Ruben Siqueira, por Articulação São Francisco Vivo
ÉLSON RIBEIRO BORGES era quilombola, lavrador, pescador, ribeirinho do Rio São Francisco, liderança de sua comunidade Barra do Parateca, em Carinhanha-BA, e dirigente do CETA – Movimento dos Trabalhadores Rurais Assentados, Acampados e Quilombolas da Bahia.
Ontem, 23 de julho de 2013, pelas 19 hs, sua vida de luta encontrou sua “barra” intransponível. Voltando de Bom Jesus da Lapa para casa, de moto, já próximo de chegar, não conseguiu evitar o choque fatal com um cavalo na estrada. Tantas barreiras na vida tinha conseguido driblar: prisão, ameaças de morte e todo tipo de pressão de grileiros poderosos sobre ele e sua comunidade…
O caso de Barra do Parateca e de suas lideranças, como Élson, é exemplar. Comunidade tradicional ribeirinha, tem no rio São Francisco seu eixo e fonte vital. Agricultura de vazante nas terras de margem e ilhas fertilizadas pelas cheias do rio, vários tipos de pesca e criatório de animais se combinam para gerar e manter 214 famílias. Uma história tão gloriosa quanto desconhecida: estas comunidades negras do Médio São Francisco baiano e mineiro, únicas resistentes à “febre dos alagadiços” (malária), forneceram os mantimentos para os viajantes do “Rio da Integração Nacional” até praticamente o século XIX. Como remanescentes da escravidão, ocupavam áreas da União (margens de um rio federal) e contíguas terras devolutas.
Em 2005 recebeu a Certidão de Auto-Reconhecimento da Fundação Cultural Palmares, do Governo Federal. Foram iniciados pelo INCRA os estudos técnicos para identificação e delimitação do território (RTID). Foi o suficiente para que fazendeiros da região, inclusive um Juiz de Direito, “crescessem os olhos” sobre a terra. Botaram cercas e encantoaram as famílias num trecho ribeirinho de 600 metros de frente e 300 de fundo. Teve início a via-crucis desta comunidade. Piorou quando o INCRA concluiu pela autenticidade do quilombo. Não poucas vezes teve ela que replantar a roça pisoteada pelo gado dos fazendeiros, encarar a fome, esconder-se de pistoleiros, recorrer e esperar pela Justiça…
Quando topava com Élson e perguntava “como vai sua Barra?”, ele respondia “firme na luta!”, antes de dizer das dificuldades que não cessavam. Barra do Parateca não sucumbiu às ameaças e pressões, ou mesmo por causa delas, soube manter-se unida e alegre, em fraternal convivência entre católicos, evangélicos e adeptos do candomblé. Tornou-se um símbolo de firmeza e resistência, e isto muito se deve a lideranças como a de Élson, sua esposa Durcelene, pastor Almir e outras. Terá agora que se desdobrar e ser mais apoiada para continuar firme sem seu principal líder.
A altivez fiel e serena de Élson, fruto das agruras e lições da vida, fique para seus cinco filhos, sua esposa, sua comunidade e para todos e todas nós, como exemplo e apelo ao compromisso. Sobretudo na luta quilombola, em seu momento talvez o mais difícil.
Élson chegou à sua barra, desaguou no Rio do Quilombo de Deus, na Paz que incansavelmente buscou para os seus! Descanse, companheiro!
Salvador, 24 de julho de 2013.
Prezados,
Somente a fatalidade poderia impedir a permanência na luta desta liderança incassável por justiça para as comunidades quilombolas.
Acredito que mesmo não estando fisicamente a sua energia será fortalecida sempre na Comunidade de Barra do Parateca e também nas demais comunidades quilombolas do Brasil principalmente nos momentos de garantia dos direitos.
Que Deus ilumine a sua nova caminhada! Axé!