A mobilização dos povos indígenas no Maranhão pela melhoria na atenção à saúde indígena completa 17 dias hoje. Neste momento, aproximadamente 300 indígenas dos povos Apâniekrá-Canela, Ramkokramekra-Canela, Krikati, Pukobjê-Gavião, Krepumkatjê, Tentehar/Guajajara e Awá-Guajá continuam bloqueando a ferrovia para chamar atenção da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) para a situação de descaso com a saúde indígena; denunciam as mazelas que afetam a vida dos povos nas aldeias e responsabilizam os gestores do Distrito Saúde Especial Indígena – DSEI/MA. A estrada está bloqueada desde ontem a tarde, uma vez que a Vale não cumpriu com o combinado de intervir junto à Sesai para atender a reivindicações dos indígenas.
A Vale tem nova decisão de reintegração de posse. Ficaram de ir hoje pela manhã conversar com os indígenas, mas até o final da manhã não tinham aparecido. A Sesai também não apareceu para atender os indígenas.
Segundo os indígenas do movimento houve aumento no número de óbitos nos últimos dois anos; as equipes multidisciplinares estão incompletas; são os técnicos e agentes indígenas de saúde que estão fazendo o trabalho que deveria ser feito por médicos e enfermeiros; falam da precariedade nos polos bases, nos postos de saúde nas aldeias e nas Casas de Saúde Indígena – Casais de Imperatriz, Santa Inês, Arame, Amarante, que não oferecem condições de trabalho; precariedade no fornecimento de alimentação; medicamentos insuficientes para atendimento nas aldeias; falta de transporte para deslocar os doentes das aldeias; Plano Distrital aprovado sem tempo hábil para conhecimento e participação dos povos indígenas; conferências locais realizadas em apenas um dia, com metodologia dirigida, sem tempo de discussão da política e da atenção à saúde indígena.
Por isso, reivindicam compra de remédios específicos; equipe multidisciplinar e atendimento especial ao Povo Awá-Guajá; melhoria nas equipes que atendem outros povos; reformulação do Conselho Distrital de Saúde Indígena – CONDISI; exoneração de Licínio Carmona, gestor DSEI/MA e de Antônio Isídio da Silva, chefe da equipe de divisão técnica.
Para os indígenas a situação é de colapso e por conta disso os povos estão dispostos a levar as mobilizações para outros pontos do estado, com novas ocupações e trancamentos. Os indígenas estão dispostos a ficar o tempo que for necessário para serem atendidos nas suas reivindicações.
“Se somos donos do Brasil por que estamos vivendo nessa situação? Por que as pessoas não ouvem nossa voz de sofrimento?” (Fabiana Guajajara).
“Temos que lutar porque nosso movimento é legítimo e estamos lutando para melhorar a assistência dentro de nossa comunidade para que não possamos mais ver índios morrendo” (Marli Krikati).
Vale ressaltar que a mobilização indígena começou no dia 24/06 quando ocuparam o prédio da Funasa, em São Luis, onde funciona o Distrito Sanitário Especial Indígena – DSEI/MA. Permaneceram nesse ambiente até o dia 03/07. Durante o tempo que lá permaneceram, buscaram soluções para os problemas na base do diálogo. Para isso estiveram na Assembleia Legislativa do Estado pedindo apoio; estiveram no Ministério Público Federal colocando a situação. Sem nenhuma resposta da Sesai decidiram interditar a estrada de ferro Carajás próximo a aldeia Maçaranduba, Terra Indígena Carú, município de Bom Jardim-MA, onde permanecem até o momento, sem nenhuma resposta por parte da Sesai.