Segundo nota da coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, desta sexta (5), o ministro Gilberto Carvalho afirmou ao ator Danny Glover – que veio ao Brasil defender o direito de sindicalização dos funcionários de uma fábrica da Nissan nos Estados Unidos – que irá levar o recado à montadora.
“As empresas recebem muitos subsídios no Brasil e precisam cumprir esses direitos”, disse o secretário-geral da Presidência da República.
Putz, Gilberto, aproveita a deixa e pede para as montadoras de carros que atuam no Brasil adotarem políticas eficazes para evitar o consumo de produtos oriundos de trabalho escravo e desmatamento ilegal em suas cadeias produtivas.
Não são poucos os casos detectados de contaminação da cadeia produtiva do setor automobilístico com matéria-prima de fazendas e carvoarias presentes na “lista suja” do trabalho escravo do governo federal. Ou de produtores relacionados na lista de embargos ambientais do Ibama. Até agora, nenhuma montadora expôs uma política consistente para garantir que os insumos que consome não tenha usado ferro gusa produzido com carvão de desmatamento ilegal da Amazônia, do Cerrado e do Pantanal. Também falta garantia de origem do couro que reveste os modelos mais caros e que podem vir de trabalho escravo ou de desmatamento ilegal. Isso sem contar as péssimas condições de trabalho na produção de cana-de-açúcar, matéria-prima para o etanol, que envolvem os onipresentes veículos flex.
Olha, com todo o respeito, sugiro que use o mesmo recado que dará em nome do Danny, sem tirar nem por: “as empresas recebem muitos subsídios no Brasil e precisam cumprir esses direitos”.
Até porque, desde o início desta última crise internacional, o governo abriu mão de mais de R$ 26 bilhões em impostos pela indústria automobilística. Valor semelhante ao que foi integralmente remetido às matrizes dessas empresas no exterior na forma de lucros e dividendos.
E se os mesmos recursos tivessem sido investidos no transporte público, favorecendo a coletividade e não o individualismo? E se o Estado optasse por gerar mais empregos na fabricação e veiculação de ônibus, trens, bondes, na reestruturação da malha urbana para acolher ciclistas e pedestres, na redução de tarifas ao invés de incentivar que pessoas comprem seus bólidos, cada vez mais planejados para suprimir as frustrações do dia-a-dia?
Ministro, no final, os que habitam os locais de onde sai a matéria-prima dos nossos sonhos de consumo ficam com uma terra nua e marcas da escravidão. Enquanto isso, nós – o Povo do Horizonte Cinza nos Dias Frios – nos refestelamos com um ar condicionado potente, bancos confortáveis e um aparelho de som master-blaster double stereo high quality que tem que ser forte para esconder o barulho da buzina do lado de fora. Acreditando, piamente, que não morremos a cada dia com a poeira da sua própria ignorância, esquecendo – entorpecidos por comerciais de TV que vendem sonhos e por financiamentos em 60 vezes – que a vida enjaulada no trânsito da metrópole não é vida.
Gosto de Danny Glover, o ator. E o respeito como ativista. Mas se você vai fazer isso pelo eterno sargento Riggs, de Máquina Mortífera, aproveita e pega carona pelo trabalhador e o meio ambiente brasileiros também, vai.