Bertha Oliva: ‘Estão nos dizimando!’. Urge mais beligerância da comunidade internacional

Foto G. Trucchi-Rel-UITA

Giorgio Trucchi – Rel-UITA (Unión Internacional de Trabajadores de la Alimentación, Agrícolas, Hoteles, Restaurantes, Tabaco y Afines)

Adital

HONDURAS – Enquanto uma multidão despedia-se de Antonio Trejo Cabrera, advogado e defensor dos camponeses do Aguán, assassinado brutalmente no dia 22 de setembro passado, no Cemitério San Miguel Arcángel, em Tegucigalpa, dois supostos sicários mataram a balaços a Manuel Eduardo Díaz Mazariego, 40 anos, Fiscal de Direitos Humanos nessa cidade. Em 2008, Díaz Mazariego havia participado, juntamente com outros colegas, em uma longa e extenuante greve de fome contra a corrupção e pela transparência no Ministério Público.

Diante dessa nova ofensiva criminosa que em menos de 72 horas segou a vida de dois profissionais muito comprometidos com a defesa dos direitos humanos, Bertha Oliva, coordenadora do Comitê de Familiares de Detidos Desaparecidos em Honduras (Cofadeh) externou sua profunda preocupação em entrevista concedida a Sirel.

– Que análise Cofadeh está fazendo diante dessa nova onda de violência?

– O advogado Trejo estava muito comprometido, tanto com a defesa dos direitos das famílias camponesas, especificamente as do Bajo Aguán, como com a salvaguarda da soberania nacional que está sendo ameaçada pelo projeto de criação das “cidades modelo”. Os que conspiram contra o povo não têm nenhum escrúpulo em eliminar aos que se opõem ao seu propósito de fazer negócios em Honduras.

Trejo foi preso e julgado na época do terrível desalojo perpetrado pela polícia contra os camponeses que protestavam pacificamente em frente das instalações da Corte Suprema de Justiça na capital. Seu assassinato é uma clara agressão contra os que pensamos diferente dos grupos de poder nesse país.

– Defender os direitos dos mais despossuídos para ser alvo de ataques homicidas em Honduras…

– Os latifundiários e as famílias que, reiteradamente, têm sido assinaladas como as que se apropriaram ilegalmente do país, estão com uma nova ofensiva contra o campesinato, contra as/os defensores de direitos humanos, bem como contra quem acompanha ao povo em sua demanda por justiça social.

Trejo acompanhava a luta camponesa e fazia uma defesa legal para a garantia de seus direitos. Inclusive, introduziu uma demanda por “Traição à Pátria” contra os legisladores que haviam aprovado o Decreto que formaliza as “cidades modelo”.

– Até onde vamos chegar?

– A situação é extremamente grave e devemos modificar nossa estratégia. As instituições do Estado continuam ausentes, colapsadas, incapazes de fazer justiça, em conluio com os assassinos. E estão nos assassinando, exterminando com total impunidade. Em menos de 72 horas assassinaram ao advogado Trejo e ao Fiscal Díaz Mazariego. Nos sentimos sozinhas, agoniadas e demandamos, exigimos, a presença da comunidade internacional ao lado desse povo.

– Até o momento os Estados Unidos tiveram uma atitude muito contraditória.

– Nos preocupa, por exemplo, que o Departamento de Estado diga em seu relatório que em Honduras houve avanços em matéria de justiça e de eficiência do Ministério Público. Não se pode combater a impunidade com mentiras, nem com mais militarização ou envolvendo, em uma suposta solução, aos que fomentam e são cúmplices da impunidade.

– Há força suficiente para continuar nessa luta?

– Querem paralisar-nos dizimando-nos. No entanto, continuo confiando no povo de Honduras porque é sábio. As pessoas continuam caminhando, demandando e está claro de onde provém a repressão e quem são os repressores. Para deter-nos terão que matar-nos todos. Nesse sentido, a solidariedade internacional e a coordenação com os grupos e redes que difundem o que, de verdade, acontece em Honduras será a chave nessa conjuntura.

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=70786

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