“Distopia::021” – Excelente denúncia sobre o projeto racista em curso no Rio de Janeiro

Tania Pacheco

O Rio de Janeiro é  hoje uma cidade à venda. Uma cidade sendo leiloada para a especulação imobiliária, para o turismo, para mega projetos que pretendem torná-la algo híbrido, branco/ocidental/burguês, “limpando-a” de todas as características que a fizeram a cidade maravilhosa que ela é/foi. Expulsões violentas, remoções às quais as comunidades são submetidas sem ter direito sequer a opinar ou a ter para onde ir, ante a omissão e, talvez, o sentimento de alívio das elites e de grande parte da chamada classe média. Como diz Vera Malaguti em seu depoimento, é a “fantasmagoria urbana”, o medo de que “a favela vá descer” insuflado pelos meios de comunicação que “imbecilizaram a população carioca”.

Pelo projeto de “higienização” em andamento, no Rio – que já foi a maior cidade negra do mundo e acaba de ser considerado Patrimônio mundial com todas as suas favelas compreendidas no cenário -, prevalecerá a folclorização. Os negros tocarão seus instrumentos e as “mulatas” dançarão para os turistas, antes, durante e depois da Copa 2014 e das Olimpíadas 2016. Também continuarão a trabalhar nas obras, junto com os nordestinos pobres, como hoje muitas vezes trabalham nas demolições. Mas cada vez mais afastados dos olhos e do espaço reservado àqueles que estão vendendo e àqueles que estão comprando a cidade.

Distopia::021 é um mini documentário contundente que denuncia tudo isso, com enfoque privilegiado para a zona portuária, abandonada por mais de um século exatamente por ser o espaço onde chegavam, viviam e eram enterrados grande parte dos escravos desembarcados na cidade. Mas o que ele mostra está se repetindo por todos os bairros e  áreas passíveis de serem exploradas. Sem dúvida merece ser visto e divulgado. A produção é do projeto Rio40Caos, em parceria com o coletivo colombiano Antena Mutante. Parabéns a eles. Vergonha para quem aqui vive e a tudo isso assiste, passivamente ou até feliz. Pois, como diz a música final, “Ó seu doutor, o racismo não acabou. Só mudou de adereço: se ontem era chibata, hoje é terno e é gravata. Mas resiste o povo negro!”. 

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