Babá Mejeuí – Erisvaldo Pereira dos Santos
As pessoas intolerantes não se cansam de atacar nossas comunidades religiosas. Desta vez a agressão foi ao Ilê Axé Ogunfunmilayo, em Contagem, Minas Gerais. Trata-se de um terreiro de candomblé da nação Keto, no qual respondo como sacerdote, desde janeiro de 2001, quando recebi da Iyalorixá Lídia de Oxaguiã (Santo Amaro da Purificação – BA) as prerrogativas para o ofício do culto e administração dos rituais tradicionais. Resolvi divulgar o ocorrido, a fim de que faça parte da lista imensa de atos de intolerância contra nossas comunidades tradicionais e também para que a autoridades competentes tomem providências contra este tipo de prática.
Segunda-feira, dia 10 de setembro de 2012, depois da meia noite, portanto dia 11 de setembro, alguém tentou arrombar o portão da casa de Ogum. A tentativa de arrombamento se apresenta como um ato vil de intolerância, porque foi iniciada, com arremesso de dois tijolos de cimento que fizeram um grande barulho no portão. Em seguida deram uma pesada de bota, que forçou a abertura do portão e cujas marcas ficaram evidentes em sua lataria.
Em 12 anos, é a primeira vez que um ato de intolerância ocorre de forma tão escandalosa e em um horário de pouca movimentação na Casa. Não creio que seja tentativa de roubo, pois um meliante não chamaria atenção jogando tijolos em portão de ferro. Segunda-feira costuma ser dia de função no Terreiro, mas naquele dia não houve, porque eu estava na Bahia. Imagino que a casa já começa a incomodar os intolerantes. Em razão disso, inicio também a denúncia pública, a fim de que a sociedade entenda o que nós estamos dizendo e o Estado garanta a nossa liberdade de culto, estabelecida em nossa Carta Magna.
Irei registrar um Boletim de Ocorrência na Polícia de Contagem, pois ficar calado, não denunciar aumenta ainda mais a sanha perversa dos que pensam que podem acabar com nossa religião. Logo nós que temos resistido a séculos de perseguições, prisões de sacerdotes e sacerdotisas, invasões dos nossos templos, com apreensão e quebra de objetos rituais, acusações de cárceres privados, produzindo danos de ordem física e psicológica. Nada disso foi suficiente para apagar a força da ancestralidade africana que está presente em nossas crenças. Precisamos reagir, exigindo do Estado celeridade na apuração das denúncias, aplicação da Lei e na adoção de medidas educativas que coíbam práticas de intolerâncias contra nossas comunidades tradicionais.
Em pleno século XXI, em um País multicultural, com uma diversidade de crenças não se pode aceitar quaisquer ato que afronte o direito à liberdade religiosa, pois isso é um direito humano fundamental para a sustentação da democracia.
Desde já, agradeço, em nome de Ogum, a solidariedade e o compromisso de tod@s em favor da liberdade religiosa!
Enviada por Marta Almeida Filha para GT Combate ao Racismo Ambiental.