Sérgio Rodrigo Reis, Estado de Minas
Para além das brincadeiras, de espetáculos lúdicos e montagens que são como uma porta de entrada do universo artístico para a garotada, o Festival Saci abre espaço na programação também para mostra de cinema bem curiosa. Nesta edição, a terceira, os filmes selecionados foram produzidos por povos indígenas do Brasil e do exterior. As exibições, com entrada franca e em vários horários, serão descentralizadas e ocorrerão em espaços como Memorial Minas Gerais Vale, o Oi Futuro e o Teatro João Ceschiatti Ceschiati, do Palácio das Artes.
Serão três programas com filmes do Vídeo nas Aldeias, projeto precursor na área de produção audiovisual indígena no país, criado há 25 anos, que acaba de lançar coleção indígena para jovens e crianças, com guia didático e seleção de seis filmes. As produções serão apresentadas na mostra para iniciação da garotada na realidade das aldeias e dos indígenas.
O documentário ‘Das crianças ikpeng para o mundo’, do povo Ikpeng, de Mato Grosso, é um dos destaques. Com 35 minutos de duração e direção coletiva de Kumaré Ikpeng, Karané Ikpeng e Natuyu Yuwipo Txicão, enfoca quatro crianças ikpeng apresentando a aldeia e respondendo uma vídeocarta das crianças da Sierra Maestra, em Cuba. Outra atração é ‘Depois do ovo, a guerra’, do povo Panará, também de Mato Grosso. Com direção de Komoi Panará, traz crianças daquela aldeia em seu dia a dia de brincadeira. Antes de cada exibição, o Festival Saci agendou atividades de introdução à realidade dos índios, com a participação da educadora e bonequeira Sophia Felipe.
Dois filmes que não são do projeto serão exibidos: ‘Ô de casa’, que acompanha crianças brincando de casinha na cidade, no campo e em uma aldeia pataxó, e ‘Nanook, o esquimó’. Esse último leva o espectador a conhecer aventuras do distante – no tempo e no espaço – Ártico.
O cinema brasileiro tem filmes relacionados ou sobre povos indígenas há muito tempo. Mas obras feitas por eles são mais recentes. E, em se tratando de temática voltada para crianças e adolescentes, é algo bem novo. Num momento em que voltam a ter evidência várias questões indígenas, a curadora da mostra, Ana Siqueira, acha importante trazer novos olhares, sobretudo para o espectador em formação. “Nos deparamos nos filmes com os mesmos preconceitos de sempre. Queremos começar lá na infância a revelar que há vários tipos de índios, vários povos, desde o modelo idealizado do bom selvagem até outros, com mais acesso à cultura ocidental. São povos diferentes, inclusive fisicamente, que aparecem do Rio Grande do Sul à Amazônia.” Para ela, a expectativa em relação aos índios é geralmente pouco generosa. “Temos um valor forte de mudança para nós, mas, por outro lado, queremos ver os índios quietinhos na floresta, como se não pudessem se transformar.”
Festival Saci
Mostra de cinema infantil com exibições com entrada franca. Confira horários e locais em www.festivalsaci.com.br. Memorial Minas Gerais Vale, Praça da Liberdade, s/nº, Funcionários; Oi Futuro, Av Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras; e Teatro João Ceschiatti Ceschiati, do Palácio das Artes, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. Informações: (31) 3227-7331.
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Enviada por Pablo Matos Camargo.