Alex Rodrigues
Oito índios da etnia Zo’é deixaram sua aldeia, na área indígena Cuminapanema, no norte do Pará, e viajaram a Brasília para pedir maior atenção das autoridades com seu povo. Do grupo de sete homens e uma mulher que chegou segunda-feira (14) à capital, seis jamais haviam deixado sua aldeia.
Ontem (15), o grupo foi recebido pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e pelo presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira. Segundo o coordenador geral de Índios Isolados e Recém Contatados da Funai, Elias Biggio, embora os zo’é tenham se limitado a pedir ao ministro material de caça e pesca, barcos e combustível, eles precisam é que o Estado os proteja da ação ilegal de garimpeiros e, principalmente, de religiosos que atuam na reserva indígena. O grupo permanecerá em Brasília até esta quinta-feira e precisou da ajuda de tradutores durante o encontro com o ministro.
“O estado brasileiro deve proteger estes índios, garantindo-lhes a sobrevivência física e cultural”, disse Biggio à Agência Brasil. “A região é alvo de grandes projetos econômicos, como de agropecuária e de extração de bauxita e os Zo’é são extremamente vulneráveis já que seu contato com a nossa civilização é muito limitado e eles não tem conhecimento sobre os riscos a que estão sujeitos”.
Para o coordenador da Funai na reserva, o indigenista João Carlos Lobato, a maior ameaça ao modo de vida dos zo’é, no entanto, é o trabalho desenvolvido por grupos religiosos católicos e evangélicos que chegam a empregar índios de outras etnias para convencer os zo’é a seguir suas crenças. Isso, de acordo com Lobato, que vive em Cuminapanema há 15 anos, representa um risco de os índios abandonarem seus hábitos e costumes.
De acordo com Lobato, embora já tivessem contatos esporádicos com pessoas de fora da aldeia há muito mais tempo, o encontro dos zo’és com os missionários ocorreu em 1982 e se intensificou a partir de 1987. Em 1989, uma epidemia de gripe atingiu praticamente toda a aldeia. A Funai foi acionada e os missionários foram retirados da área. Na época, a comunidade indígena havia sido reduzida a pouco mais de 130 pessoas. Hoje, este número subiu para 240. Além disso, os índios recuperaram parte de sua antiga autonomia.
Embora a Funai procure preservar os índios isolados do convívio com outras sociedades – ao contrário de quando adotava a política de contatar e integrá-los -, os próprios zo’é tem demonstrado interesse em ampliar as relações com a sociedade que os cerca. Para fortalecer a cultura da comunidade e prepará-la para as consequências da maior convivência, a Funai, em parceria com universidades como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade de Brasília (UnB), tem desenvolvido projetos pedagógicos para fortalecer a autonomia dos zo’é.
“Os Zo’é hoje querem outras coisas que não tem em sua aldeia, como barcos e armas. Se isso é benéfico ou não é uma outra questão da qual não tratamos, pois a atual política estabelece o respeito à autodeterminação dos povos indígenas. Além disso, podemos impedir que pessoas de fora da comunidade entrem na reserva, mas não que os zo’é saiam, atraídos pela ofertas destes grupos”, explicou Lobato, lembrando que qualquer forma de proselitismo com o fim de cooptar grupos indígenas é crime.
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