Nas palavras de Natália Leon, uma das organizadoras da ação, o Cordão da Mentira é uma atividade com fundo político que quer chamar todos e todas a ocuparem os espaços públicos – que são da coletividade – para se manifestarem de forma diferente.
“O Cordão não é puramente carnavalesco, ele surgiu neste ano da iniciativa de coletivos políticos e organizações independentes que queriam fazer manifestações diferentes das que se vê hoje, usando intervenções estéticas como o teatro e a música, neste caso o samba, para passar conteúdo político. O tema, ‘Quando vai acabar o genocídio popular?’, se baseia no que está acontecendo agora em São Paulo, como as desocupações, os incêndios em comunidades e as ações policiais violentas”, explica Natália, afirmando que este é também um Cordão questionador.
Fantasiados e ao som de sambas com tom de protesto, os/as participantes vão passar por pontos estratégicos da cidade e que representam “a institucionalização de práticas brutais nas forças policiais”. A concentração começa na antiga sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), que hoje abriga o Memorial da Resistência. De lá, seguem para o Espaço Projeto Nova Luz, que segundo Natália é um projeto de revitalização do centro, que na verdade deixa clara a intenção da política higienista dos atuais governos.
O trajeto segue pela Guarda Civil Metropolitana (GCM), pela Ocupação Mauá, onde 273 famílias lutam para permanecer morando; pela Prefeitura de São Paulo; Secretaria de Administração Penitenciária, Secretaria de Segurança Pública – locais escolhidos para representar as políticas de encarceramento e institucionalização das práticas policiais violentas – ; Agência Funerária Central; Tribunal de Justiça e Praça da Sé. Neste local, será feito o encerramento do Cordão com uma conversa com as ‘Mães de Maio’, mulheres que perderam os filhos vítimas da violência policial.
Nesta segunda edição, o Cordão da mentira espera reunir mais de mil pessoas para ocupar o espaço público e transformar a manifestação é um momento de denúncias e reivindicações. De acordo com Natália, a proximidade das eleições ajuda a fazer um contraponto e mostrar que, apesar de todas as promessas, ainda hoje, na cidade de São Paulo, muitas pessoas não têm onde morar. “Queremos que nesta edição o Cordão aumente e que a mídia possa mostrar nossa denúncia”, deseja.
Contexto
A população empobrecida de São Paulo vem atravessando um momento marcado por violência policial, desocupações forçadas e incêndios em comunidades. Um exemplo é o caso da Ocupação Mauá, onde 273 famílias lutam contra o despejo. Elas moram em um imóvel abandonado há mais de 20 anos e que acumula mais de dois milhões de reais em dívidas de imposto predial, mesmo assim, recentemente, a Justiça outorgou uma liminar em favor do proprietário do imóvel.
O caso dos incêndios em comunidades é o mais grave. Segundo informações da Defesa Civil, apenas neste ano foram registrados 34 casos, sendo que sete aconteceram em apenas 40 dias, deixando desabrigados, mortos e feridos. As autoridades tentam explicar os incêndios como fatalidades, mas não convence, pois os moradores e moradoras estão começando a juntar as peças e tirar suas próprias conclusões. No caso da tragédia ocorrida no último dia 17, na favela do Moinho, os afetados pelo fogo foram impedidos de reconstruir suas casas. Desde 2006 a prefeitura tentava remover a favela, que abrigava mais de 500 famílias.
1º Cordão
O 1º Cordão da Mentira aconteceu no dia 1º de abril deste ano e abordou o tema “Quando vai acabar a ditadura civil-militar?”. A intervenção artística levou cerca de mil pessoas para as ruas da cidade de São Paulo para (des) celebrar a farsa, a mentira e a repetição exaustiva de que a ditadura militar brasileira chegou ao fim. E, sobretudo, para questionar porque os crimes do passado continuam impunes.
Para mais informações: cordaodamentira.milharal.org/ ou facebook.com/cordaodamentira.
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