Leonardo Sakamoto
O poder público não riscou o fósforo, gerou o curto-circuito ou entulhou o lixo que foi combustível da desgraça de uma favela.
Da mesma forma, não são as mãos de líderes religiosos segurando a faca, o revólver ou a lâmpada fluorescente que atacam homossexuais nas grandes cidades brasileiras.
O Congresso Nacional, por sua vez, nunca ordenou a caçada aos indígenas no Mato Grosso do Sul, que insistem em reclamar terras que seriam suas por direito.
Aliás, volte lá e veja se há uma única impressão digital de homens de bem que moram na capital paulista entre os corpos de pessoas em situação de rua mortas a pauladas por dormirem no lugar errado e causarem pânico estético na população.
Um esforço descomunal é gasto na construção de discursos para tentar dissociar causa e efeito ou justificar o injustificável quando o assunto são temas como a especulação imobiliária, a intolerância religiosa, os interesses de grandes proprietários rurais que operam à margem da lei e ou o mais puro preconceito urbano.
Pode até dar certo. Mas, no final, fica uma sensação estranha, feito um amargo persistente na boca, lembrando que alguma coisa está muito errada por aqui.
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http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2012/09/17/um-incendio-uma-facada-um-tiro-uma-paulada/