Indígena critica construção de Belo Monte no RJ

Uma das estrelas da conferência, Raoni apresentou carta de intenção de vários povos indígenas

A aparição foi como a de uma estrela pop, com todos querendo posar para fotos ao lado dele. Mas a missão era menos mundana. O cacique Raoni apresentou na Cúpula dos Povos a carta de intenção dos povos Kayapó, Juruna, Tapayuna, Panara, Kayabi, Apiaka, Trumai e Terena, em relação às discussões feitas na conferência. “Nós recusamos qualquer iniciativa do Governo Federal que resulte na diminuição das Terras Indígenas já demarcadas e homologadas no Xingu. As que já foram demarcadas e homologadas devem permanecer com seus limites respeitados”, afirmou.

São nove terras nessa situação. No documento, os índios reiteram que o governo brasileiro tem de ‘respeitar e proteger’ os costumes indígenas, cumprindo a Constituição de 1988 e a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), visando defender os direitos dos povos indígenas. “É isso que queremos dizer para o mundo”, diz Raoni.

Os povos indígenas são os que mais tem chamado a atenção da Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo. Em grande número e organizados, têm apresentado uma série de reivindicações a respeito da garantia dos próprios direitos. (mais…)

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Estado de Minas: Presidente lê reportagem sobre tortura e opta pelo silêncio

Um esclarecimento: recebemos ontem cedo de José Carlos, que também enviou a matéria abaixo, a íntegra da reportagem especial publicada pelo Estado de Minas. Optamos por não postá-la, já que vemos uma distância cada vez maior entre a Dilma nela presente e a de hoje. É possível que tenhamos errado, mas os links para ela podem ser encontrados ao final deste texto. TP.

Antes de deixar o Brasil ontem, rumo ao México, Dilma lê reportagem do EM sobre a violência sofrida por ela em Juiz de Fora. Matéria repercute entre setores do governo e da sociedade civil

Por Bertha Maakaroun, Denise Rothenburg e Renata Mariz

Logo de manhã, antes de deixar o Brasil rumo ao México, onde participa de reunião do G20, a presidente Dilma Rousseff leu a reportagem do Estado de Minas sobre a tortura por ela sofrida em Juiz de Fora (MG), em 1972, mas preferiu o silêncio. Entre setores do governo e da sociedade civil, entretanto, os relatos contundentes da mandatária do país foram motivo de muita repercussão. Secretário nacional de Justiça e presidente da Comissão de Anistia do Ministério de Justiça, Paulo Abrão destacou a importância de testemunhos como o de Dilma ao Conselho Estadual de Indenização às Vítimas de Tortura para desconstruir as verdades produzidas pela ditadura.

“A riqueza do testemunho de Dilma Rousseff na comissão estadual é recorrente nesses quase 11 anos de julgamentos. Esse caso ajuda a divulgarmos para a sociedade a importância do arquivo das vítimas”, afirma Abrão. A divulgação do relato da presidente reacendeu, na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – seção Minas Gerais, o debate encerrado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou a anistia ampla, para os dois lados – agentes do Estado e atores da resistência. “Nós, da OAB, continuamos a entender que a Lei da Anistia não prospera diante da situação fática do crime da tortura. Temos de continuar a exigir punição”, disse Luís Cláudio Chaves, presidente da OAB-MG. (mais…)

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O depoimento de Marilena Chauí no ato pela criação da Comissão da Verdade na USP

Revista Forum – Confira abaixo a íntegra do depoimento da filósofa, que defende um resgate histórico para que se possa democratizar a universidade de fato

Boa noite a todos e a todas, obrigada pelo convite. Quero começar fazendo duas colocações. A primeira, certamente você sabe, mas sou avó, como alguns colegas de colegial e faculdade. Nós [ela e Heleny Guariba] estudávamos juntas, ela que escolheu o meu namorado, com quem eu casei. Estive com ela na véspera do dia da prisão, foi a minha casa e tivemos uma longa conversa, fizemos planos, íamos nos ver no dia seguinte, mas eu não a vi mais. Entendo o que a Vera [Paiva] diz, levei muitos anos para enterrar, não podia admitir.

A segunda é de um outro colega meu, o [Luiz Roberto] Salinas, que não morreu na prisão, mas morreu por causa da prisão. Foi preso, torturado, e, na época, ele não fazia parte de nenhum movimento ou grupo, nada. Mas tinha feito muito antes, na altura de 64, e isso aconteceu no final dos anos 70. A esposa dele era jornalista e havia publicado uma matéria, os policiais, militares, não entenderam algumas palavras e interpretaram como um código. Foram ao apartamento deles e, como ela não estava, pegaram Salinas, que foi torturado no pau de arara dias a fio para dizer qual era o deciframento do código, das palavras do artigo da mulher dele. Não era código, não havia o que dizer e ele foi estraçalhado. O resultado dessa prisão: foi anulado, evidentemente, o estado físico do Salinas e o seu estado psíquico. Foram anos para ele se refazer, e nunca conseguiu realmente se refazer. Teve trombose nas duas pernas, tendo que cortar dedos dos pés e morreu com uma síncope. Ou seja, foi morto pela tortura. Amigo meu do coração, entramos juntos no Departamento de Filosofia e, juntos, nos tornamos professores no departamento. (mais…)

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