Pesos e medidas do conservacionismo na política ambiental

Das 65 famílias que fazem parte da Associação dos Remanescentes do Quilombo de São Roque, apenas 25 residem atualmente no local de sua fundação. Desde que a área onde nasceram foi declarada PARQUE, essas famílias passaram a ser multadas, presas e proibidas de plantar e conservar suas casas – tudo em nome de um conservacionismo oficial insensível à mesma presença humana que ali se instalou há mais de um século e que deveria ser no  mínimo, considerada também co-responsável pelo meio-ambiente preservado no local. Esses atuais moradores, descendentes de escravos que um dia se instalaram ali para fugir da  escravidão, estão agora sendo perseguidos pela Polícia Florestal do IBAMA. Acusados de devastarem a área que exatamente ajudaram a conservar. A pergunta que não quer calar é: como vivendo ali por mais de século, estas famílias mantiveram o lugar que passou atualmente a chamar PARQUE?

A Comunidade de Invernada dos Negros, em Campos Novos SC, após quase trinta anos de expropriação de suas terras por ação ilegal e esbulho, está recebendo de volta esta propriedade, antes coberta de mata nativa e agora completamente devastada, com suas águas poluídas e atravessada por erosões decorrentes da presença do pinus. Após esta ação predatória, a empresa ocupante, será inclusive indenizada e as famílias de Invernada irão recuperar as terras dos abusos cometidos com a anuência oficial.

Interesses atuais de exploração turística, florestal e até privados, estão sendo considerados políticas públicas. As populações que residem em locais visados por esses interesses estão até este momento totalmente marginalizadas de toda a atenção do Estado e vem sendo tratadas como pobres atrasadas e incapazes de promover desenvolvimento e manejo sustentado do ambiente em que vivem. Nos discursos de campanha eleitoral, foram descritas por vezes como “um atraso para a ação do PAC”.

Quantas vidas, anos e séculos vamos precisar para reparar todos esses equívocos?

No caso da Comunidade de Casca/RS foram 186 anos de lutas para conseguirem a regularização e reconhecimento oficial de suas terras, fato ocorrido no ultimo 20/11/2010.

O NUER está organizando nova reunião no dia 16/12/2010 com as famílias que residem no Parque de Aparados, instituições governamentais, universidades, ministério público e movimento negro para discussão sobre as medidas que tem sido adotadas pelo  IBAMA/ICMBIO de prisões, multas, constrangimentos e, após o último dia 08/12, de pedido de remoção das famílias que resistem no então criado PARQUE – sob a alegação  de “proteção contra as chuvas e deslizamentos”.

REUNIÃO PÚBLICA DIA 16/12/2010 UFSC

SALA CAROLINA BORI – CFH -14 HORAS

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