Justiça ambiental e justiça climática: Para quê e para quem?

Jean-Pierre Leroy*

Em 2002, foi realizado no Brasil um encontro que juntou, vindo do Brasil inteiro, pesquisadores, educadores, lideres, pessoas atingidas na sua saúde, nas suas posses, na sua vida, por algum empreendimento. Este encontro deu nascimento à Rede Brasileira de Justiça Ambiental.  A declaração dos participantes definiu Justiça ambiental e injustiça ambiental. É fácil entender o que é a injustiça ambiental. O desenvolvimento produz muitos impactos: contaminação do ar, do solo e das águas; invasão do litoral, dos rios, da terra, etc. E quem sofre esses impactos? Os trabalhadores de fábricas e os que moram ao redor, os atingidos por barragens, os pescadores… A lista é longa. Permitiu-nos definir a injustiça ambiental como “a condição de existência coletiva própria a sociedades desiguais onde operam mecanismos sociopolíticos que destinam a maior carga dos danos ambientais do desenvolvimento a grupos sociais de trabalhadores, populações de baixa renda, segmentos raciais discriminados, parcelas marginalizadas e mais vulneráveis da cidadania”. E, ao contrário, entendemos por justiça ambiental “o conjunto de princípios que asseguram que nenhum grupo de pessoas, sejam grupos étnicos, raciais ou de classe, suporte uma parcela desproporcional de degradação do espaço coletivo”.

Trazendo esse raciocínio sobre injustiça ambiental para as conseqüências do câmbio climático, está claro que afeta potencialmente a todos, mas, desde já, uns estão sendo e serão mais afetados do que outros, por morar em áreas de risco, por perder suas fontes de renda, por não ter condição de reconstruir suas vidas no mesmo lugar ou de migrar para outra área em condições que lhes permitem a mesma qualidade de vida. O Nordeste será atingido duramente, mas já sabemos que os pobres têm bem menos chances de enfrentar secas prolongadas e chuvas catastróficas sem perder tudo.

Globalmente, os países mais pobres e os ditos emergentes são vítimas de injustiça climática por parte dos países industrializados que, historicamente, são os primeiros responsáveis por nos levar a essa situação. Mas, por sua vez, os países pobres e emergentes não podem se eximir das suas responsabilidades, primeiro porque governos, setor privado e boa parte das suas sociedades buscam copiar o mesmo modelo e, segundo, porque repetem no seu interior as desigualdades “Norte-Sul”.

Desde já, importa estar atentos, além das injustiças ambientais, às injustiças climáticas, para que o direito de cada uma e cada à alimentação, à água, ao trabalho, à uma vida digna não esteja mais uma vez negado pelos que detêm o poder econômico e político e produzem e perpetuam a desigualdade.

*Jean Pierre Leroy é sócio da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – Fase, francês, atualmente, vive no Brasil militando pela causa ambiental há 40 anos.

http://www.portaldomar.org.br/blog/portaldomar-blog/categoria/opiniao/justica-ambiental-e-justica-climatica-para-que-e-para-quem

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