Onde o Paraná é diferente

Fotos: Josue Teixeira/Gazeta do Povo / Benedito Gonçalves, agricultor e Kátia Moraes, da Sutil
Benedito Gonçalves, agricultor e Kátia Moraes, da Sutil

Como destacou Fernando Prioste, da Terra de Direitos, que a enviou para a lista adin-quilombola, uma reportagem estranha, tipo “morde e assopra”, que nos deixa em dúvida quanto às suas reais intenções. Publicamos, e que cada um/a leia e conclua. TP.

Colônia Sutil – pequeno núcleo quilombola na região de Ponta Grossa – guarda marcas, memórias e destino de paranaenses dos tempos da escravidão

Diego Antonelli, especial para Gazeta do Povo

As marcas do tempo não deram trégua às 31 famílias de descendentes de escravos que vivem isoladamente em Ponta Grossa, nos Campos Gerais. Se no início do século passado dialetos e cantigas afros e danças típicas ainda faziam parte da rotina dos moradores, hoje essa realidade ficou apenas na lembrança dos mais velhos. Distante a 20 quilômetros do centro do município, a Colônia Sutil viu desaparecerem gradativamente as raízes culturais que ligavam as novas gerações aos seus antepassados. “O povo de antigamente era muito fechado. Ninguém ensinava nada sobre os costumes. A gente via o pessoal dançando e fazendo cantigas, mas não foi ensinado nada disso para a gente. A nossa cultura só fica na lembrança mesmo”, afirma Nilce Terezinha Ferreira, de 73 anos – todos vividos dentro da comunidade. (mais…)

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Governados por cegos e irresponsáveis

Somos governados por cegos e irresponsáveis, incapazes de dar-se conta das consequências do sistema econômico-político-cultural que defendem. Criou-se uma cultura do consumismo propalada por toda a mídia. Há que consumir o último tipo de celular, de tênis, de computador. 66% do PIB norteamericano não vem da produção mas do consumo generalizado.

Leonardo Boff*

Afunilando as muitas análises feitas acerca do complexo de crises que nos assolam, chegamos a algo que nos parece central e que cabe refletir seriamente. As sociedades, a globalização, o processo produtivo, o sistema econômico-financeiro, os sonhos predominantes e o objeto explícito do desejo das grandes maiorias é: consumir e consumir sem limites. Criou-se uma cultura do consumismo propalada por toda a midia. Há que consumir o último tipo de celular, de tênis, de computador. 66% do PIB norteamericano não vem da produção mas do consumo generalizado.

As autoridades inglesas se surpreenderam ao constatar que entre os milhares que faziam turbulências nas várias cidades não estavam apenas os habituais estrangeiros em conflito entre si, mas muitos universitários, ingleses desempregados, professores e até recrutas. Era gente enfurecida porque não tinha acesso ao tão propalado consumo. Não questionavam o paradigma do consumo mas as formas de exclusão dele.  (mais…)

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Mirabela, no Norte de Minas, é a cidade do santo latifundiário

Doação de terras a São Sebastião obriga moradores a pagar à Igreja Católica para ter posse legal do imóvel onde vivem

mirabela

Fernando Zuba, do Hoje em Dia

“MIRABELA – A aposentada Maria José dos Santos, de 68 anos, mora em uma casa que herdou dos pais. De origem humilde, chama a atenção pela vaidade. Usa vestido de cetim amarelo e brincos prateados. Os cabelos, mantém bem arrumados. Mas com poucos recursos financeiros, não consegue reformar a própria casa, onde não há nem vaso sanitário. “A gente acaba improvisando, usando o quintal”, lamenta a mulher.

O dinheiro curto e a precariedade do casebre não são os únicos e nem o maior dos problemas da aposentada. Maria José tem medo de perder a posse do imóvel em que vive desde que nasceu. O motivo: não tem como quitar a dívida com São Sebastião, o verdadeiro dono do terreno onde a moradia foi erguida. (mais…)

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Greenpeace denuncia relação entre marcas de produtos de couro e contaminação de Bacia do Riachuelo

Karol Assunção, Jornalista da Adital

“A contaminação veste a moda: os vínculos entre as marcas de indumentária e a contaminação do Riachuelo”. Esse é o título de recente relatório produzido pelo Greenpeace da Argentina e que já gerou polêmica entre a organização ambientalista e a Câmara Industrial das Manufaturas do Couro e Afins (Cima) da Argentina.

Divulgado no início deste mês, o relatório do Greenpeace alerta para a relação entre o curtume e a contaminação do Riachuelo. “Se bem que o setor dos curtumes foi apontado como o setor de maior impacto ambiental, ainda durante 2011 seguem contaminando os cursos de água do Riachuelo. Greenpeace tomou amostras de diferentes esgotos provenientes de curtumes, cujos resultados em todos os casos excederam os limites para verter”, apresenta.

É o setor de curtumes que transforma a pele dos animais em couro para ser utilizado pela indústria. A atividade, segundo a organização ambientalista, é “quimicamente muito intensiva”. De acordo com o relatório do Greenpeace, são necessários cerca de 500 quilos de produtos químicos para processar uma tonelada de couro cru, dos quais 85% não se incorporam no couro pronto. Com base em informações da Secretaria de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Nação (SAyDS), o relatório mostra que o setor de curtume é responsável por mais de 50% dos contaminantes de origem industrial. (mais…)

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Três hidrelétricas ameaçam indígenas no rio Teles Pires (1)

Localização das três hidrelétricas na divisa das Terras Indígenas
Telma Monteiro

No dia 19 de agosto o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) expediu a Licença de Instalação (LI) da hidrelétrica Teles Pires a ser construída no rio Teles Pires. Ela é uma das seis hidrelétricas inicialmente planejadas nesse rio. O mais curioso é que quatro delas estão sendo licenciadas pelo Ibama e outras três, Sinop, Colíder, Foz do Apiacás e Magessi (esta última já excluida do complexo), pela Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso (SEMA).

No dia anterior, 18 de agosto, o Ibama havia publicado o aceite do EIA/RIMA da Usina Hidrelétrica (UHE) São Manoel, mais uma hidrelétrica também no rio Teles Pires. Os estudos ambientais do projeto da UHE São Manoel  estão sendo analisados no Ibama, mas num processo independente da UHE Teles Pires. O outro projeto, UHE Foz do Apiacás (que será licenciado pelo estado do MT e não pelo Ibama), está planejado para ser construído na foz do rio Apiacás no Teles Pires bem ao lado da UHE São Manoel e exatamente na divisa da Terra Indígena Kayabi e Munduruku (ver mapa ao lado). (mais…)

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Anemia em cidade da Amazônia atinge 44,6%

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Prevalência de anemia entre crianças com idade pré-escolar no município é de 57,3%, um valor quase três vezes acima da média nacional (20,9%). O índice é ainda cinco vezes superior à média observada no Norte brasileiro

Evandro Ferreira (*)

RIO BRANCO – A anemia é a carência nutricional mais prevalente no mundo, afetando 24,8% da população mundial, especialmente crianças (47,4%), gestantes (41,8%) e mulheres em idade fértil (30,2%), sobretudo em países em desenvolvimento. No Brasil ela ainda é considerada um grave problema de saúde pública entre crianças com idade pré-escolar (até 5 anos). Dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher realizada em 2006 mostram que a prevalência da anemia no país era de 20,9%, com a região Norte apresentando o menor índice (10,4%) entre as macrorregiões pesquisadas. Em populações indígenas, entretanto, as prevalências de anemia ainda são muito elevadas, com proporções superiores a 60%. (mais…)

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Rede de Saberes realiza viagem de intercâmbio em comunidades indígenas

 

Por Caroline Maldonado

Indígenas das etnias Terena, Macuxi, Wapixana, Embera, Tupinambá e Siekopai estiveram reunidos, nos dias 19 e 20 de agosto, em uma viagem que terminou com participação na abertura da Aty Guassu, a grande assembléia dos Guarani, na comunidade Passo Piraju, em Dourados. Na viagem, realizada pelo projeto Rede de Saberes, acadêmicos indígenas de MS guiaram os convidados do Amazonas, Roraima, Pernambuco, São Paulo, Peru, Equador e Colômbia, que participaram do IV Seminário Povos Indígenas e Sustentabilidade, entre 15 e 17 de agosto.

Em Panambizinho, o grupo visitou a casa de reza, a escola e dois moradores ilustres da comunidade, que ajudaram a entender porque não se realiza mais o Cunumim Pepy, ritual de passagem da infância para a vida adulta, o batismo. Não se pode fazer o rito porque faltam elementos da natureza que foram destruídos pelos não índios, que por longos anos estiveram no Tekoha, a terra sagrada, que hoje sofre junto aos Kaiowá. Mas isso não é motivo para desistir de voltar a fazer o Cunumim Pepy para ter de volta uma comunidade forte e sem doenças. O capitão Valdomiro Osvaldo contou qual é o maior desejo das famílias, que voltaram ao Tekoha no ano de 2004. “Queremos levantar a mata para poder viver melhor. Agora vamos seguir em frente, isso que é importante. Precisamos plantar e ensinar as crianças”. (mais…)

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Índios Kaxagós apresentam reivindicação de aérea em Sergipe ao MPF

Comunidade indígena vive atualmente com os índios Kariri-xocós e reivindicam área própria

Representantes de comunidade indígena Kaxagó estiveram nesta quarta-feira, 17 de agosto, na sede do Ministério Público Federal em Sergipe (MPF/SE) para apresentar reivindicação. Reuniram-na com a procuradora da República Lívia Nascimento Tinôco, o cacique da etnia Ivanildo dos Santos, o pajé José Paulo dos Santos e Sinesio Iraninon.

A etnia Kaxagó requer que a Fundação Nacional do Índio (Funai) adquira uma área localizada no município de Gararu para que a comunidade possa se estabelecer. As terras reivindicadas pelos Kaxagós têm 200 hectares de extensão, ficam às margens do Rio São Francisco e possuem uma mata considerada por eles adequada para realizar os rituais religiosos do grupo.

Atualmente, os índios Kaxagós vivem nas terras indígenas da etnia Kariri-xocó. Os Kaxagós afirmam sofrer discriminação por parte dos Kariri-xocós, além de estarem em situação de vulnerabilidade econômica, uma vez que não dispõem de extensões suficientes de terra para prover o sustento da comunidade. (mais…)

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Boaventura de Sousa Santos: Os limites da ordem

As sociedades contemporâneas estão gerando um combustível altamente inflamável que flui nos subsolos da vida coletiva. Trata-se de um combustível constituído pela mistura de quatro componentes: a promoção conjunta da desigualdade social e do individualismo, a mercantilização da vida individual e coletiva, a prática do racismo em nome da tolerância e o sequestro da democracia por elites privilegiadas, com a consequente transformação da política na administração do roubo “legal” dos cidadãos e do mal estar que provoca.

Boaventura de Sousa Santos – Página/12

Os violentos distúrbios ocorridos na Inglaterra não devem ser vistos como um fenômeno isolado. Eles representam um perturbador sinal dos tempos. Sem se dar conta, as sociedades contemporâneas estão gerando um combustível altamente inflamável que flui nos subsolos da vida coletiva. Quando chegam à superfície, podem provocar um incêndio social de proporções inimagináveis.

Trata-se de um combustível constituído pela mistura de quatro componentes: a promoção conjunta da desigualdade social e do individualismo, a mercantilização da vida individual e coletiva, a prática do racismo em nome da tolerância e o sequestro da democracia por elites privilegiadas, com a consequente transformação da política na administração do roubo “legal” dos cidadãos e do mal estar que provoca. Cada um destes componentes têm uma contradição interna: quando se superpõem, qualquer incidente pode provocar uma explosão. (mais…)

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“Eric Hobsbawm. Ao fundo à esquerda” – ótima!

Aos 94 anos, depois de publicar suas extraordinárias memórias (Tempos Interessantes), o grande historiador inglês Eric Hobsbawm – que dedicou sua vida à análise e explicação da era moderna, desde a Revolução Francesa até os estertores do século XX – tinha um livro a mais para escrever: Como mudar o mundo. Após se sentir parte da geração com a qual se extinguiria o marxismo da vida política e intelectual do ocidente, as crises financeiras, a espiral conflitiva do capitalismo e as mudanças na América Latina lhe deram a alegria de voltar ao seu querido Marx. No livro, refuta com sua habitual lucidez as más interpretações, arquiva os preceitos que envelheceram e utiliza as ferramentas oferecidas pelo autor de O Capital para entender o mundo no século XXI e fazê-lo um lugar melhor. A reportagem é de Fernando Bogado e está publicada no jornal argentino Página/12, 14-08-2011. A tradução é do Cepat.

Imaginem a cena: Eric Hobsbawm, reconhecido historiador inglês de corte marxista, e George Soros, uma das mentes financeiras mais importantes do mundo, encontram-se para um jantar. Soros, talvez para iniciar a conversa, talvez com o objetivo de continuar alguma outra, pergunta a Hobsbawm sobre a opinião que este tem de  MarxHobsbawm escolhe dar uma resposta ambígua para evitar o conflito, e respondendo em parte a esse culto à reflexão antes que ao confronto direto que caracteriza seus trabalhos. Soros, ao contrário, é conclusivo: “Há 150 anos esse homem descobriu algo sobre o capitalismo que devemos levar em conta”.

A estória parece quase seguir a estrutura de uma piada (“SorosHobsbawm se encontram em um bar…”), mas é o melhor exemplo que o historiador inglês encontra para mostrar, no começo do seu livro, essa ideia que está pairando no ar há tempos: o legado filosófico de Karl Marx (1818-1883) está longe de ter se esgotado e, muito pelo contrário, as publicações especializadas da atualidade, o discurso político cotidiano, a organização social de qualquer país não fazem outra coisa que invocar o seu fantasma para lidar com esse angustiante problema que tomou o nome histórico de “capitalismo”. (mais…)

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