Os privilégios de ser uma mulher branca

Conceição Evaristo
Conceição Evaristo

Maçãs Podres – Nestes dois anos de muita pesquisa, nunca tivemos tanta dificuldade em achar artigos que fundamentassem nossos textos. Não pela ausência de material sobre a condição da mulher negra, mas pela inexistência de textos representativos capazes de sentenciar os privilégios sociais de ser uma mulher branca. Toda via, a partir das sementes plantadas por Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro, Ângela Davis e Eldridge Claever, e muitas outras, além de uma entrevista da escritora CONCEIÇÃO EVARISTO, nós Maçãs Podres conseguirmos construir uma dialética que nos forneceu as primeiras respostas sobre este tema ainda tão pouco explorado dentro do feminismo.

“Ser uma mulher negra não é simplesmente ser uma mulher”

Muito lúcida, a escritora CONCEIÇÃO EVARISTO explica que há diferentes implicações feministas entre ser mulher negra e ser simplesmente uma mulher:

É muito diferente (ser mulher negra e simplesmente mulher). A questão étnica pode ter um peso bem grande, mas vai depender muito da situação em que se está. Na questão do feminismo, por exemplo, enquanto as mulheres brancas precisaram sair às ruas para ficar livres da tutela do pai, do marido ou do irmão, esse não foi o nosso caso. Não precisamos lutar pra ficar livre da dominação e querer trabalhar. A gente sempre precisou trabalhar. O nosso feminismo vem para a gente se afirmar como pessoa. Eu acho que a nossa primeira luta feminista não foi contra o homem negro, mas contra os nossos patrões e patroas. Enquanto a primeira luta da mulher branca e da mulher de classe média foi contra os homens de sua própria família – e eu não estou dizendo que o homem negro não seja machista -, nós nos posicionamos primeiro contra o sistema representado, principalmente, pelo homem branco e pela mulher branca”.

Ser uma mulher branca significa ter miseráveis privilégios

Se nunca te perguntaram se a “patroa” estava em casa, quando você foi atender alguém no portão da residência onde mora; se você nunca reparou que foi vigiada por seguranças ao entrar em um Shopping Center; se você nunca se preocupou com o fato de um porteiro ou inquilino te mandar entrar pela área de serviço do condomínio privado em que mora uma amiga; se provavelmente você jamais buscou saber dos estudos que comprovam que os professores tendem a tratar melhor e dar maiores notas aos alunos e alunas brancas; ou se jamais notou que, a medida que sua escolaridade aumentava, existia cada vez menos meninas negras sentadas ao seu lado, sinta-se uma miserável privilegiada, pois provavelmente você deve ser branca.

Agora, se você já se perguntou por que te chama a atenção o fato de que a maioria das doutoras da faculdade tinha a pele clara? Ou por que sua ginecologista, dentista e psicóloga nunca eram negras? É porque você provavelmente já se incomodou ou ousou questionar os privilégios miseráveis de ser uma mulher branca. Provavelmente não foi fácil sentir que para “superar as desigualdades geradas pela histórica hegemonia masculina, você terá também que superar as ideologias complementares desse sistema de opressão, como é o caso do racismo”, como bem entendemos, ao lermos a SUELI CARNEIRO. Não é fácil, mas é necessário.

Ser mulher negra significa lutar dentro dos movimentos negro e feminista para não ser invisibilizada

ANGELA DAVIS, provavelmente a maior intelectual do movimento negro do séc. XX, sentenciou que (existe) “…uma síndrome infeliz entre alguns ativistas masculinos Pretos – que confundem sua atividade política com uma afirmação da sua masculinidade. …Eles viram – e alguns continuam vendo – a masculinidade Preta como algo que se separa do estado de mulher Preta. Esses homens examinam mulheres Pretas como ameaça à sua obtenção da masculinidade – especialmente aquelas mulheres Pretas que tomam a iniciativa e trabalham para serem líderes no seu próprio direito.”, ou seja, é provavelmente muito comum que mulheres negras (que ainda não desenvolveram uma forte consciência feminista, ao buscarem sua afirmação pessoal quando saem de algum movimento formado predominantemente por mulheres brancas, como citou CONCEIÇÃO EVARISTO) acabem tendo seu potencial de atuação limitado pelo machismo que se estruturou na cabeça dos homens negros, filhos das diásporas africanas.

Ser uma mulher branca significater o privilégio miserável de se destacar nas estatísticas

A conjugação de lutas (contra o machismo e o racismo) é tão importante e direta para o feminismo que, só com a fusão das duas práxis e teorias, é que nos foi possível sair das frias estatísticas que sempre divulgamos.

Indignadas com os atos de violência contra a mulher, nós percebemos que dos casos recentemente expostos na grande mídia, apenas duas das vítimas mostradas eram negras (Janaína Brito Conceição, de 16 anos, e Gabriela Alves Nunes, de 13 anos), e isso só ocorreu pela barbaridade do crime e logo foi esquecido, e que nenhuma das delegadas responsáveis para solucionar qualquer um estes crimes eram negras.Ou seja, apesar de todas as estatísticas que já denunciamos aqui e todos os estudos que divulgamos, do projeto em que estampamos os nomes de vítimas fatais e dos textos em que afirmamos serem as mulheres negras as maiores vítimas da violência patriarcal, nunca havíamos ido além das impessoais estatísticas, nunca mostramos seus rostos e assim também as transformamos em números, invisibilizando o machismo racista do Brasil.

Ser mulher negra significa “representar no imaginário popular a escravidão”

O ex-pantera negra, ELDRIDGE CLAEVER autor de “Alma no Exílio”, um dos mais contundentes e honestos relatos sobre a masculinidade, escreveu que: “não sei exatamente como a coisa funciona, quero dizer, não consigo analisar, mas sei que o homem branco fez da mulher negra o símbolo da escravidão e da mulher branca o símbolo da liberdade. Todas as vezes que abraço uma mulher negra estou abraçando a escravidão, e quando envolvo em meus braços uma mulher branca, bem, estou apertando a liberdade”.

Não existe imaginário que se mantenha no consciente coletivo se também não existirem estruturas materiais e limitações institucionais capazes de sustentar tais mitos. Ainda pesa sobre as mulheres negras todo um conjunto de impedimentos sociais que faz com que a realidade se projete na mente das pessoas, como se “naturaliza” nas novelas.

Se o feminismo é a nossa principal teoria de libertação das mentes e dos corpo, eis que então temos muita responsabilidade nisso, não?

Ser mulher branca significater o privilégio miserável de representar a felicidade

É difícil pra qualquer mulher consciente se ver incluída no mundo machista, mas, ao menos, nas fotos das revistas do sonho burguês ou nas belíssimas pinturas renascentistas, existem imagens que justificam o que disse Stendhal: “a beleza é a promessa da felicidade”.

Dada a simbologia machista, o corpo das mulheres brancas também é a principal representação da justiça, da liberdade e da revolução. O pior é que as meninas negras também cressem vendo e sendo influenciadas por estes signos.

Lógico que como já disse Marx: “tudo esta impregnado do seu contrário” e assim como as mulheres negras não são a “escravidão”, estas  representações da liberdade, da justiça e da revolução são imóveis e petrificadas, normalmente não nos atingem ao ponto de podermos nos apoiar nelas. Porém, queiramos ou não, num contexto geral, seus significados “facilitam” nossa vida, pois todas as características físicas tidas como boas ou “apresentáveis” (cabelo, nariz, etc) estão presentes em nosso corpo, o que facilita nossa aceitação conosco e com o mundo.  Gisele Bündchen que diga.

Mas, como recitou Vinicius de Morais: “o destino dos homens é a liberdade”. Não sendo somente um símbolo sexual, mas um objeto de liberdade, este patrimônio físico que naturalizara em nós, nos coisifica. Seja para o homem branco (que nos utiliza como troféu) ou, como disse Cleaver, para o homem negro, que encontra nas mulheres brancas “o equilíbrio e a igualdade” que lhe negaram (cada um com seu privilegio miserável, eles como homens e nós como brancas, eles oprimidos como negros e nós como mulheres), como todo objeto, nossa função é garantir parte da satisfação e da liberdade do “proprietário”, executando trabalhos degradantes ou gerenciando a degradação de outrem, assim como ocorria com os escravos e seus feitores.

Outros privilégios de ser uma branca

Não sou a voz das mulheres negras, sei que os espaços negros são uma forma de resistência e enfrentamento frente ao racismo. Por respeito, sei onde posso entrar e onde não posso invadir. Lembro-me de uma baile black que tinha aqui na cidade, onde entrava somente negros e negras, e os brancos ficavam indignados. Não me indignava, pois sabia que todos os espaços eram espaços de brancos. Por tanto, peço licença para expor a parte que me cabe.

Como menina branca, percebi muito cedo minha vantagem em relação as meninas negras. Só não sabia que esta vantagem se estenderia por toda minha vida. E que vinha de tantos séculos.Foi nas “brincadeiras de meninas brancas” que vi como era difícil, para elas, sonharem os mesmo sonhos que eu. Um sonho de criança só é sonho quando você consegue prolongar sua sensação de olhos abertos. Mas se cada imagem que te cerca, te lembra que aquele sonho não pode ser possível, a realidade fica marcada na sua cabeça, invertendo a lógica do desenvolvimento humano. Para duas amigas de infância, ao abrirem os olhos, elas viam que a verdade delas estava na cor da pele, na quantidade de melanina. E isso limitou o desenvolvimento lúdico delas.

Como tantas outras meninas dos anos de 1980, imitávamos os passos das paquitas, mexendo e remexendo longos e lisos cabelos. Na hora de dançarmos com as madeixas, eu não pensava duas vezes, mas para elas isso era como se rasgasse a pele. A solução elaborada foi amarrarem um pano na cabeça. E lá estava eu, lúdica, de cabelo solto e as duas precisando superar as barreiras e disfarçar suas características físicas com panos na cabeça. É em momentos como este que fico indignada com as frases do tipo: “a dificuldade estimula a criatividade”. Sim, eu sei que é verdade, porém a que custo?Este era somente um dos grandes problemas enfrentados por minhas amigas negras, outro eram as bonecas. As cruéis imitações da Barbie. Nós olhávamos e víamos a brancura, o olho azul tão desejável, o cabelo amarelo, as roupas, tudo que as meninas deveriam sonhar e desejar e isso era o que minhas amigas nunca iriam ter. E por mais que soubessem, elas ainda tentavam aproximar-se desta figura.O cabelo é parte considerável na auto estima das mulheres. As duas alisavam os cabelos, e isso é um ritual de embranquecimento. Não havia nenhuma menina negra na vila onde eu morava que não tivesse o cabelo alisado. Era quase uma regra de “limpeza”. Mesmo sabendo da artificialidade e de como era difícil e doloroso, todas se embranqueciam. Tinha de fazer. Poderia até faltar comida, mas o alisante estava lá todo final do mês. Eu não precisava me preocupar com isso, afinal “Deus foi bom comigo” – foi o que uma vizinha de mamãe falou.

Realmente eu não me preocupava. Até que um dia vi uma de minhas amigas sem cabelo. O cabelo havia caído e a química queimado o couro cabeludo. Ela chorava e eu não sabia o que falar. Disse pra ela que ela não precisava fazer mais aquilo. E ela disse que não poderia sair na rua com “o cabelo ruim”. Ela queria “um cabelo bom”. Ou melhor, um cabelo de branco como o meu! Ao vê-la sofrer tanto, percebi um dos meus primeiros privilégios.Lembro da gente saindo para festas e como era mais fácil me arrumar. Não tinha muito que pensar nestas horas. E olha que eu nem era tão “feminina” assim. Uma delas ficava muito insegura, arrumando o cabelo o dia todo, tentando deixá-lo o mais liso possível. O mais próximo do “desejável”. Nesta época, as meninas molhavam o cabelo para deixar menos crespo, molhavam o cabelo toda hora no banheiro. Os meninos as chamavam de “as molhadinhas”. Em locais de “caça”, eu e as outras meninas brancas ficávamos despreocupadas. Sabíamos que pelo menos dois meninos iam nos tirar pra dançar. Com elas, nem isso.

Hoje sei tal realidade é definidora da saúde mental de uma pessoa. Influencia em sua identidade, na ausência ou não de autoconfiança e no decorrer de seu futuro e visão de mundo. Eis outro privilégio.Não precisar agradar tanto um menino, evita um cem número de violências de gênero. Poder dizer não, se ele quisesse transar sem camisinha, era a possibilidade de “negociar” o uso do preservativo, sem medo de perder o cara. O que me dava coragem de dizer “não” era o fato de ele me aceitar como eu sou: branca.

Para as meninas negras era contrário. A “insegurança” nascida do racismo fazia que elas se submetessem a “tudo” que o cara quisesse, pois não tinham a certeza que outro poderia querê-las. Transar sem camisinha é comum nas periferias nascidas com o fim da escravidão. O racismo faz com que meninas negras façam coisas que não querem fazer. Na descoberta do corpo e da sexualidade, as meninas negras se encontram muito mais vulneráveis a uma gravidez do que meninas brancas. Era como se esta “ficada” fosse a única chance de uma noite ou de uma vida toda.O tratamento que uma de nós recebe é diferente, mas a menina com mais melanina e que tinha o fenótipo negro mais marcado, nos disse o quanto o cara havia invadido o corpo dela. Numa dessas invasões, ela acabou engravidando. Mesmo ainda não sendo feminista fui a única que dei a opção do aborto. Mas para elas, que sentiam que pouco tinha a conquistar, “perder” um filho é inimaginável.Mesmo sabendo que várias mulheres havia realizado o aborto, ela teve o filho. Um lindo menino de fenótipo negro. Mas de olhos verdes, pele branca e “cabelo amarelado”. Ele era o orgulho da casa. Outro privilégio: uma criança “não-negra” no meio de seis crianças negras se destaca. Eu via como esta criança era tratada e como as outras eram apagadas da existência.

Hoje enquanto mulher branca reconheço outros vários privilégios. Sei como é dolorido abrir mão de privilégios, mas quis abrir mão deles. Sei que reconhecer meu privilégio é fundamental para o fim do racismo e sei que em alguns espaços é importante me posicionar, pois vivendo o politicamente correto, os brancos construíram sua identidade em cima do racismo, se somos o que somos, se temos esta auto estima é porque outros tiveram rasgadas sua identidade e reconhecer estes privilégios é um dos poucos papéis que os brancos tem para a eliminação do racismo.
Para as minhas amigas os objetivos, os sonhos que elas conseguiram alcançar, as vontades e os limites eram totalmente diferentes dos que a sociedade me ofereceram.  Hoje uma delas trabalha como vendedora e outra de doméstica, enquanto eu sou uma “cientista social”. Eis mais um privilégio que não me envaidesse, mas comprova a lógica expostas neste texto.

Conclusão:

Por que é preciso enegrecer o feminismo?

No capitalismo a liberdade é medida por um bom cargo, por uma alta remuneração, pelo acúmulo de propriedades e dinheiro e principalmente pelo número de pessoas excluídas. Este é o principal indicativo que comprova como a sociedade das desigualdades sexuais se estruturou em oferecer privilégios miseráveis,  para algumas mulheres, que  garantam a manutenção do que se originou com o primeiro patriracado: a exclusão social/sexual.

O sistema econômico patriarcal não quebrará mesmo se todas as mulheres assumirem todos postos de chefia da política, dos bancos e das industrias, pois isso significará que os homens da alta burguesia, donos de 99% das grandes propriedades privadas¹, estarão apenas nos colocando pra gerenciar a exploração dos homens pobres e de outras mulheres. E nem mesmo se este bolo for dividido entre os gêneros, ainda assim, existirá mulheres alienadas, com seus corpos excluídos, das riquezas materiais e humanas.

No capitalismo, nem todas as atividades são transformadoras ou geram mais-valia e bem sabemos que, numa sociedade hierarquizada, jamais existirão cargos de chefia para todas as pessoas, o que garante a hierarquia da desigualdade economia, ou seja, no atual sistema econômico patriarcal, assim como em sua origem, a tal liberdade não é para tod@s. Se hoje existe alguma “liberdade para as mulheres” no Brasil, não é por que nós somos mulheres, mas por nós seremos brancas ou burguesas. Assim como há espaço para algumas mulheres gerenciarem a exploração alheia, também existe (em menor escala) os mesmo cargos de gerência para algumas pessoas da comunidade negra (lógico que mais para os homens, do que mulheres, já que a economia responde as lógicas do machismo). Introduzir uma pequena parte dos excluídos dentro dos sistemas patriarcais é uma tática de manutenção que existe desde os tempos da Roma Antiga.

Se quase 50 anos após a comercialização das pílulas contraceptivas, ainda precisamos urgentemente da construção de creches, em parte, isso nos revela o quanto as conquistas do movimento de mulheres burguesas, responderam as necessidades imediatas impostas pelo próprio capitalismo. A filhas dos grandes burgueses brancos e da classe média urbana, na maioria, foram as que mais colheram os frutos de tais conquistas. Conquistas estas que converteram as antigas operárias das fábricas, em vendedoras de magazines e funcionárias de fraldários.

Se as mulheres negras, em sua maioria, continuam em  condições tão próximas da imediata anulação do escravismo, conclui-se que as “melhoras tão midiáticas” não ocorram para a grande massa de mulheres brasileiras. Se as mulheres, que hoje trabalham em atividades de grande status, precisam de outras mulheres para cuidarem de seus lares e filhos, perguntamos quem são estas cuidadoras e onde estão os filhos destas mulheres?

É fundamental para a construção de uma consciência feminista mais ampla, que nós não venhamos a nos referir a questões raciais como um “altruísmo humanista”, comum aos filósofos brancos, mas como uma questão fundamental para uma nova elevação das práxis feministas.

Isso fica fácil de reconhecer e comprovar quando usamos as mesmas letras da grande LÉLIA GONZALEZ:

“Em pesquisa que realizamos com mulheres negras de baixa renda (1983), muito poucas, dentre nossas entrevistadas, começaram a trabalhar já adultas. Migrantes na grande maioria (principalmente vindas de Minas Gerais, do Nordeste ou do interior do Estado do Rio de Janeiro), e muitas vezes já tendo “trabalhado na roça”, entravam na força de trabalho por volta dos 8-9 anos de idade para “ajudar em casa”. Desnecessário dizer que, nos centros urbanos, começavam a trabalhar “em casa de família”, além de tentarem frequentar alguma escola. Pouquíssimas conseguiram “fazer o primário”. Um dos depoimentos mais significativos para nós, o de Maria, fala-nos das dificuldades da menina negra e pobre, filha de pai desconhecido, em face de um ensino unidirecionado, voltado para valores que não os dela. E, contando seus problemas de aprendizagem, ela não deixava de criticar o comportamento de professores (autoritariamente colonialistas) que, na verdade, só fazem reproduzir práticas que induzem nossas crianças a deixar de lado uma escola onde os privilégios de raça, classe e sexo constituem o grande ideal a ser atingido, através do saber ‘por excelência’, emanado da cultura ‘por excelência’: a ocidental burguesa.”

Observem as características sócioculturais das pessoas a quem estes números “antigos” (1983) se referem, são os mesmo perfis da pesquisa que a Organização Internacional do Trabalho revelou em seu último relatórioSe certa vez “sua mente já desejou a insurreição e suas mãos trabalharam para a revolução”, te perguntamos o que é revolução (feminista)?

Com certeza, ela não é a mínima igualdade salarial, ou a conquista de espaços economicamente planejados no mercado de trabalho, que produzem ainda mais mais-valia, ou a exigência de representação nos altos cargos políticos de um Estado estruturado para violentar mulheres e exterminar pessoas pobres e negras.

Muito sabiamente, Maquiavel disse: “dividir para dominar”, e nós feministas (brancas) certamente, ao de não denunciarmos os privilégios miseráveis que o patriarcado nos oferece como mulheres brancas (para nos manter dentro de nossa condição de mulher), contribuímos para confirmar as maquiavélicas estruturas do “principado burguês”. Ainda bem, mas a custo de muito sofrimento, que sempre existe uma feminista (negra) que levanta a mão e coloca, nas pautas de nossas reuniões, a ferida aberta da opressão racista patriarcal. Até o dia que ela se cansa de falar e, assim como também fizeram (fizemos com) as meninas negras da escola, que se sentavam ao nosso lado na carteira) ela sae de nosso lado e vai buscar sozinha (com as demais companheiras) seu lugar ao sol. Que esta realidade mude, antes da nova primavera dos povos (feministas).
Viva o movimento Feminista!Texto: Ana Clara Marques e Patrick Monteiro

(Este texto faz parte do estudo “Por um feminismo brasileiro amplo e não fragmentado”. Para entender todo o contexto desta postagem leiam também “A difícil condição sexual da Mulher Negra na África do Sul, Haiti e Brasil ”, “O que as ‘blogueiras feminista’ deveriam aprender com os ‘blogueiros feministas’?” e “Para além da cor da pele: a dialética do feminismo brasileiro“)

1-De acordo com Humphrey Institute of Public Affairs, da universidade estado de Minnesota (WOLF, Naomi: O mito da beleza), apesar de mais de sermos 50% da população e ocuparmos dois terços das horas trabalhadas, somos donas de menos de 1% das grandes propriedades capitalistas. Em seu primeiro encontro com as militantes do Movimento de Libertação das Mulheres, Simone de Beauvoir levantou uma questão da qual ela mesma afirmou não saber a resposta (“Como, segundo vocês, se articulam exatamente a opressão patriarcal e capitalista?”); uma afirmação, conseqüente desta mesma questão, foi sentenciava por Beauvoir : “toda a tática que as mulheres devem seguir, depende disso (desta resposta)”. Sua preocupação mostrou-se legitima, pois segundo ela, para não se estagnar, o feminismo após as conquistas da década de 1960, deveria estudar o papel das mulheres dentro das relações de exploração capitalistas. Contudo, dentro da realidade brasileira, não nos basta articular só as questões de classe, precisamos atingir o cerne das questões raciais/étnicas, pois o abismo social brasileiro se concentra, em grande parte, nos resquícios da exploração escravista.

*- para escrever este texto também tivemos como referência os linques abaixo:

http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/ST69/Regina_Marques_Parente_69.pdf

http://www.fundaj.gov.br/geral/observanordeste/valdenice.pdf
http://aqueladeborah.wordpress.com/2010/04/09/os-privilegios-em-ser-branca/
http://asppir.wordpress.com/artigos/a-opiniao-de-uma-mulher-branca-acerca-da-mulher-negra-e-a-resposta-de-um-homem-negro/
http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2011/02/17/brasileiros-sao-mais-europeus-do-que-se-imaginava-923828390.asp
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Tm6wln6iSCsJ:portaldovoluntario.org.br/blogs/54329/posts/228+o+racismo+das+mulheres+brancas&cd=8&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&source=www.google.com.br
http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/ST69/Silvana_Verissimo_69.pdf
http://www.ueangola.com/index.php/criticas-e-ensaios/item/190-o-corpo-feminino-da-na%C3%A7%C3%A3o.html

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Vanessa Rodrigues.

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