Cimi – Conselho Indigenista Missionário – Equipe de Marabá
Brasília, 19 de Abril de 2013: dois representantes do povo Atikum que vivem no Pará, no município de Itupiranga, integraram a comitiva indígena do estado para somar força às mobilizações do Abril Indígena e denunciar a ocorrência de invasão e ilícito ambiental na área ocupada por suas famílias dentro de um Projeto de Assentamento para Reforma Agrária, do Incra, na região.
Neste mesmo período, os índios chegaram a protocolar um documento junto aos representantes da Procuradoria Geral da República, durante a realização de uma audiência pública na sede do órgão, denunciando toda a situação vivenciada pela comunidade e pedindo ajuda urgente, pois o clima entre indígenas e invasores, já se encontrava tenso.
Em Marabá, as lideranças Atikum chegaram a encaminhar novamente o mesmo ofício, via email, para a Funai e um representante do Incra, em Brasilia, como também participaram de audiência com o MPF, na cidade de Marabá, para tratar da questão sem que quase nada fosse feito para agilizar a retirada dos invasores da área.
Depois de um ano entre idas e vindas das lideranças Atikum entre a Funai, o Incra, a Policia Federal e o MPF em Marabá, cobrando providências e agilidade no processo de retirada dos invasores da área, ontem, 09 de julho de 2013, o que era temido pela comunidade e o que vinha sendo denunciado já algum tempo, aconteceu na aldeia Ororubá.
O indígena Wilson Ambrósio da Silva, de 43 anos, foi encontrado morto pelos membros do seu grupo por volta das 16hs, com dois tiros, um na cabeça e outro no tórax, dentro da reserva ocupada pelas famílias indígenas.
Segundo os membros da comunidade, ele havia saído pela manhã para a serra (área disputada pelos invasores e os indígenas) para olhar o gado da comunidade que estava pastando naquele local e não voltou mais. Os indígenas suspeitam que o crime tenha sido praticado por invasores da área.
Segundo o documento que foi entregue ao MPF, em Brasília, os indígenas dizem que “todas as atas das reuniões que foram feitas tanto na FUNAI, no INCRA quanto no MPF em Marabá, através de visitas, aponta uma resolução aparentemente simples para resolver o nosso caso (por favor, solicite esses documentos a FUNAI, ao INCRA e ao MPF em Marabá), mas até o momento o que estamos vendo e sentindo é que estamos sendo enrolados e enganados com falsas promessas. Enquanto isso, a única área de floresta na região, está sendo devastada pelos invasores, com enormes prejuízos para a nossa comunidade. O INCRA por outro lado, é sabedor de que fez-nos essa doação há dez anos atrás e os demais órgãos citados nesse documento também são sabedores de que fizemos desta área uma reserva ambiental e cultural para as futuras gerações do nosso povo e o mínimo de qualidade de vida para todos. E agora, nos deparamos com a atitude do próprio INCRA que diz ter assentado outras famílias não índias na área, sem nos consultar, desrespeitando acordos feitos anteriormente entre a FUNAI e órgão agrário”.
E finalizavam o documento entregue ao MPF, a Funai e ao Incra, em Brasília, pedindo, uma intervenção ao MPF no caso e outras ações, tais como “que o INCRA, retire imediatamente os invasores da área, antes que os mesmos destruam toda a cobertura florestal da serra, causando-nos ainda mais danos; cobre da FUNAI a regularização das áreas cedidas pelo INCRA e solicite do MPF em Marabá um acompanhamento mais incisivo no caso”.
Porém, o que ocorreu mesmo foi aquilo que já havia sendo alertado pelos índios às autoridades da região há algum tempo. Ou seja, o assassinato de um dos membros da comunidade Atikum da Aldeia Ororubá na luta pela terra que deixou um povo todo abalado, com medo e entristecido.
Segundo informações dos próprios indígenas, a Funai e a Policia Federal já estão na área apurando o caso, mas a comunidade está questionando quem agora vai resolver o caso da invasão da terra das 18 famílias indígenas que dependem deste pedaço de chão para sobreviverem? Quantas vidas ainda terão de sucumbir à saga dos invasores para que os órgãos competentes tenham boa vontade de resolver o problema? E quem vai reparar essa perda que a família da vitima e a comunidade Atikum está sofrendo com o bárbaro assassinato de um dos seus membros?
Esperamos que a justiça seja feita, que este assassinato de mais uma liderança indígena no Brasil, não fique impune, que os responsáveis sejam presos e processados e que os invasores da área da comunidade Atikum da Aldeia Ororubá sejam retirados imediatamente do território do povo.
Marabá (Pará), 10 de julho de 2013.