La Paz (Prensa Latina) – O Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis) se transformou nos últimos meses em uma zona de discórdia entre os moradores da região pela construção de uma estrada.
Uns, os que chegaram a La Paz em outubro passado, após 65 dias de marcha, defenderam suspender a construção da via, que uniria Villa Tunari (Cochabamba) com San Ignacio de Moxos (Beni).
Outros, os que partiram há uma semana desde Isinuta, um povo do trópico de Cochabamba, querem a realização da mesma.
Ambos têm argumentos suficientes para sustentar suas demandas, mas a verdade é que estas marchas podem dar seguimento a outras e o assunto da estrada se transformar em um conto sem fim.
A PRIMEIRA MARCHA
Os primeiros marchantes conseguiram arrancar do Executivo a promulgação da chamada Lei Curta, que regula as construções no Tipnis e defende sua intangibilidade.
A partir de agora esse bosque será patrimônio sóciocultural e natural, de preservação ecológica, reprodução histórica e habitat dos povos indígenas, cuja proteção e conservação são interesse primordial do Estado Plurinacional, precisa a medida.
Aqueles, liderados por Adolfo Chávez, da Confederação de Povos Indígenas do Oriente Boliviano (Cidob), percorreram mais de 600 quilômetros até chegar a La Paz, em um trajeto no qual se encontraram com demonstrações de respeito, de apoio, e também com oportunistas que os utilizaram para fazer campanha contra o presidente Evo Morales.
O Governo defendia a estrada, sobretudo porque ajudaria à integração das diferentes comunidades e lhes daria as facilidades necessárias para melhorar a saúde, a educação e o comércio de seus produtos, entre outros benefícios.
Ao mesmo tempo, o Executivo denunciou que por detrás da marcha proliferavam os interesses políticos e estava nas mãos de várias Organizações Não Governamentais (ONGs) e da Embaixada dos Estados Unidos em La Paz.
Inclusive, entre os dirigentes dessa primeira marcha – acompanhada por veículos que garantiam a segurança da mesma, a alimentação, às vezes a base de touros sacrificados- e a base, houve falta de compreensão, porque os objetivos não foram os mesmos.
A aplicação da Lei Curta, no entanto, constitui outro ponto de questionamento e aqueles que iniciaram uma caminhada de protestos na semana anterior, pretendem que a mesma não seja aplicada e pedem que a polêmica estrada seja terminada.
A FAVOR DA ESTRADA
Os marchantes, centenas de indígenas yuracarés, moxeños e chimánes da zona sul do Tipnis, recordaram uma e outra vez que só pretendem o término do segundo trecho da referida estrada para melhorar suas condições de vida.
Essas declarações foram aproveitadas pela oposição em mais de uma oportunidade para diminuir sua cumplicidade com o Governo.
No entanto, o cacique mais velho do Conselho Indígena do Sul (Conisur, por sua sigla em espanhol), Gumercindo Pradel, reiterou em várias oportunidades que suas demandas -as de 26 populações- só pretendem melhorar as condições de vida das comunidades inseridas na referida reserva natural.
Pretendemos a criação de escolas, centros médicos, além de facilitar aos moradores do bosque a comercialização de seus produtos, recordou o dirigente do Conisur.
A vida na zona torna-se às vezes muito dura e a inexistência de serviços de saúde fazem com que duas em cada 10 crianças nascidas nessas populações morram antes de cumprir o primeiro ano de vida.
Uns morrem de doenças respiratórias, outros de diarreias, às vezes nas comunidades, e, outras, à caminho do centro médico, localizado a 170 quilômetros do lugar por onde deve passar o segundo trecho da estrada.
Ao mesmo tempo, a maioria dos indígenas trabalha para colonos instalados na região com um salário que não excede 20 bolivianos, uns três dólares, a jornada.
Esta situação porá ao Governo em uma disjuntiva e ainda que alguns analistas consideram que a marcha atual tem a simpatia do mesmo, não será nada fácil voltar atrás a referida Lei Curta e autorizar o término do trecho da estrada.
O Executivo poderia optar por um referendo nacional, ou propor um nos departamentos de Cochabamba e Beni. Inclusive, poderia fazê-lo mais restrito e levá-lo só aos habitantes do Tipnis.
É certo que, do Tipnis, muito será falado durante os próximos meses e talvez até anos. Inclusive, alguns analistas consultados não descartam a possibilidade de que as marchas a favor ou contra a estrada se repitam no tempo.
Neste momento, será necessário esperar que os marchantes que saíram de Isinuta cheguem a esta cidade e exponham suas demandas.
O TIPNIS POR DENTRO
De uns 12 mil 363 quilômetros quadrados, o Tipnis foi declarado Território Indígena em setembro de 1990, depois de anos de luta dos povos originários da região. Um quarto de século antes havia sido assimilado como Parque Nacional.
Suas terras estão em Beni e Cochabamba. O primeiro dos departamentos através da província de Moxos -com os municípios de San Ignacio de Moxos e Loreto- e o segundo com a do Chapare -Villa Tunari e Orochata.
O Tipnis pertence à bacia amazônica do rio Mamoré; um dos rios cujos afluentes principais, o Sécure, é delimitado pelo norte, quando o Isiboro, é delimitado pelo sul.
Ambas as correntes fluviais são navegáveis e constituem uma das vias principais ao parque, no qual abundam os atrativos turísticos.
Em toda a região existe apenas um caminho pelo qual podem transitar veículos e vai desde Isinuta até Aroma, sempre na parte sul do Parque Nacional.
O território, apesar de sua intangibilidade, foi pasto das empresas madeireiras, algumas delas com negócios com dirigentes indígenas, no entanto outros se dedicaram ao turismo não ecológico e à exploração de muitas espécies da fauna do lugar, entre elas os répteis.
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