Rede de Saberes realiza viagem de intercâmbio em comunidades indígenas

 

Por Caroline Maldonado

Indígenas das etnias Terena, Macuxi, Wapixana, Embera, Tupinambá e Siekopai estiveram reunidos, nos dias 19 e 20 de agosto, em uma viagem que terminou com participação na abertura da Aty Guassu, a grande assembléia dos Guarani, na comunidade Passo Piraju, em Dourados. Na viagem, realizada pelo projeto Rede de Saberes, acadêmicos indígenas de MS guiaram os convidados do Amazonas, Roraima, Pernambuco, São Paulo, Peru, Equador e Colômbia, que participaram do IV Seminário Povos Indígenas e Sustentabilidade, entre 15 e 17 de agosto.

Em Panambizinho, o grupo visitou a casa de reza, a escola e dois moradores ilustres da comunidade, que ajudaram a entender porque não se realiza mais o Cunumim Pepy, ritual de passagem da infância para a vida adulta, o batismo. Não se pode fazer o rito porque faltam elementos da natureza que foram destruídos pelos não índios, que por longos anos estiveram no Tekoha, a terra sagrada, que hoje sofre junto aos Kaiowá. Mas isso não é motivo para desistir de voltar a fazer o Cunumim Pepy para ter de volta uma comunidade forte e sem doenças. O capitão Valdomiro Osvaldo contou qual é o maior desejo das famílias, que voltaram ao Tekoha no ano de 2004. “Queremos levantar a mata para poder viver melhor. Agora vamos seguir em frente, isso que é importante. Precisamos plantar e ensinar as crianças”.

As crianças e os jovens são justamente a principal preocupação do rezador, o ñanderu Nelson Consciança. Ele guarda as cruzes que são necessárias para fazer o Cunumim Pepy, mas ainda não encontrou alguém que possa guardá-las quando ele morrer. O período em que os kaiowá de Panambizinho ficaram fora de sua terra foi de muito sofrimento, por isso que o ñanderu Nelson não encontra alguém para ficar em seu lugar. As crianças não foram mais batizadas, sem o ritual a comunidade ficava cada vez mais doente e os jovens não observavam para aprender as importantes práticas dos mais velhos. “Ainda não tem ninguém para segurar as cruzes quando eu morrer, porque tem que aprender bem. É como fazer uma rede. Para aprender a filha senta do lado e olha bem como que a mãe está fazendo aí que vai aprendendo”, explicou o ñanderu.

O sofrimento continua, pois ainda que os Kaiowá de Panambizinho estejam na sua terra tradicional, retomando seus modos de vida, mais adiante, na comunidade Passo Piraju, seus parentes ainda lutam pelo Tekoha. A demarcação das terras indígenas é o principal assunto da Aty Guassu, realizada em média duas vezes por ano, reunindo gente de várias comunidades de Mato Grosso do Sul.

http://www.rededesaberes.neppi.org/noticias.php?id=659

 

 

 

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