Na cidade história de Tiradentes, MG, pesquisadores da ENSP estudam ampliação da parceria com a Petrobras e traçam planos para o Comperj

Alexandre Anderson, presidente da Ahomar, um dos Defensores Humanos e pescador artesanal ameaçados de morte
Alexandre Anderson, presidente da Ahomar, e sua mulher, Daize, ambos Defensores dos Direitos Humanos e pescador@s artesanais ameaçados de morte, estão sendo obrigados a se esconder fora de Magé, em condições indignas, desde novembro de 2012.

Respeitosamente, não resisto a levantar duas questões a respeito desta notícia. Tendo como pano de fundo a lembrança da figura ao lado, até hoje fora de sua casa, junto com a esposa, e de seus companheiros de luta, quatro dos quais assassinados e dois desaparecidos, pergunto: (1) será buscar um ‘distanciamento crítico’ brechtiano ir discutir o COMPERJ, que está acabando com o fundo da Baía de Guanabara, em Tiradentes, cidade história de Minas Gerais? e (2) Curioso como a questão da violência aparece: item final e transformado em “Questões teóricas e metodológicas sobre violências” . Haja metodologia…? E viva a AHOMAR!  (Tania Pacheco)

Filipe Leonel, no Informe ENSP

O grupo responsável pelo Plano de Monitoramento Epidemiológico da Área de Influência do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) se reuniu, de 1º a 4/7, na cidade de Tiradentes, em Minas Gerais, para discutir as ações e os desafios do projeto que acaba de ser renovado com a Petrobras por mais 24 meses. O seminário, conduzido pelo coordenador-geral do plano, Luciano Toledo, pelo coordenador técnico, Paulo Sabroza, e pela coordenadora de gestão técnico-administrativa, Maria Lana, todos pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP), traçou estratégias para manter o componente ensino como uma das prioridades do conjunto de atividades e contribuir para a consolidação da linha de pesquisa Vigilância e Monitoramento das Condições de Vida e Saúde nas Áreas de Influência de Grandes Empreendimentos.

A atuação da ENSP no Comperj está voltada para o acompanhamento dos agravos entendidos como sensíveis à população, entre os quais as transformações socioambientais, o aumento da violência, os acidentes de transporte, a ocupação dos espaços urbanos, o consumo de drogas e as consequências que um grande projeto de desenvolvimento pode trazer para a região. As ações do plano também incluem análise da transição demográfica e epidemiológica, dos determinantes das condições de vida e saúde presentes nos grupos sociais mais vulneráveis e dos componentes incapacidade para o trabalho e sofrimento.

“A grande abrangência do projeto resultou em um programa de desenvolvimento científico da Fundação no entorno do Comperj, com atuação nas áreas de cooperação, ensino, desenvolvimento e inovação tecnológica em saúde”, explicou Luciano Toledo.

O seminário teve duas etapas. Na primeira, ocorrida nos dias 1º e 2/7, foram discutidas as ações para o biênio 2013/2014. As definições dessa primeira atividade visam à criação de uma linha de pesquisa na ENSP sobre o monitoramento de grandes empreendimentos, um plano de divulgação das atividades da Escola no Comperj, em 2011 e 2012, e das defesas da primeira turma do mestrado profissional de Vigilância em Saúde da Região Leste do Estado do Rio de Janeiro. “O protagonismo assumido pela Fiocruz ao monitorar a situação de vida e saúde na implantação de grandes empreendimentos deve se tornar uma tendência nacional, com a criação da linha de pesquisa Vigilância e Monitoramento das Condições de Vida e Saúde nas Áreas de Influência de Grandes Empreendimentos”, afirmou Toledo.

Oficina de artigos para composição do livro

Os coordenadores também ressaltaram a importância de ampliar as estratégias de comunicação das atividades do Laboratório de Monitoramento Epidemiológico de Grandes Empreendimentos (LabMep), mais uma iniciativa do programa para acompanhar os agravos considerados sensíveis à população, tendo em vista o que um grande projeto de desenvolvimento como o Comperj pode trazer para a região. Outra pauta discutida foi a criação da página eletrônica do Plano de Monitoramento Epidemiológico da Área de Influência do Comperj.

Além dos coordenadores do programa, participaram as pesquisadoras Edinilsa Ramos de Souza, do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde (Claves/ENSP); Denise Barros, do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (ENSP); Lúcia Abelha, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ; Nildimar Honório e Martha Suarez Mutis, do Instituto Oswaldo Cruz; e Jefferson Caldas, mestrando em Saúde Pública da ENSP. Também estiveram presentes Alba Valeria de Lima Mendes, Ricardo Carvalhal de Moura Jr. e Arlindo Machado de Azevedo, no apoio técnico-administrativo, e o cartunista Mayrink, designer e ilustrador dos Cadernos de Monitoramento Epidemiológico e Ambiental.

A segunda etapa do seminário reuniu, além dos coordenadores do plano, os alunos dos programas de pós-graduação da ENSP Jefferson Caldas, Alexandre San Pedro, Raquel Torres e Eliane Luz, o jornalista da ENSP Filipe Leonel e o professor Gil Sevalho. Na segunda fase, pesquisadores e alunos apresentaram os resultados preliminares dos artigos que integrarão a primeira edição do livro.

Os temas abordados foram: Problemática sociossanitária no entorno de empreendimentos de grande interesse nacional; Divulgação das ações do Plano de Monitoramento Epidemiológico da Área de Influência do Comperj no Portal ENSP; Território e uso do solo; Dinâmica populacional; Aspectos históricos da região; Indicadores sociais; Movimentos sociais; Transição epidemiológica na região do monitoramento do Comperj; Padrões de morbimortalidade; e Questões teóricas e metodológicas sobre violências.

Comments (8)

  1. Gostaria de deixar claro também que não respondo pelo projeto, apenas sou um colaborador que está passando a sua visão dos fatos que vivo dentro do mesmo.
    Abraços a todos
    Jefferson

  2. Com relação aos links , já acompanho e o site e parabenizo o trabalhos de denuncia e conscientização que vocês fazem.

  3. Querida Tania
    Os nossos materiais que estão na rede ou são reportagens ou são algumas cartilhas, estes são apenas pequenas amostras do nosso trabalho. Por isso talvez não tenha encontrado tanta informação acerca do tema.
    Em relação ao movimento dos pescadores eles são muito importantes e tem sua razão de ser mais do que sabida, contudo não só este movimento que é importante em nossa visão. Toda e qualquer organização social é importante e merece nosso olhar mesmo que limitado por uma série de fatores.
    Dentro desta visão temos um grupo de estudo que somente pesquisa este viés no plano de monitoramento e que em breve estará juntamente com outros grupos do monitoramento estarão lançando um primeiro livro, no qual terá um capitulo inteiro dedicado a questão dos movimentos sociais.
    Claro que não se pretende e não há como esgotar e trabalhar este tema em sua totalidade em apenas um capítulo ou num plano de monitoramento epidemiológico. É um tipo de estudo complexo e que deva expressar a heterogeneidade dos movimentos sociais da área em estudo,que é o município de Itaboraí, Guapimirim e Cachoeiras de Macacu. Só o recorte espacial já é um grande limitador, além de condições de recursos humanos e materiais para se pretender abordar todos esses movimentos em sua totalidade e profundidade.
    Novamente me coloco a disposição para repassar materiais e informações a cerca do projeto para que todos e você possam ter uma opinião mais embasada. De fato reconhecemos que a comunicação deste plano de monitoramento epidemiológico é um dos pontos que temos que melhorar.
    Desde já agradeço a atenção
    Bjs
    Jefferson

  4. Jefferson,

    Mudei, sim, o título da matéria. Só que o original era: “ENSP amplia parceria e traça planos para o Comperj” (http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/33198).

    Agradeço tua oferta e entendo tua preocupação, mas já olhei alguns materiais do projeto, disponíveis na internet, faz algum tempo, inclusive. E em nenhum deles encontrei qualquer menção à luta dos pescadores e pescadoras artesanais para continuar em seu território pesqueiro. Menos ainda encontrei menção aos mortos, desaparecidos e ameaçados – todos lideranças da AHOMAR, cuja luta contra o Comperj é reconhecida internacionalmente.

    Se desejar, veja a respeito, por exemplo, http://racismoambiental.net.br/2013/04/front-line-defenders-denuncia-internacionalmente-nova-ameaca-de-morte-e-intimidacao-policial-contra-pele-fundador-e-atual-diretor-da-ahomar/; http://racismoambiental.net.br/2013/01/a-homenagem-da-front-line-defenders-a-alexandre-anderson-no-vozes-da-linha-de-frente/; http://racismoambiental.net.br/2013/01/protection-international-organizacao-de-direitos-humanos-sediada-na-belgica-tambem-noticia-e-apoia-denuncias-sobre-alexandre-dayze-e-a-ahomar/; http://racismoambiental.net.br/2013/01/front-line-defenders-apoio-a-alexandre-anderson-e-a-carta-enviada-por-dezenas-de-entidades-brasileiras-solicitando-seguranca-para-ele-e-sua-familia-ja-percorrem-o-mundo/; http://racismoambiental.net.br/2013/01/brasil-%c2%96front-line-defenders-apoia-carta-aberta-as-autoridades-expressando-preocupacao-com-a-seguranca-do-defensor-dos-direitos-humanos-alexandre-anderson-e-sua-familia/; ou http://racismoambiental.net.br/2012/12/a-historia-de-alexandre-anderson-no-evento-vozes-da-linha-de-frente-voices-from-the-front-line/, entre outras.

    Tudo de bom para você,
    Tania.

  5. Esqueci o título está equivocado na sua essência. Não temos parceria e sim um contrato e não traçamos planos para o comperj…para ter uma idéia nunca entramos no comperj. Traçamos planos para o LabMep que nada tem de subordinado a Petrobras, e que é muito maior que apenas o projeto comperj . Temos total liberdade crítica e científica.

  6. Querida Tania.
    Com relação ao local do encontro em nada tem haver com questão de distanciamento, até porque não acreditamos nisso. Todo trabalho é calcado em cima de valores pessoais e ideológicos. Foi lá dessa vez como já foi em Itaboraí, foi uma escolha meramente administrativa para se obter um foco maior longe das atribuições do dia a dia. Até porque o seminário foi para planejar as ações do Laboratório de Monitoramento Epidemiológico de Grandes Empreendimentos como um todo e não somente do monitoramento do Comperj, foram debatidos outras coisas muito além do Comperj que não é o único objetivo deste grupo de pesquisa.
    Estamos em campo o tempo todo, pois acreditamos que o pesquisador tem que estar ao lado do povo e ter um partido sim.
    Já com relação ao nosso trabalho acho que seria interessante você ler nossos relatórios, as cartilhas e procurar saber das nossas inúmeras atividades em conjunto com a população local ( como um mestrado voltado para os técnicos locais, onde eles inclusive recebem embasamento teórico para serem pessoas mais críticas como por exemplo mesmo podemos citar as disciplinas ministradas pelo grande professos e pesquisado Marcelo Firpo), que tenho certeza que muitas de suas dúvidas levantadas serão sanadas. Me coloco a disposição para lhe passar tais documentos e convida-la para as atividades futuras.
    Vemos em campo cotidianamente os reflexos negativos que um grande empreendimento traz consigo e trabalhamos para produzir dados e subsídios para que os mesmos sejam minimizados seja por intervenção sanitária, seja por meio da cultura, por meio do treinamento, esclarecimento, educção entre outras formas.
    Olhamos com grande atenção paras as populações mais vulneráveis socialmente que quase invariavelmente se encontram nas áreas de maior vulnerabilidade ambiental. Temos um trabalho só voltado para o mapeamento e estudos das áreas onde se concentra essas populações.
    Por aqui não tem como expor toda a complexidade do projeto de monitoramento epidemiológico deste empreendimento, estou a disposição para tentar esclarecer o que você ou outros leitores ainda tenham de dúvidas e curiosidades.

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