A partir do dia 28 de abril, uma iniciativa inédita no Brasil deve reconhecer os Ogãs como músicos profissionais. Fruto de uma parceria entre as secretarias de Cultura e Igualdade Racial do Distrito Federal, a Federação Brasiliense de Umbanda e Candomblé e a Ordem dos Músicos de Brasília (OMB-DF), o acordo prevê que todos os Ogãs em atividade no DF possam requerer a carteira de músico da OMB-DF.
A ideia de reconhecer os Ogãs como músicos profissionais foi da presidenta da Casa de Santo Ilê Axé Oya Bagan, Adna Santos, mais conhecida como Mãe Baiana. ”A iniciativa foi para prestar uma homenagem, dando aos Ogãs o reconhecimento, a autoestima e a valorização que eles merecem”, aponta.
Um dos entusiastas da proposta, o diretor da OMB-DF, Anapolino Barbosa disse que, além de se tornar um músico profissional, o Ogã vai poder participar de projetos que envolvam dinheiro público. “Se tiver um evento religioso na Prainha, por exemplo, eles vão poder apresentar projetos para conseguir os recursos necessários para a apresentação.”
De acordo com a Secretaria de Cultura do Distrito Federal, a profissionalização também garante aos Ogãs a participação em eventos religiosos financiados pelo poder público, além de poderem participar de contratações para apresentações privadas.
Para o zelador da casa de candomblé Nzo Jimona Dia Nzambi, Tata ria Nkisi Ngunz’tala, essa é uma oportunidade para que a música sacra de origem africana seja reconhecida pelo seu verdadeiro valor cultural. “A música sacra é a base de várias culturas, principalmente a europeia e é reconhecida como música por todo o seu valor. Acredito que esse é o primeiro passo para que a música sacra de matriz africana também seja reconhecida”, afirma. “O samba, por exemplo, tem uma influência muito grande da nossa religião e faz, há muito tempo, o nosso país ser reconhecido mundialmente”, aponta.
Com a atividade formalizada, o Ogã passará a ter, por exemplo, o mesmo reconhecimento que um músico da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional. Segundo Tata, essa será uma mudança da concepção do Ogã. “Ele vai entender que o ofício dele, embora sacro, é de base cultural para toda a sociedade”, explica. “É a maneira de preservar o que ele recebeu dentro do rito e de provar que, além de religioso, é também cultural e pleno”, enfatiza.
Como se profissionalizar – O primeiro passo dos Ogãs para tirar a carteira de músico profissional será dado no dia 28 de abril, na Prainha. Nesse dia, haverá um processo de audição coletiva com a participação de diretores da Ordem dos Músicos de Brasília.
Após a audição, o terreiro onde o candidato exerce sua atividade deverá encaminhar o pedido de registro à Federação Brasiliense de Umbanda e Candomblé do DF, que o repassará à OMB-DF. Aprovada a solicitação, a Ordem dos Músicos submete o Ogã à prova prática em que ele tocará três ritmos próprios do terreiro que frequenta. Vencida essa etapa, uma banca formada por diretores e conselheiros da Ordem dos Músicos autorizará a retirada do registro. A contribuição anual do Ogã será de R$ 150,00.
Ogã – A palavra Ogã vem do Yorubá e significa Senhor da Minha Casa. O Ogã – médium responsável pelo canto e pelo toque – ocupa um cargo de suma importância e de responsabilidade dentro dos rituais de Umbanda e Candomblé, como o conjunto de vozes e toques do atabaque, por exemplo. Em suma, o Ogã representa o respeito, a harmonia, a mística, e principalmente a religião, de forma que só ele com o fundamento da musicalidade pode agir.