Mensagem dos Bispos de NE II depois da visita às obras da Transposição

Nos dias 09 e 10 de novembro deste ano de 2010 nós bispos dos Regional NE II visitamos os canteiros de obras dos eixos Leste e Norte da transposição de águas do Rio São Francisco e encontramos os líderes de algumas das comunidades atingidas pelas obras.

Nos moveu a visitar esta obra em primeiro lugar a nossa condição de pastores, interessados em conhecer de perto  um empreendimento de grande magnitude, que já está mudando o rosto do nosso Nordeste e que poderá incidir profundamente na vida de milhões de nossos irmão e irmãs nordestinos. Também foi nosso desejo ouvir a voz do povo das comunidades pelas quais os canais estão passando, para sentir de viva voz como eles vivem este tempo de mudança, preocupando-nos especialmente com os mais pobres e desamparados, para que não sejam esquecidos ou atropelados por este grandioso projeto.


Nos moveu também a vontade de exercer como cidadãos uma ação de controle social na execução de uma obra construída com o dinheiro de todos os contribuintes do País e que deve ser destinada a melhorar a vida de quem de fato tem mais carência de água e precisa de melhor qualidade de vida e não de alguns privilegiados.

No dia 09 de novembro fomos acolhidos nos canteiros de obras situados perto da tomada d’água do eixo Leste pelo próprio ministro da Integração Nacional que nos explicou com muita propriedade e competência o valor e o alcance do projeto. Em seguida visitamos as obras do eixo Leste e no dia 10 visitamos as obras do eixo Norte em Cabrobó e em Salgueiro. Concluímos o dia encontrando lideranças de algumas das comunidades atingidas pelas obras, que nos expuseram suas esperanças, dúvidas e preocupações. Queremos agradecer ao ministério da Integração Nacional pela atenção e cortesia com que fomos acolhidos e acompanhados na visita e aos membros das comunidades que participaram do encontro conosco pela disponibilidade a partilhar de sua vida e pela confiança demonstrada.

A visita e o encontro com as lideranças das comunidades nos ajudou a perceber algumas coisas que queremos partilhar:
– O projeto é uma obra enorme, talvez a maior já realizada no Nordeste. O impacto do mesmo já é grande e promete ser maior ainda quando a obra estiver terminada.
– No ponto em que a obra está, é muito difícil pensar em voltar atrás ou paralisá-la.
– O governo está investindo muitos recursos: não falta dinheiro para a obra.
– Percebemos que há pouca sinergia entre vários departamentos do governo, tanto federal como estaduais, com impasses sérios na resolução dos problemas concretos que uma obra deste porte levanta, prejudicando quase sempre os mais fracos (por ex. as indenizações).
– As comunidades indígenas de modo especial queixam-se de não ter havido um debate sério a respeito da obra e de não ter sido considerados seus direitos e reivindicações.
– Todos vivem na incerteza de quando e como poderão retomar seu ritmo de vida depois da conclusão das obras ou depois de ter sido reassentados.
– Os trabalhos de revitalização são praticamente inexistentes no trecho do Rio São Francisco de onde saem os dois eixos da Transposição a não ser os trabalhos de saneamento básico que estão sendo realizados em muitas cidades da bacia.  Estes trabalhos de saneamento básico deveriam ser melhor fiscalizados pois existem fortes dúvidas quanto à qualidade e à utilidade das obras realizadas em várias cidades.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.