e internacionais que os fazendeiros têm contratados os pistoleiros para expulsar e matar os indígenas de suas terras desde 1950 que perdura até os dias de hoje. Essas violências contra os indígenas financiadas pelos fazendeiros são antigas, por isso hoje, os indígenas já começam a reagir também às violências do Estado e dos fazendeiros. Importa se compreender que os indígenas não são violentos e nem possuem as armas de fogos e nem gostam de reagir à guerra dos fazendeiros, mas os pistoleiros contratados pelos fazendeiros sim são cruéis, temidos e utilizam as armas de fogos há década. Essa é a verdade.

Por fim, assim, todos (as) sociedade nacionais e internacionais ficam sabendo bem que os Guarani e Kaiowá e Terena no MS não somos violentos, só lutamos para sobreviver, lutamos para recuperar um pedacinho de nossas terras tradicionais. Todas as terras são nossas só vamos recupera um pedacinho sim. Em alguma ocasião só começamos e continuaremos a resistir e reagir às violências do Estado brasileiro e dos pistoleiros contratados pelos fazendeiros.

Atenciosamente,

Tekoha Guasu Guarani e Kaiowa, 13 de novembro de 2013.
Aty Guasu Guarani e Kaiowá contra os pistoleiros contratados pelos fazendeiros.

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