Manifesto em apoio a Gizele Martins, aluna da PUC e moradora da Maré

Liberdade de imprensa passa, necessariamente, pela liberdade de opinião

Todos esperamos ter liberdade para manifestar livremente pensamento, para compartilhar ideias e ideais. Sentimo-nos ultrajados, profundamente ofendidos, quando alguém tenta calar a voz dos que defendem causas justas.Quando apontam de forma distorcida ideias defendidas, sem partir para o debate, mas para ofensas pessoais. Jornalistas, estudantes de comunicação, comunicadores populares são, em geral, os mais críticos a situações dessa natureza. O que dizer, então, quando isso ocorre numa universidade conceituada, numa turma de Jornalismo? Como se sentir diante de uma professora que insulta, ofende, humilha um estudante em nome de uma tal “imparcialidade”? Que critica e impõe como verdade seus preconceitos?

Infelizmente, foi o que aconteceu na manhã do dia 5 de outubro, na turma de jornalismo, na aula de “Laboratório de Jornalismo Impresso” da professora Marília Martins. A instituição de ensino: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Precisamente às 7h daquele dia, os estudantes entravam em sala para receberem suas notas da primeira avaliação semestral. Ao entregar os trabalhos e as notas, a professora, dirigiu-se à turma e, de forma – no mínimo – deselegante, começou a proferir ofensas contra uma das alunas.

A estudante em questão é Gizele Martins, figurinha conhecida na mídia sindical, nos movimentos sociais e, sobretudo, na Maré. Estudante do sétimo período de jornalismo, Gizele fez uma matéria sobre o direito à moradia, focando nas ocupações urbanas. O assunto havia sido previamente comunicado à professora, que autorizou a confecção da matéria.

Ao comentar sobre as avaliações, a professora disse que uma das alunas havia redigido uma matéria que, embora muito bem escrita, era “totalmente parcial”. Disse, ainda, que a estudante, que citou em seu texto o MST e o Movimento Sem Teto, em nenhum momento os considera “criminosos”. De acordo com relatos dos estudantes que assistiam à aula, a professora chegou a afirmar que “o que resta para esse tipo de jornalista que defende, que apóia criminoso, é a cadeia”. Ainda afirmou que os estudantes deveriam guardar seus diplomas, assim que o recebessem, “para ter uma cela de luxo na cadeia”.

E a professora não parou por aí. Chegou a afirmar que quem faz “esse tipo de jornalismo” (que defende causas sociais, que luta pelo interesse coletivo, que buscar trabalhar pela justiça social) “é parcial, criminoso, defensor do crime” e que o jornalista “deve ser processado, julgado por lei”. A turma, atônita, ouvia os absurdos.

Para finalizar, Marília Martins afirmou ser defensora da liberdade de imprensa (perguntamos: qual liberdade?) e disse que a estudante Gizele nunca terá espaço nos grandes jornais e nem onde ela trabalha. Ao final dos insultos, a aluna retirou-se de sala.

Os estudantes de jornalismo da PUC-Rio, especialmente os que presenciaram os ataques da professora, estão se mobilizando para solicitar à direção da universidade, com apoio político de outros movimentos da PUC-Rio, punição à docente.

E nós, abaixo-assinados, repudiamos veementemente a postura da professora que não agiu com ética para com a estudante. Além da questão ética, completamente ausente no episódio, faltou à professora senso de responsabilidade, total desconhecimento da função social de um docente e do papel verdadeiro do jornalista. Esses profissionais, ao contrário do que costumam apregoar os “escolões”, não são meros “copiadores da realidade”. São agentes políticos e sociais importante, que atuam não só no campo da informação, mas também da formação. O jornalista não é um robô, mas um cidadão que tem direito (já que vivemos em uma democracia) de expressar a livre opinião – ainda que tenha que seguir, em geral, linhas editoriais bastante conservadoras quando trabalham na imprensa comercial – o que não é o caso de Gizele, que estava defendendo ideias políticas numa universidade.

Assim como faltaram elementos importantes na conduta da professora, também sobraram outros lamentáveis. Sobrou muito preconceito, sobrou desinformação, sobrou distorção da realidade, sobraram acusações indevidas, sobrou assédio moral. Sobrou humilhação à estudante, sobrou criminalização dos movimentos sociais e do jornalismo combativo que atua na defesa desses movimentos.

Para dizer NÃO a essa prática preconceituosa e para exigir medidas efetivas da direção da universidade – reconhecida por sua qualidade no ensino, tanto na graduação quanto na pós-graduação – para que situações como essa não voltem a se repetir numa instituição de ensino, que tem como papel fundamental estimular o debate e a livre circulação de ideias, é que nos manifestamos.

O link para assinaturas é o: http://www.abaixoassinado.org/assinaturas/abaixoassinado/7172.

Comments (5)

  1. Nos anos setenta nos vimos na PUC com helicópteros do exército sobrevoando o campus/os pilotis contra as manifestações que fazíamos pela liberdade e contra a ditadura. Sabemos como é precária nossa liberdade de imprensa tão monopolizada e tão comprometida com o mundo empresarial. Formar cidadãos, sobtretudo jornalistas das comunidades mais oprimidas e mais exploradas, e por isso mais pobres, para que elas construam por si mesmas outras visões sobre seu mundo é o dever mais supremo que uma instituição, como a PUC, que tanta contribuição deu à democratização da sociedade brasileira, pode dar. Não lutamos pela liberdade para silenciar os que mais precisam dela. Os alunos do curso de comunicação envolvidos nesse triste episódio na condição de ofendidos estão dando uma verdadeira aula que honra as melhores tradições da PUC. Que a direção da PUC se pronuncie publicamente diante de um fato que, com os novos meios de comunicação, já não mais pode ficar restrito aos seus muros, ainda que os alunos venham se furtando a dar declarações aos jornais sobre o episódio esperando um pronunciamento oficial que tarda. Como circula esse manifesto que por razões de minhas pesquisas junto a movimentos sociais me chegou ao conhecimento e após acompanhar todo o debate que já se faz publicamente, me sinto na obrigação de me pronunciar seja como pesquisador sempre envolvido com a luta por direitos e como ex-professor da PUC que jamais deixou de se sentir parte dessa comunidade. Que os sentimentos maiores de justiça mais sentidos pelos mais oprimidos ilumine os atuais dirigentes da PUC.
    Dr. Carlos Walter Porto-Gonçalves.

  2. Acompanho este absurdo desde o início.Os Deputados Paulo Ramos e Cidinha Campos já conhecem.Divulguei carta nos Jornais.O manifesto já foi lido em outros países.Demissão já para a Marilia Martins.

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