Terreiro de candomblé completa 135 anos

Pé de Irocó (gameleira) é considerado sagrado para essa nação de candomblé (Foto: Davi Lira / Especial para o JC Online/ Reprodução quadro)

Davi Lira
Especial para o JC Online

Só existem relações sociais com atos simbólicos. A afirmação da antropóloga inglesa Mary Douglas se vincula intensamente à prática religiosa do candomblé. Uma religião repleta de muitos rituais, tabus e uma imensidão de segredos. A fiel discípula do sociólogo Émile Durkheim acredita que os ritos são bem mais importantes para a sociedade que as palavras para os pensamentos. Ritos que essencialmente são transmitidos oralmente e pela memória de seus adeptos. Foi com essa lógica que o terreiro de nação Nagô – considerado o mais antigo do Brasil, conseguiu completar 135 anos de criação agora em 2010.

O “Terreiro de Pai Adão”, localizado no bairro de Água Fria, Zona Norte do Recife, não comemora apenas sua fundação – ocorrida por volta de 1875; festeja também 25 anos de tombamento do seu patrimônio artístico e cultural pelo Governo de Pernambuco, ocorrido através do decreto N.º 10.712 do Conselho Estadual de Cultura. Se esses marcos comemorativos possuem um caráter mais protocolar, alheios ao dia dia desse “Ilê Obá Ogunté” (lar da rainha Iemanjá), o fato é que no final do mês de novembro a casa de santo, situada na Estrada Velha de Água Fria, promoveu uma das maiores reverências à mãe de todos os orixás, a grande deusa do mar.

O JC Online acompanhou todos os detalhes das reverências da “Festa da Casa” – um festejo ritualístico às divindades do candomblé, organizado pelos filhos, filhas, mães e pais de santos de cerca de 19 terreiros do Estado e de outras cidades do País, todos centralizados nos  4.000 m2 do “Sítio de Pai Adão”. A reportagem acompanhou alguns rituais, entrevistou o babalorixá que comanda o Sítio – Manoel Papai, falou com outros pais de santos, conversou com adeptos e iniciantes da religião, e consultou alguns pesquisadores. Foram mais de seis horas de músicas (cantigas de xirê), danças e oferendas registrados em vídeos, fotografias e infográficos, tudo durante o toque (cerimônia de festejo) que se prolongou até as 4h da madrugada, realizado especialmente para Iemanjá, no último dia 20 de novembro.

Durante a imersão pelo sincretismo dessa religião não faltaram exemplos de pessoas – já iniciadas e envolvidas nesse processo, em estado de completo transe. É que no candomblé, uma das formas mais intesas de contato com a divindade é através dessa incorporação. Vai ser em clima de festa, que o inconsciente vai poder se mostrar e ser capaz de exaltar a própria personalidade das pessoas pelo orixá. A ideia, compartilhada pelo etnólogo francês Pierre Verger (1902-1996) é confirmada pelo praticante de Xangô (uma espécie de sinônimo para o candomblé praticado no Estado), o recifense Severino Pereira, de 27 anos. “Frequento terreiros há quatro anos; larguei o seminário e me encontrei completamente no candomblé. No momento do transe, Oxum entra em mim e me conduz”, diz Severino.

Nas próximas matérias, mais informações sobre o candomblé, um histórico mais preciso do Terreiro de Água Fria e sobre o mítico Pai Adão. Além de dados mais detalhados a respeito do ritual do toque e sobre os 15 orixás dessa religião. Por fim, um espaço mais privilegiado para a grande divindade, centro de toda a comemoração. Todos os cheiros, perfumes, cores e flores da santa da casa, em detalhes, e da maneira mais transmidiática possível. Odò ìyá! (saudação à Iemanjá).

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