Por Camila Queiroz, Adital
Moradores da região de Cajamarca, norte do Peru, continuam a paralisação iniciada na última quinta-feira (24). Eles se contrapõem ao projeto Conga, de extração de ouro e cobre, alegando que causará escassez e contaminação da água, recurso importante na região, cuja maior parte das atividades se relaciona com a agricultura e a pecuária.
Com a paralisação, o comércio local não está funcionando (voluntariamente ou devido a piquetes que o impedem) e rodovias foram bloqueadas, o que já causa dificuldade de abastecimento de combustível e alimentos. O aeroporto e as escolas estão fechados. A Câmara de Comércio estima prejuízo diário de 10 milhões de dólares.
Na madrugada de hoje, a polícia conseguiu liberar a via que une Cajamarca com as cidades da costa por uma hora e meia, mas a estrada logo foi retomada pelos manifestantes.
De acordo com a imprensa local, as zonas mais mobilizadas são as que sofrem a influência direta do projeto mineiro, como Huasmín, Sorochuco e La Encañada. Nesses locais, grupos de moradores fazem vigílias às margens da lagoa El Perol, o que gera clima tenso com os policiais que estão na área.
Na comunidade de Lámaro, os moradores chegaram a ameaçar de tirar do lugar as máquinas da mina Yanacocha, gerenciada pelas mesmas empresas de Conga.
Há também episódios de repressão por parte da polícia. Segundo o diretor regional de Saúde de Cajamarca, Reynaldo Nuñez, ontem chegaram oito pessoas feridas a bala. Elas relataram que os feridos se devem a um enfrentamento com a Polícia no distrito de Huasmín. Não houve mortos.
De acordo com o presidente regional de Cajamarca e um dos líderes do movimento, Gregorio Santos, um representante do governo faria visita à região ontem, mas não estava confirmado se seria o presidente, Ollanta Humala, conforme os manifestantes reivindicam.
“O governo tem o direito de propor quem vá; não creio que o Estado nos deixe sem respostas ou sem propostas; esperamos sua resposta”, disse. No mesmo sentido, o presidente da Frente de Defesa dos Interesses de Cajamarca, Idelso Hernández, disse que a paralisação continuará enquanto não haja diálogo com as autoridades peruanas.
“Consideramos que é um insulto ao nosso povo a falta de resposta, pelo que se não vier ninguém do Executivo, seguiremos com nossas medidas; saíremos a marchar e assim continuaremos até que se solucione este problema que nos afeta”, afirmou.
Em solidariedade, a União de Frentes Regionais do Peru anunciou mobilização nas regiões norte e oriente do país para esta quarta-feira (30), segundo o coordenador da entidade, Alfonso Valderrama.
Respostas
Segundo o governador do departamento, Ever Hernández, ontem pela tarde chegou à região uma comissão do Executivo para negociar junto com prefeitos, governo regional e dirigentes sociais.
Apesar disso, o presidente do Conselho de Ministros, Salomón Lerner Ghitis, informou que o Executivo só irá negociar que foram dadas condições.
Com relação aos impactos sócio-ambientais, o governo central sustenta que, tecnicamente, é possível evitá-los, e que o projeto Conga aportará recursos para programas sociais.
Por outro lado, há oposição no próprio governo. Em relatório, o ministério de Meio Ambiente fez objeções ao projeto, contrariando o Ministério de Energia e Minas. O ministro desta pasta, Carlos Herrera Descalzi, qualificou o documento como “alarmista”, enquanto o vice-ministro de Gestão Ambiental, José de Echave, renunciou ao cargo por considerar que o governo não tem estratégia adequada para enfrentar os conflitos sociais.
O projeto Conga, sob a responsabilidade das empresas Newmont e Buenaventura, está orçado em 4,8 bilhões de dólares, considerado o maior da história do Peru. Deve começar a produzir em 2014.
Sobre a falta de água que Conga acarretaria para as comunidades locais, as empresas anunciaram a construção de reservatórios.
http://ponto.outraspalavras.net/2011/12/02/peru-segue-em-paralisacao-contra-mineracao/