CPT/MS
No site da Prefeitura Municipal de Rio Brilhante/MS é possível ler: “Rio Brilhante está localizada ao Sudoeste de Mato Grosso do Sul. Região Agropecuária e Sucroalcooleira, pertencente à Microrregião da Grande Dourados, distante 161 km da capital Campo Grande”. Mas, também, distante 3 Km mais ou menos da cidade há uma terra indígena Kaiowa-Guaraní reivindicada por este povo como território tradicional. Entre as cidades de Dourados e Rio Brilhante, dois pólos de uma mesma roupagem econômica e fundiária, a comunidade indígena Laranjeira Nhanderu, está apertada, acurralada, antes que qualquer cerco de cidade, pelo assédio do latifúndio, agronegócio e dos agrotóxicos.
A comunidade já foi despejada várias vezes da fazenda que hoje ocupa. Na luta pela terra já registrou a morte de vários de seus membros, jovens, crianças e lideranças. Seguem esperando a demarcação de terras. Mas hoje o que mais preocupa a comunidade é a água que bebe, o peixe que come e o milho que colhe. Isto por conta de que o grupo humano tem o sagrado privilegio de partilhar as fronteiras de suas casas, seus córregos, seus espaços de lazer, suas trilhas e seus impotentes matinhos, com as monoculturas do agro-capital. Se o ano passado foi a cana, este ano é a espiga (transgênica), acaso um dos principais símbolos culturais dos Kaiowa-Guarani, a que requer de venenos para garantir os negócios dos fazendeiros vizinhos; ou, segundo os indígenas, do “branco usurpador”.
“Agrotóxico é um químico que mata; que mata nosso corpo, e nos mata pouco a pouco. Traz vários problemas nas comidas, nas frutas e verduras. Todo o que comemos nos afeta por dentro; e, por ai, o veneno nos mata aos pouco”. Isto poderia ser a fala de um monitor da Campanha Contra os Agrotóxicos. Embora, sem ser monitora ela o é de certa forma, e é um exemplo em conhecimento sobre o tema. Nilda Almeida Pedro, liderança guarani de Laranjeira Nhanderu falou também que “quando os fazendeiros passam o veneno fazem-lho ao amanhecer antes da saída do sol e com o vento, como agora, chega até nós, até os animais; respiramos o ar envenenado, e no dia sentimos dor de cabeça, estômago e outros sintomas no corpo”.
Abel Mariano, da mesma comunidade, também denuncia: “Quando chove a água traz o veneno hasta nós e deposita no poço. Passam o veneno em presença de crianças, idosas e grávidas. A água vai até o Rio Brilhante, nossa fonte de peixes”.
Segundo os indígenas passam agrotóxicos com o trator beirando os caminhos que ficam na frente das casas da aldeia, e com o avião terminam o serviço. Não há escapatória: “Quando vem o avião ficamos só olhando passar acima de nós. Ainda que fechem os bicos de saída do veneno, segundo falam, é inevitável não sentirmos cair pingos de veneno. Apenas podemos ficar debaixo das árvores. Não temos nada a fazer, não podemos evitar que o avião passe acima de nós”.
http://cptms.blogspot.com.br/2012/09/quando-passa-o-aviao-com-veneno-ficamos.html